— Não.. não...Humberto... — passei a mão no rosto, as lágrimas descendo sem controle. — Eu sei que você tá nervoso. Eu também tô, tá? Tudo isso me pegou de surpresa também. Mas eu não tenho culpa disso acontecer.
Dei alguns passos na direção dele, o coração disparado.
— Vamos conversar, se acertar... criar essa criança juntos. Eu trago minhas coisas pra cá, a gente mora junto. Vamos ser só eu e você. O que passou a gente deixa pra trás.
Ele se virou, os olhos cheios de raiva.
— Tá louca, cara? Tá louca? p***a! — gritou, me empurrando forte e eu caí sentada no sofá.
O corpo bateu, e ele veio pra cima, apontando o dedo na minha cara.
— Coloca uma p***a na tua cabeça doente. Porque é isso que tu é, DOENTE! — gritava as palavras, o rosto a centímetros do meu. — Tu é podre, nojenta, porca! Eu tenho nojo de tu, Alícia! Nojo!
Meu corpo todo tremia. Eu tentava entender o porquê disso tudo tá acontecendo, mas eu não conseguia entender.
— Toda vez que eu te tocava, eu te tocava com nojo, p***a! Eu só te aguentei até hoje porque eu precisava de tu.
— Quê? — minha voz saiu baixa, o coração se partindo em mil pedaços.
— Foi graças a você que eu consegui manter teu pai na cadeia — ele se aproximou mais — foi graças a você que eu consegui as informações que eu precisava. E foi graças a você que eu consegui botar teu irmão atrás das grades.
Meu estômago revirou. Deu ânsia..
— Você... — tremi, chorando muito. — você tá mentindo... não tá?
Ele deu uma risada alta.
— Mentindo? tô mentindo, não. Eu nunca gostei de tu. Te usei. Eu sempre amei outra pessoa, sempre pensei nela. Inclusive todas as vez que eu trepei contigo, eu tava pensando nela. Se não meu p*u nem subia pra tu.
As palavras dele eram capazes de me destruir.
Eu preferia que ele me desse um tiro do que ouvir todas aquelas coisas.
— Se tem uma pessoa que merece ser mãe de um filho meu, é ela. Não tu. Tu não merece p***a nenhuma.
— Quem é ela?— gritei, a voz saindo com dificuldade. — Seu escroto, seu nojento!
— Me chama do que tu quiser — respondeu, virando as costas — contando que tu vá embora daqui.
— Eu não tenho pra onde ir! — gritei, me levantando, cambaleando até ele. — Eu não tenho dinheiro, meu pai me expulsou de casa por tua culpa! Por tua culpa eu perdi tudo! Eu não tenho casa, não tenho nada! Vou fazer o quê com essa criança?
Ele virou devagar, os olhos frios.
— Já te falei. Acaba com isso. Mas se não quiser acabar, então espera nascer e joga fora. Coloca na porta de alguém, entrega pro orfanato, joga no rio, faz o que tu quiser. Mas não conta comigo por nada.
— Meu Deus... — levei as mãos à boca. — Como você pode falar isso?
Ele se inclinou um pouco pra frente, as mãos nos bolsos.
— Quando eu voltar, não quero sentir teu cheiro aqui. Tu vai pegar tudo que é teu e vai vazar. Nunca mais vai bater na minha porta, ouviu? Vai esquecer meu telefone, vai esquecer meu nome, vai esquecer que eu existo.
Me levantei devagar, a voz saindo em soluços.
— Humberto... por favor...
— Cala a boca! — gritou, o rosto vermelho. — E se eu chegar aqui e ver qualquer rastro teu, eu te entrego pra polícia na hora. Minto que tu vende droga junto com teu pai, e pode ter certeza que tu vai ser presa por envolvimento no tráfico.
— E aí eu quero ver tu ter essa criança na cadeia — falou, como se não fosse nada.
Fiquei paralisada. Chocada com a frieza dele.
Ele abriu a porta e foi saindo.
— Some da minha casa.
Saiu e bateu a porta.
— Humberto… — sussurrei, mas ele já tinha saído.
Desabei e o choro veio com tudo.
Gritei, me soquei e me joguei no chão, chorando, com as mãos na barriga.
— E agora? — soluçava. — O que que eu faço?
Olhei pro chão e vi o papel amassado. Peguei ele e abracei, me acabando de chorar, encolhida no tapete.