Capítulo 7

933 Words
Alicia — Tchau, mãe, volto mais tarde. — me despedi da minha mãe, dando aquele sorriso que eu sempre usava quando queria que ela não desconfiasse de nada. Assim que atravessei a porta da sala pra rua, o celular começou a vibrar dentro da bolsa. Eu já sabia quem era. Tirei rápido, deslizei a tela e só atendi quando estava completamente fora de casa, longe dos olhos curiosos de qualquer um. — Já tô saindo, amor... — falei baixo, quase em sussurro, olhando pros lados. — Só vou deixar meu carro na revisão e depois passo aí, tá? Do outro lado, a voz dele veio mansa, mas não deixei transparecer nada na minha expressão. — Tá bom. Tô te esperando. Sorri sozinha. — Beijo — Beijo. Guardei o celular na bolsa, respirei fundo e fui em direção ao meu carro. Entrei, liguei o motor e fui direto pra oficina. Enquanto dirigia, um frio corria pela minha barriga. Eu sabia que não podia estar fazendo aquilo, mas ainda assim… fazia. Deixei o carro, peguei um aplicativo e segui viagem. O caminho era longo, e eu aproveitava pra ficar ouvindo minhas playlists de música. Quando finalmente o carro parou, ele já estava lá, na porta de casa, me esperando. Meu coração disparou só de vê-lo. Desci, caminhei até ele que segurou meu rosto e me beijou na boca. — Que saudade... — ele disse, colando a testa na minha. — Também tava com saudade... — sorri de leve, entrando junto com ele. — Demorou pra c*****o, linda. — falou mirando os meus olhos. — Peguei um trânsito infernal pra chegar até aqui. — revirei os olhos, encenando como se fosse um detalhe banal. — Ainda tive que deixar minha mãe no consultório antes, tu sabe que ela é médica, sabe como é... Ele assentiu, acreditando. . — Ah, sim. Claro. — respondeu, voltando a me beijar. Sorri, mas por dentro a consciência me julgava horrores. Eu sabia muito bem que cada palavra que saía da minha boca era uma mentira. Menti pra ele sobre absolutamente tudo: meu nome, onde eu moro, o que eu faço quando não estou com ele, até sobre a minha familia. Menti por medo de que se ele descobrisse que eu moro no alto do morro e que eu carrego o sobrenome que carrego, tudo acabasse. O Humberto é policial militar e tá pra entrar no BOPE. Consegue entender o porquê eu não posso contar tudo agora? Ele odeia o mundo de onde eu venho e sem contar que ele é o tipo de inimigo que o Iago jamais permitiria que chegasse perto de mim. A dois meses eu vivo nesse conflito. Desde que a gente se conheceu através de amigos em comum e nunca mais nos separamos. É eu sei que pode parecer muita loucura... mas eu sinto que amo ele e que ele me ama. Não consigo mais viver sem ele e nem ele sem mim. Posso parecer estar sendo ingrata com os meus pais, eu sei que sim. Posso estar brincando com a sorte e colocando tudo a perder só por ceder aos meus sentimentos . Mas quem é que manda no coração? Quem consegue controlar quando ele decide bater mais forte por alguém? O que me mantém tranquila é que eu tenho certeza absoluta de que quando eles conhecerem o Humberto vão enxergar nele o mesmo que eu enxergo. Que ele é um homem bom, respeitador, me trata com carinho e é uma ótima pessoa. Quem não quer ver a felicidade dos filhos? Se eles realmente me amam, se o amor que eles dizem sentir por mim é do tamanho que eles falam, então teram que aceitar ele. Porque essa é a minha escolha. Fiquei o dia inteiro com o Humberto, só larguei dele pra correr pra faculdade. Mas quando eu tava voltando pra casa, dei de cara com o Iago no meio do beco. Ele falou tanta coisa que me deixou nervosa… eu sei que, se um dia ele descobrir do Humberto, antes deu contar a verdade. Ele me mata só pela mentira que contei. E não é força de expressão, não. Ele me mata mesmo. Cheguei em casa com a cabeça fervendo, sem saber se conto logo ou se espero mais um pouco. Porque mentir pra minha mãe é o que mais me dói. Abri o portão e lá dentro estavam o tio RD, a tia Ágata e… meus pais. Meu coração quase parou. Meu pai. Tava ali. Sentado na mesa da nossa casa. Eu não pensei em nada. Joguei a bolsa na espreguiçadeira e corri, quase caindo na piscina, até cair nos braços dele. Ele se levantou na mesma hora, me esperando de braços abertos. Quando me agarrou, eu desabei. Chorei, soluçando, enquanto ele passava a mão no meu cabelo do jeitinho de sempre fazia como quando eu era criança. Eu só conseguia agradecer a Deus. Meu pai, de volta. Minha família reunida. A gente ficou colado, grudado, sem querer soltar. Quando enfim nos afastamos, os olhos dele também estavam cheios d’água. — Mas tu cresceu pra c*****o… — ele disse, sorrindo. — Tá linda. Linda igual a tua mãe. — e me girou pela mão. Eu sorri no meio do choro, apertando a mão dele. — O senhor que tá lindo. Nem acredito que tá aqui… Te amo, pai. — Tô, graças a Deus. E agora nunca mais nós vamos se afastar. Prometo pra vocês. — falou, me puxando de novo pro lado dele. E eu, toda boba, fiquei grudada nele, sentindo o peito explodir de amor. Eu sou apaixonada pelo meu pai.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD