Eu estava deitada no sofá da grande casa. Paul ajeitava algumas coisas, estava vestindo apenas short e chinelos. Se sentia realmente em casa como se não tivesse uma garota sequestrada em seu sofá.
– Paul? – O homem olhou para mim. Estava pegando alguns documentos em um cofre.
– Diga, boneca. – Falou.
– Afinal, o que você é? Você disse que era líder da máfia russa, mas... Eu imaginava isso como algo diferente. – Ele soltou uma risada para si mesmo.
– A máfia russa tem um monte de líderes. Eu lidero a parte das cobranças. – Respirei fundo ao ouvir. – Basicamente, eu mando matar, sequestrar ou simplesmente dar uma surra nos caloteiros. Depois que eu assumi, precisei fazer isso poucas vezes... – Ele riu mais uma vez para si.
– Porque você é c***l. – Afirmei.
– Porque eu consigo os pagamentos, de um jeito ou de outro. Não tem a ver com crueldade... Você acha que estou sendo c***l com você? – Ele ergueu as sobrancelhas e foi se aproximando do sofá.
– Não. Mas ainda me mantém presa aqui. – Ele deu os ombros.
– Culpe seu pai. Liguei para ele de madrugada e ele disse que "iria ver", mesmo sabendo que você está comigo e correndo perigo. – Arregalei os olhos e me sentei no sofá.
– Como assim? Ele não ficou triste? Paul!
Eu estava revoltada. Ao mesmo tempo que estava com raiva do meu pai, eu sentia medo do que podia acontecer comigo. Então, lembrei do que Paul havia dito. Talvez ele tivesse algum interesse em mim, por isso, senti que devia me aproximar dele de alguma forma.
– Eu sinto muito, querida. Parece que a princesinha dos olhos do papai, não vale sete milhões. – Fechei meus olhos e respirei fundo.
– Meu pai é um i****a. – Falei. – Você vai me matar, então?
– Por enquanto, não. Você ainda assim é minha garantia de recebimento. – Passei minhas duas mãos por meu rosto e cabelos, e decidi ir até o quarto para ficar sozinha um pouco.
Não sei por quanto tempo chorei, mas chorei muito. Eu estava decidida a viver, mas pelo visto, meu pai não se importava.
Já a noite, comecei meu plano. Eu conquistaria o Paul na intenção de me salvar. O faria sentir empatia por mim, se identificar comigo... E se eu conseguisse, talvez ele não me matasse em troca da dívida imensa do i****a do meu pai. p***a, quem não paga a máfia russa? Ele é i****a demais...
Desci as escadas e assim que cheguei, vi Paul cozinhando o jantar.
– Oi, Paul. – Falei.
– Do que precisa? – Eu me aproximei dele, o observando.
– Já que estamos aqui... Por que não conversamos um pouco? Por que não me fala um pouco da sua vida? – Talvez tenha sido uma pergunta i****a, considerando que ele é um mafioso.
– Na verdade, se eu te contasse o que faço, teria que te matar. E não é minha intenção. – Não foi isso que ele me fez acreditar há horas atrás.
– Paul... Eu não tenho medo de você ou do que vou ouvir. Vamos conversar, estou morrendo de tédio... – Acho que de tanto eu insistir, ele cedeu. Colocou a carne que estava fritando em um prato e um pedaço no outro, empurrando-o para mim. Depois, tirou uma bandeja com legumes assados do forno e também me serviu.
– Vamos lá. Eu cresci nesse mundo, vivi assim minha vida inteira. Meu pai comanda o tráfico de armas... E eu comando as cobranças. E é isso. Eu não tenho muito o que falar sobre mim, porque eu basicamente faço apenas isso. Cobrar pessoas, sequestrar pessoas, blablablá. Você deve estar se perguntando... Se eu gosto disso. – Ele cortou um pedaço da carne e colocou na boca. Parecia um pouco irritado. – E não, eu não gosto. Sabe do que eu gosto? De cozinhar, de ficar sozinho e de silêncio.
– Isso foi um tipo de indireta para eu calar a boca? – Ele sorriu ao me ouvir.
– Na verdade, eu acho você uma pessoa agradável. É a primeira pessoa que eu acho agradável em muito tempo. Entenda, boneca, eu vivo em um mundo muito chato e agressivo. Sua presença me trouxe um pouco de doçura. Agora, experimente a carne. – Eu prontamente cortei um pedaço e experimentei. Aquilo estava realmente uma delícia.
– Você devia ter seguido uma carreira na culinária. É a melhor carne que já provei. – Não exagerei. Estava realmente gostoso.
– Convença meu pai e eu te dou todo meu dinheiro. – Ele disse, soltando uma risada.
– Eu senti desde o começo que você não era um cara mau. Você não faz parte desse mundo, Paul. – Ele respirou fundo.
– Eu matei vinte e duas pessoas. Ainda acha que não faço parte desse mundo? – Dei os ombros.
– Acho que se você as matou, elas mereceram. Sinto que você não teria coragem de me matar, por algum motivo... – Ele colocou mais um pedaço de carne na boca.
– Olha, eu não te sequestrei na intenção de te matar. Mas eu não sabia que seu pai era tão filho da p**a. Eu preciso que ele pague, não importa como. – Concordei com a cabeça.
– Se ele não pagar, tenho uma proposta para você. – Ele ergueu as sobrancelhas.
– Estou ouvindo.
– A coleção de quadros do meu pai vale muito mais que sete milhões. Só uma obra de DaVinci vale três milhões e meio. Se ele não pagar meu resgate... Eu facilito o roubo de não apenas uma, mas todas as obras. Entenda, eu quero viver, e se ele não pagar a dívida dele, vou fazer pagar de um jeito ou de outro... Não vou dar minha vida por sete milhões.
– Garota esperta. Negócio fechado. Se bem que, se você acha que valem bem mais... Talvez, agora, eu esteja muito mais interessado nisso do que no pagamento. – Acho que falei demais. Que droga.
– Não vou facilitar o roubo se ele pagar o que deve. É uma situação crítica, por isso a proposta. – Falei. Ele deu os ombros.
– Poderia te dar metade do dinheiro que conseguisse no mercado n***o. – Neguei com a cabeça.
– Já tenho tudo que quero. Obrigada.
Terminei o jantar e fui até a sala. Eu não achei Paul um homem malvado ou coisa do tipo, muito pelo contrário. Ele parecia não se encaixar nesse mundo, como se estivesse ali por pura obrigação.