Eu estava sentada na cama do quarto onde fico, quando ouvi um barulho de carro. Olhei pela janela e vi alguns homens descendo de um grande carro SUV, e logo ouvi Paul gritar do andar de baixo.
– Fique aí em cima! – Berrou.
O que eu ouvi a seguir, foi tenebroso. Contei ao menos sete caras descendo daquele carro, todos eles mau encarados e dispostos a matar com apenas um olhar...
Eu fechei a porta do quarto e empurrei uma cômoda na frente dela, rezando a Deus para que me protegesse. Seja lá quem fossem, estavam ali por Paul, não por mim, e disso eu sabia. E aparentemente, ninguém lá embaixo estava feliz... Era uma gritaria em russo que eu não conseguia entender, socos, e eu temia por minha vida.
Comecei a ouvir tiros. E não eram poucos, eram muitos. Parei de contar quando ouvi dezesseis, e isso me deixou tão nervosa que senti vontade de vomitar. Quando o tiroteio finalmente parou, corri e olhei pela janela, e não vi ninguém. Mas comecei a ouvir passos pela escada... E aquilo me deu muito medo.
Eu estava vestindo um conjunto de moletom branco, com o cabelo amarrado. Preciso dizer que ele era branco, porque o que aconteceu a seguir, foi literalmente bizarro.
– Becca... – Ouvi, por trás da porta. Algo grande caiu no chão e presumi que fosse Paul.
Arrastei a cômoda da frente da porta, com dificuldade, e assim que abri a porta, vi Paul caído no chão. Ele estava vazando sangue pelo ombro e com vários machucados pelo corpo inteiro.
– Paul! – Eu me abaixei e coloquei as mãos nele, sem pensar muito. Foi meio que automático enfiar as mãos no buraco que sangrava e tentar estancar o sangue. Tirei meu moletom branco e pressionei contra o ombro ferido, o olhando de forma desesperada. Ele ria. – Mas que p***a você tá rindo?
– Isso é só um dia r**m comum no meu trabalho. – Ergui as sobrancelhas. – Não vá lá embaixo... Oh, p***a, o kit médico está lá. Bom, deixa que eu desço.
– Não! Você tá todo fodido! Eu vou buscar. Onde está? – Ele deu os ombros.
– No armário acima da pia. – Concordei com a cabeça. – Cuidado pra não escorregar lá embaixo.
Não entendi o motivo da fala dele no início, mas entendi assim que desci as escadas correndo, na pressa, e não vi uma poça de sangue que se formava por causa de um dos sete homens mortos ali. O cadáver ao pé da escada deixou uma poça imensa, e eu escorreguei nela. Caí com tudo no chão e sujei calça, mãos e costas. Foi literalmente um banho de sangue. Se fosse qualquer pessoa com medo de sangue, teria desmaiado na hora.
Levantei e fui até o kit médico. Eu tentei não olhar muito para o sangue, os homens mortos, e pensei em ajudar o Paul... Mas eu olhei para fora e vi o carro.
Um dos homens devia ter a chave, não devia?
Olhei para todos eles. Eram sete chances em uma. O Paul estava no andar de cima muito machucado... Então decidi fuçar nos bolsos do primeiro morto.
No primeiro, não achei nada. No segundo, também não. Mas no terceiro... Um molho de chaves de carro brotou do bolso, e eu senti meu coração pulsar de esperança.
Eu realmente ia fugir... Ou foi isso que eu achei.
– O que você tá fazendo, Becca? – Olhei para a escada, e Paul estava lá, apoiado no corrimão. – Não seja i****a.
– Eu... Desculpa. – Falei. Olhei para baixo e Paul suspirou.
Escolhi lutar por mim mesma. Corri feito uma maluca para a porta de saída, e Paul veio atrás de mim. Enquanto eu estava tentando abrir o carro, ele me agarrou por trás e arrancou a chave da minha mão, a jogando no chão e me imobilizando. Ele segurou minhas duas mãos para trás e encostou meu rosto no veículo, sem muita força.
– Não me obriga a ser violento com você, Rebecca. Pelo amor de Deus. Você sabe que eu não posso te deixar ir, p**a que pariu! –
Comecei a chorar imediatamente. Ele tirou uma faca de dentro do bolso, me soltou e pegou de volta as chaves. Achei que ele iria me esfaquear, jurei que eu morreria ali... Mas ele esfaqueou os dois pneus laterais.
– Por que tá fazendo isso? – Limpei minhas lágrimas com as duas mãos.
– Porque eu preciso do dinheiro, c*****o! Eu não quero morrer também! Eu sou responsável por essa merda, e se você quer saber, Rebecca, você só está viva porque eu matei esses sete filhos da p**a! – Arregalei os olhos.
– Do que você tá falando? – Questionei. Ele negou com a cabeça e veio em minha direção.
– Eu tô ganhando tempo pro filho da p**a do seu pai. Eu não quero matar você, mas a máfia quer você morta por causa do teu pai!
Eu, uma pianista de 19 anos, filha de um verdadeiro filho da p**a, estou na mira da máfia por causa de uma dívida que não é minha.
– E o que eu faço agora? Eu quero minha vida de volta! – Paul arremessou a faca longe e sentou no chão, colocando a mão no ombro.
– Você vai ter quando teu pai pagar. Eu ainda tô tentando fazer esse i*****l ter um pouco de consciência, mas ele é um filho da p**a! Rebecca, por favor, pega o kit médico, eu tô com um tiro no ombro c*****o!
Concordei com a cabeça e corri para dentro, dessa vez, tomando cuidado com as poças de sangue. Eu estava tão atormentada com tudo que pulei um cadáver sem nem ligar.
Peguei o kit médico e voltei até Paul, o ajudando a remover a camiseta e estancar o ferimento. A bala atravessou, e segundo ele, isso era bom, não foi um ferimento feio. O ajudei fazendo o curativo e assim que terminei, me vi sentada ao lado do meu sequestrador, com o moletom branco completamente ensanguentado, e pensando no que eu poderia fazer para retomar minha vida.
– E os quadros, Paul? Você acha que daria certo? – Paul estava sentado do meu lado. Ele respirou fundo.
– Tudo que eu menos preciso no momento é planejar um assalto. Mas sim, daria certo.
– Eu quero fazer. – Ele soltou uma risada debochada.
– Se você limpar minha casa, eu planejo isso para você. – Eu o olhei indignada.
– Você quer que eu me livre dos corpos das pessoas que você matou? E eu vou enfiar aonde, no seu cu? – Respondi, completamente p**a. Ele caiu na gargalhada.
– É só uma piada. Já chamei o serviço de limpeza. Mas quando eu disse que você estaria morta se eu não tivesse matado esses caras, eu tava falando sério. São capangas de quem quer o dinheiro do teu pai. Eles vieram finalizar o serviço. – eu abracei minhas próprias pernas.
– Onde foi que eu me enfiei?
– Você caiu no inferno sem querer, boneca. – Ele me respondeu.
Era isso que eu sentia... Que realmente estava no inferno.