Capítulo 6 – Quando uma mãe chora

1355 Words
Hannah ainda sentia os lábios formigando. O beijo tinha acabado há segundos, mas o corpo inteiro parecia preso no calor dos braços de Cauã. Ele a segurava firme, com aquele olhar que sempre a desarmava — como se o mundo pudesse acabar e ele ainda teria tempo pra se perder nela. — Eu nunca joguei justo gatinha. Ele sussurra causando arrepios nela. Jonah chegou logo atrás, rindo, cumprimentando os primos, e ela se apressou em se soltar. O coração batendo forte, o rosto queimando. “Eu não deveria me permitir ser afetada assim… não depois do que ele fez”, pensou, ajeitando o vestido enquanto respirava fundo e se afastava dele. A casa estava cheia. Música tocava no rádio antigo da tia Gracinha, o cheiro de arroz, farofa e carne assando tomava o ar. Crianças corriam pelo quintal, risadas vinham da varanda, e o som das panelas na cozinha se misturava às vozes altas da família. Era uma noite simples — mas feliz. E, no meio da bagunça, Hannah olhou ao redor e pensou que, por um instante, tudo parecia em paz. Os filhos foram os primeiros a notar Cauã chegando. Aaron correu e se agarrou às pernas dele, o rosto iluminado. — Pai, você tinha que ver o gol que eu fiz hoje! Yohan apareceu logo atrás, animado: — Foi irado, pai! O mano fez o gol e eu tava de goleiro, nenhuma bola passou por mim! Parecia um ninja! — ele riu, fazendo uns golpes no ar. Cauã bagunçou o cabelo dos dois e respondeu com um sorriso orgulhoso: — Meus campeões! — e, virando-se, chamou — Cadê minhas duas princesas lindas? Yume e Ava vieram correndo, as duas rindo, os cabelos voando. Ele se abaixou pra abraçá-las, recebendo beijos estalados no rosto. A pequena Yume falou com a voz doce: — A mamãe disse que você ia vir, mas eu achei que não vinha mais. Ele apertou a filha no colo, os olhos marejando sem perceber. — Eu sempre volto pra vocês, minhas princesas, papai sempre vem! Hannah observava tudo. O jeito dele com as crianças partia o coração. Ele tratava os quatro iguais, mesmo sabendo que dois não eram dele. Aaron e Ava eram filhos de Samael — mas pra Cauã, eram dele também. Aquela imagem — todos juntos, rindo — dava uma ponta de esperança. “Mesmo sem aceitar a vida que ele leva… eu ainda o amo. E Ainda vou conseguir salvá-lo”, pensou. A noite seguiu leve. A mesa farta, as conversas atravessando o quintal, Gracinha e Mayara rindo, felizes por verem os filhos juntos. Gracinha parecia bem naquela noite — apesar da saúde frágil, o riso dela enchia a casa. Por algumas horas, ninguém pensou em perigo, em tráfico, em polícia. Era só família, comida e música. Mas o tempo passou, e a noite caiu devagar sobre o morro. As crianças começaram a bocejar, e Hannah se levantou. — Vamos, hora de dormir. Cauã se ofereceu pra ajudar, e ela, meio relutante, concordou. Subiram juntos, e o silêncio entre eles era denso — cheio de tudo o que não conseguiam dizer. No quarto, ele esperou enquanto ela cobria cada um. Ava dormia abraçada na boneca. Aaron, espalhado na cama, sonhava alto. Yohan e Yume dividiam o mesmo travesseiro, as mãozinhas entrelaçadas. Cauã passou a mão devagar no cabelo da filha caçula e murmurou: — Eles são o que eu tenho de melhor nessa vida, amor. Ela o olhou, o coração apertando. — E você é o que mais me machuca. Ele sorriu triste. Desceram. A sala estava em meia-luz, a música já baixa. Antes que ela pudesse ir pro terraço, ele a puxou pelo braço. Hannah tropeçou e caiu no colo dele no sofá. — O que é isso? — ela riu, o corpo já colado ao dele. Ele aproximou o rosto, o olhar carregado de desejo. — Eu quero você. Ele diz com a voz rouca. — Cauã… — tentou resistir, mas já sentia o corpo trair a razão. As mãos dele deslizaram pela cintura dela, subindo devagar. Ele começou a beijar o pescoço dela, e o corpo dela respondeu em ondas, os arrepios se espalhando. Ela gemeu baixo, tentando conter o som. Ele sabia o que fazia — cada toque, cada movimento era calculado, viciante. Ela abriu as pernas e sentou-se de vez no colo dele, os lábios grudados, o beijo urgente, o coração acelerado. Ela se esfregou contra ele, sentindo o m****o rígido pressionar a coxa. — p***a, vida… assim é maldade — ele murmurou entre gemidos. Ela riu, mordiscando o lábio dele. Estava quente, molhada, entregue. O beijo se intesificou , as mãos dele agora a agarravam pela b***a dela já em baixo do vestido, ela se esfregava nele , seu corpo se lembrava e se entregava , cada todo dele trazia ondas de arrepios pelo corpo dela, a língua deles dançavam em sincronia, o gosto dele invadindo ela e então um barulho a tirou do transe. O som do rádio na cintura dele cortou o ar. — Chefe, tudo no esquema. Podemos começar a operação. A carga já tá na rota. O corpo de Hannah parou, o fôlego preso. O coração disparou de novo — mas agora de medo. Ela se levantou rápido, o rosto confuso, o peito apertado. — Que operação, Cauã? — a voz dela saiu trêmula. Ele passou a mão no rosto, irritado. “p***a eu quase… eu quase consegui”, pensou. — Nada demais, amor. Só trabalho. — Trabalho? — ela repetiu, a raiva subindo. — Vocês acham isso de trabalho? Jonah apareceu na porta, já com o boné virado e o semblante sério. — Bora, parça. Tá na hora. Hannah virou o rosto pra ele, desesperada. — Aonde vocês vão? O que tá acontecendo? Cauã tentou tocá-la, mas ela recuou. O gesto o fez engolir em seco , a segundos ela estava totalmente entregue a ele e agora o afastava. Era c***l. — Relaxa, amor, é só trabalho. Não se preocupa. — Como não me preocupar?! — a voz dela quebrou. — E se vocês não voltarem? Como a gente fica aqui, sem saber? As vozes chamaram atenção. Mayara e Gracinha vieram da cozinha. — O que tá acontecendo? — perguntou Mayara, já percebendo a tensão. — Por que Hannah tá assim? Hannah olhou pra elas, o rosto coberto de lágrimas. — Por favor… seja lá o que for que vocês vão fazer, não vão. Vocês sabem como é horrível pra mim isso? Ela chorava, as palavras saindo entre soluços. — Quando vocês saem assim eu nem durmo. Cada vez que o celular toca eu acho que é alguém me ligando pra dizer que vocês… — ela pôs a mão na boca, incapaz de terminar. Jonah suspirou, os olhos marejando. Ele odiava ver a irmã assim, mas aquela vida era tudo o que restava pra ele. Se aproximou, abraçou-a e beijou o rosto dela. — Vai ficar tudo bem, abelhinha. Gracinha também chorava. — Por favor, meu filho… eu não aguento mais orar pra Deus te proteger toda vez que você sai. Mayara segurou a mão de Cauã, tremendo. — Filho, não vá. Deixa que eles vão. Eu te imploro, é perigoso… Mas nenhuma súplica bastou. Cauã abraçou as duas, apertou Hannah contra o peito e sussurrou: — Eu volto. Eu prometo. Ele e Jonah saíram pela porta, o som das botas ecoando no chão. A família ficou parada, o silêncio pesado. Do portão, o primo de Hannah, emocionado, os chamou: — Que Deus proteja vocês, irmão. — Valeu — responderam em uníssono. Cauã olhou uma última vez pra trás. Ali estava tudo o que ele amava: Hannah, sua mãe, sua irmã, a tia Graça, e os filhos dormindo no quarto. Seu mundo inteiro cabia naquela casa. Enquanto desciam as escadas do morro, Jonah comentou, em voz baixa: — Cê viu o jeito que elas tavam, né? — Vi. — respondeu Cauã, com o olhar perdido. — E é por isso que a gente tem que voltar. Mas no fundo, ambos sabiam. Aquela podia ser a última vez que elas veriam os dois vivos.
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