04 - Serpente

1048 Words
Serpente Narrando Mano, vou te falar, a vida da gente nunca é cem por cento sossegada, sempre tem uns pepinos que caem no meu colo. Hoje mesmo, achei que ia colar na boate só mais tarde, curtir na moral, mas antes de meia-noite já tinha bronca rolando. Quando meu telefone tocou e falaram que tinha dado ruïm lá dentro, eu sabia que só eu mesmo ia resolver. Cheguei no asfalto püto, mas já focado. O problema era o seguinte: uns playboyzinho querendo bancar os donos do pedaço, tentando passar a perna na comanda, não pagar garrafa que já tinham estourado. Pra piorar, arrumaram confusão com um dos seguranças. O clima já tava pegando fogo, gente filmando, gritaria. Isso é o tipo de coisa que acaba com a fama do lugar se não tiver pulso firme. Desci do carro, já entrei botando moral. O segurança veio na minha direção, meio sem saber se me explicava ou se deixava eu resolver. Eu falei logo: — Tranquilo, deixa comigo, parceiro. Fui na sala onde os moleques tavam, olhei um por um. Eram quatro, todos cheios de tatuagenzinha mäl feita e cordão falso brilhando. Um deles tentou bancar o malandro, levantando a voz: — A gente não vai pagar nada, não. Aqui ninguém manda na gente. Dei risada, na boa, mas já pronto pra estourar se fosse preciso. — Cês tão de sacänagem comigo? Aqui é minha casa, irmão. Quem manda sou eu. Se quiser curtir, paga e respeita. Se não, a porta tá logo ali. Um deles tentou bater de frente, mas eu não discuto muito nessas horas. Segurei firme no ombro do cara, abaixei a voz e falei no ouvido dele: — Tá achando que vai sair daqui de graça? Vai nada. Ou paga, ou vai sair carregado. Decide logo. - Levantei a camisa e deixei ele ver a peça. O moleque arregalou, olhou pros amigos, e logo puxou o cartão. Pagaram tudo caladinho, e eu ainda mandei trazer mais uma garrafa, por conta deles. Falei pros seguranças jogarem essa bebida em outra mesa, pra quem realmente merecia. Moral tem que ser dada a quem sabe se comportar. Quando a poeira baixou, chamei o Caçula pra trocar ideia. Ele tava na parte de trás, meio preocupado. — Tá tudo certo agora, mano. — falei. — Já resolvi o B.O. — Brabo, Serpente. Sempre na linha de frente. — Não adianta, irmão. Sempre que dá mërda, só eu mesmo pra apagar fogo. Mas fica tranquilo, agora é só curtição. Alinhei os esquemas com ele, deixei tudo bem amarrado, e subi pra área VIP. Eu merecia relaxar depois da tensão. Pedi uma dose de uísque, acendi um cigarro, e fiquei de boa, olhando o movimento. Foi aí que aconteceu. Do nada, entrou uma loira, parceiro, mas não era qualquer loira. A mina parecia ter saído de uma propaganda, vestido colado, corpo de outro mundo. O cabelo brilhava, perfume dela bateu de longe. Fiquei só acompanhando os passos dela, que tava junto com uma morena igualmente gata. Duas obras de arte, andando como se soubessem que todo mundo tava olhando. Primeiro, fiquei só observando. Analisei bem. Tinha que entender se elas eram casal, irmãs, amigas, sabe como é, eu não entro em terreno sem saber. Mas percebi que não tinha nada de casal ali, só aquela energia de duas minas que se completam, cada uma com seu estilo. Decidi na hora: vou chegar junto. Levantei devagar, com confiança. Fui até a loira. Quando ela virou o rosto e me olhou, sorriu de canto. Cheguei firme, sem enrolação: — Boa noite, posso me apresentar? Meu nome é Leandro. Ela riu leve, com aquele brilho no olhar. — Key. — disse, e estendeu a mão. Apertei de leve, olho no olho. Por dentro pensei: “Carälho, essa mina é diferente.” — Satisfação, Key. — falei. — O que tá bebendo? Ela deu de ombros, meio indecisa. Chamei o garçom na hora. — Traz um drink especial pra minha amiga aqui. Ela riu de novo. — Já vai me chamar de amiga? — Se depender de mim, muito mais que isso. Ela curtiu a ousadia, não desviava os olhos. Daí o papo rolou fácil. A gente falou de música, viagem, rolê. No meio do papo, puxei ela pra pista. Dancei colado, deixei o corpo falar. O calor subiu, a música batia forte, e quando nossos rostos ficaram perto demais, não resisti. Beijei. O beijo dela, pörra, era quente, envolvente, parecia que a boate inteira tinha desaparecido. Quando abri os olhos, percebi que a amiga dela já tava com um carinha também, se divertindo. Tudo se encaixando. Olhei pra Key e falei baixinho: — Bora sair daqui, ir pra um lugar mais reservado? Ela nem pensou duas vezes. — Bora. Saímos de mão dada, entramos no meu carro, e fui direto pro motel mais próximo. A tensão já era tanta que mäl deu tempo de escolher suíte. Assim que a porta fechou, a gente se agarrou com fome. O corpo dela grudado no meu, o cheiro, o calor, foi tudo intenso demais. A noite foi uma loucura. A mina se entregou de um jeito que parecia que a gente já se conhecia fazia anos. Cada toque, cada gemido, me deixava mais vidrado. Não teve pausa, não teve descanso, só fogo. Eu me perdi nela, ela em mim. Te juro, parça, uma das melhores noites da minha vida. Quando percebi, o sol já tava nascendo, luz batendo pela janela. E eu ainda tava ali, enterrado no corpo dela, sentindo aquela energia surreal. Depois, a gente ficou um tempo deitado, trocando ideia, rindo, respirando fundo. Peguei o celular, trocamos número. Ela salvou meu contato como “Leandro” e piscou pra mim. Isso me pegou, porque no asfalto eu não sou Serpente, sou só eu mesmo, empresário, vida reta. No caminho de volta, deixei ela na frente de um prédio bonito. Parei o carro, olhei bem. — Você mora aqui? — perguntei. Ela fez que não com a cabeça, rindo. — Não, é a minha amiga. Nem deu tempo de falar mais nada. Abriu a porta, desceu rápida, só acenou com a mão e entrou no prédio. Fiquei parado, olhando, pensando: Pörra de loira gostosa do caralho... Acelerei de volta, sorriso no rosto, lembrando cada detalhe daquela noite.
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