Mais uma vez, Vágner, nosso herói, se encontrava na porta do quarto. Mesmo que estivesse tomado pelos mil pensamentos de outra hora, dessa vez ele de fato entrou e se deparou com sua namorada. Ela estava linda!
— Gaby?
— Amor! — respondeu Gaby enquanto retirava uma bandagem de sua cabeça.
Gabriela simplesmente deixou tudo de lado e se jogou nos braços de seu namorado. Teve tanto descuido que acabou puxando o acesso do soro que estava em seu braço.
— Cuidado bocó, você ainda vai se m***r assim. — brincou.
— Eu me esqueci! — reclamou.
Vágner a ajudou, pois mesmo que sua formação esteja focada em mecânica, ele já sabia mais de enfermagem do que de seu próprio TCC.
— E agora está tudo feito, mais atenção, viu? — disse.
— Perdão Sr. Dr. Namorado. — brincou fazendo careta.
Assim que terminou, Vágner lhe deu uma pequena rosa que havia guardado pra ela, além de um picolé que entrou escondido no seu bolso.
— Flor para uma flor.
— Awwwn Vágner, que historinha clichê demais, MEU DEUS! — abraçou.
Ela a segurou e ficou radiante com aquela rosa na orelha. Vágner se sentou na cadeira para admirar a beleza de sua namorada.
Gabriela é uma verdadeira donzela em perigo com longos cabelos um tanto quanto cacheados, loiros, macios e volumosos. Não há dúvidas de que ela é a própria personificação da entediada "cachinhos dourados", sendo uma sobrevivente dos pés a cabeça. Olhos vividos e brilhantes num corpo frágil, mas encantador. Buscava uma formação em Farmácia, é extremamente simpática e otimista com a vida. Som sombra de dúvidas de que ela é o sonho de consumo de qualquer adolescente e o motivo de inveja de qualquer outra jovem de sua idade. Tem apenas vinte e cinco anos de uma vida um tanto conturbada, digamos assim.
— Como está?
— Com tédio, não há nada pra fazer por aqui! — reclamou a donzela.
— Imaginei.
— E você, como está o TCC?
Vágner revirou os olhos, irritado, ele certamente detesta quando lhe perguntam algo assim.
— Indo. . . — desconversou.
— Sei...
Gabriela sabe que Vágner está sendo descuidado e irresponsável para com o seu futuro, mas não gosta de tocar no assunto, não quer desperdiçar o tempo com ele em brigas bobas.
— Sabe, acabei de almoçar, esse picolé me fará bem.
— Bom apetite. — brincou.
— Mas e você? — questionou enquanto abria o picolé.
— Eu o que?
— Está claro para mim que você não está nada bem, sabe? Não é de hoje que te vejo cheio de olheiras, o que faz quando não está comigo? Hem?
— Eu... Eu... É... Bem... — Vágner sabia que não dava para fugir.
— Você está emagrecendo, tenho certeza que não tem comido corretamente, muito menos dormido direito.
— Claro que me alimento bem! — esbravejou.
— Tem mesmo é? — questionou ela.
— Claro mulher, não há nada que um bom miojo de galinha e uma caneca café não resolvam!
— Isso não é bom! — pontuou.
Os dois se encararam sorrindo. Vágner é claramente mais feliz ao lado de sua namorada. É como se com ela, pudesse fugir da realidade sombria que vem lhe rodeando.
— Você tem certeza que ficará bem quando eu me for? — reclamou ela.
Aquelas dez míseras palavras causaram um barulho enorme nos ouvidos dele. Gabriela tem apartamentos inteiros alugados na mente de nosso protagonista.
— Pra onde cara? Você não vai para lugar algum... — desconversou sorrindo.
“ele me respondeu fugindo o olhar novamente”. — notou Gabriela.
Gabriela se aproxima de Vágner e rapidamente enfia o picolé na boca dele de surpresa.
— O que você está fazendo? — reclamou de boca cheia.
— Não reclame, é só um mimo da sua namorada, QUERIDA! — pontuou.
Gabriela tirou o picolé da boca dele o puxando pela nuca deu um daqueles beijos colantes, doces e gelados, sabe?
O coração dele acelerou enquanto o dela parecia finalmente repousar. A troca de carinhos durante pós-beijo e as caricias de amor revelavam a i********e que os dois simplesmente não tinham medo de revelar. Vágner e Gabriela realmente são como poucos casais conseguem ser.
— Eu sinto que às vezes você simplesmente não toma a iniciativa de me beijar, isso me irrita. — comentou.
— É que você está assim, sabe?
— Assim?
— É assim pô. Eu não quero parecer um t****o que fica agarrando a mulher o tempo todo. Você devia pegar mais leve comigo e contigo mesmo. — esclareceu.
— Hmmmmm, me deixa ver se entendi...
— Lá vem!
— Então quer dizer que você não quer pegar uma gostosinha como eu? — brincou Gabriela enquanto passava a mão em seu corpo.
— Você é retardada, só pode. — rebateu sorrindo.
— Perdão, é que o seu sorriso e tudo o que me diz e disse, são coisas que simplesmente não dá pra esquecer. Eu até quero acreditar no destino, mas sei que só com palavras não consigo demostrar, então ande, venha aqui. — expôs ela.
Gabriela uma vez mais o puxou para outro beijo de amor molhado e gostoso.
O casal passou por alguns minutos conversando sobre coisas do dia a dia e de como estão e sobre o que estão fazendo. Perguntas ou assuntos que toquem ou até mesmo se aproximem do COVID-19 são rapidamente descartados e tudo aquilo que seja sensível para com a doença dela, também.
É como se os dois vivessem numa bolha.
— Em que dia estamos? — perguntou ela.
— 22 de Dezembro, pô. — respondeu ele.
— NOSSA!
— Por quê?
— COMO PORQUE CARA? — exclamou.
— É porque estamos próximos do Natal, né? Logo, logo tem o ano novo de novo! — brincou.
— Não é isso, pô.
"Ela se esqueceu?" — imaginou ele.
— É que eu li num livro de mitologia grega aqui no hospital que a deusa do amor Afrodite lança uma estrela cadente na terra durante a noite de natal, e quem conseguir ver e pedir algo, terá seu desejo realizado, não importa qual, desde que se pague um preço igual, entendeu? — disse Gabriela atentamente.
Vágner começou a rir. Gabriela se irritou jogando o travesseiro nele.
— O que tem de tão engraçado nisso?
— Você do nada falando em mitologia e lendas, isso não aconteceu e não vai acontecer, tu sabe né? São apenas lendas. — comentou Vágner rindo e brincando.
Gabriela ficou séria, o seu semblante mudou.
— Desculpa, mas é que quando não temos esperança, qualquer gotinha de luz serve, sabe? — desconversou.
Vágner sem querer deixou uma torta de climão entre eles.
— Des. . . Desculpa. . .
— Não tem problema, só não me zoe enquanto falo sobre os meus deuses querido, SEU i****a! — brincou ela.
— Certo! — desculpou-se.
— A propósito, o que você iria pedir se visse, amor? — questionou ela.
Vágner encarou o teto e atentou ao chão. Uma grande interrogação percorreu a sua cabeça.
— Não consigo imaginar!
— Como não? É só um desejo pô! Algo que você sempre sonhou. — esclareceu.
— Então... Pode ser qualquer coisa, né? — respondeu Vágner.
— ÓBVIO!
"É claro que seria a sua cura". — imaginou encarando-a.
— Não consigo imaginar...
— Você não tem criatividade, não gosto de brincar com você. — cruzou os braços.
— Mas e você Gaby? Iria pedir para se curar da sua doença?
— Errado né bocó, parece que não escutou a lenda.
— Como assim? — perguntou assustado.
— Se eu desejar algo tão grande assim, eu com certeza perderei algo grande em troca.
— Hmm. . . Então o que iria pedir?
— é um segredo, eu hem! — desconversou.
A conversa estava boa, mas infelizmente logo, logo, chega a hora dele ter de ir embora, o horário de visitas não é eterno.
— Ow! — GRITOU.
Os dois se assustam.
— Casal! Me deem um tempo, chega de se agarrar, olha o COVID! — brincou Helena.
— Desculpa! — responderam em coral.
Os dois tiveram aquela troca de olhares, às carícias e o carinho tímido de sempre. Acompanhá-los é um colírio para os olhos de qualquer pessoa apaixonada.
— Estou indo, mas volto, ok?
— Eu não vejo a hora.
Vágner deu um selinho e um beijo na testa.
— Vágner? — chamou Helena.
— Sim?
— Antes de ir, tem alguém na recepção querendo falar com você, ok?
— Certo! — respondeu.
— Gaby, você fará um exame de sangue, ok? Pode tratando de se sentar aí. — comentou Helena.
— Cer. . . Certo. . .
Vágner ficou admirando sua namorada.
— Ande! O horário de visitas acabou tá achando o que? — reclamou a Doutora.
— Tá bom, tá bom!
Ao sair, Vágner notou que mesmo que ela sorrisse lhe dando um tchauzinho, mais uma vez o semblante de sua namorada havia mudado.
Ele olhou bem para seus braços, estavam um pouco roxos e ela parecia bastante debilitada.
"Ela estava com uma faixa na cabeça quando cheguei, os exames de sangue e de cabeça devem ser uma tortura pra ela." — pensou.
— Eu já vou indo, tá?
— Tudo bem... — respondeu.
Um selinho tímido os uniu novamente.
— Vocês não param não? Meu Deus! — brincou Helena.
Vágner caminhou em direção à porta enquanto ela estava indo de encontro a cama para se deitar.
— Gaby? — chamou ele.
— Sim?
— Desculpe não poder te salvar... — disse Vágner de costas para ela.
Vágner realmente não conseguia encará-la, mas Gabriela rapidamente saiu da cama e o abraçou por trás.
— Não se irrite você veio por mim.
Uma lágrima percorreu a bochecha de Vágner.
— Isso é o suficiente para mim. — sussurrou ela.
— Eu não canso de me apaixonar por você. — sussurrou de volta.
Vágner se virou e deu o melhor beijo apaixonado que um namorado consegue dar.
— E eu não me canso de confessar o meu amor por você! — respondeu ela com outro selinho.
Vágner saiu do quarto e Gaby pode finalmente desabar em lágrimas sentada em sua cama.
Helena passou a mão na cabeça dela fazendo aquele carinho que somente uma mãe consegue fazer.
— Tá tudo bem? — questionou a médica.
— Tá sim, relaxa. — respondeu prendendo o choro.
Helena se virou para a mesa para preparar seus afazeres com ela enquanto Gabriela desabava em seu próprio infinito pessoal
"Eu não aguento mais isso. Prendê-lo a mim não faz bem nem pra mim e nem pra ele. Espero muito poder ver a estrela cadente, pois só assim conseguiria pedir para que ele fosse feliz, mesmo que eu tenha de perder a minha felicidade". — pensou ela.
Helena retornou sua atenção para ela com o kit para o exame em mãos.
— O que houve minha filh... — Helena hesitou, parou a frase na metade.
— Nada. — respondeu em lágrimas.
“Parece que ela não reparou, quase deslizei em mim mesma”. — pensou a médica.
— Minha querida, eu estou fazendo o que posso, as ondas de COVID se passaram, mas o que você desenvolveu parece não ser possível tratar da maneira convencional.
— Eu sei... — respondeu com seu olhar vazio.
— Você apresenta melhora significativa antes, durante e depois de vê-lo, irei aumentar as visitas, mas até lá, não desista... Por favor... — Helena entrelaçou sua mão com a dela.
— Não desista, por mim e por ele, ok? — completou
— Ok...
— Relaxe um pouco querida.
— É que às vezes sinto que estou me perdendo e perdendo ele, sabe?
— Tudo bem se sentir assim, pois é assim mesmo. À medida que vivemos aqui, vamos nos perdendo um pouco mais.
Elas se abraçaram forte.
— Se continuar me apertando assim, vai me m***r antes da minha doença. — brincou ela.
— Perdão, vamos ao exame!
— Tá, mas me promete uma coisa?
— O que quiser filha! — brincou.
“Opa”. — pensou,
— Me conta o que tenho mais uma vez antes que eu esqueça de vez?
Helena respirou fundo antes de responder.
— Vai dar tudo certo, mas pode deixar, amanhã eu te conto depois do café, ok?
— Ok!
— Não deixe o sonho acabar, não perca as esperanças, ok? — respondeu lhe dando um abraço apertado.
Helena tem se tornado uma mãe para Gabriela desde que tudo aconteceu.
— Agora, MÃOS A OBRA!