Lágrimas

2087 Words
Mais uma vez, Vágner, nosso herói, se encontrava na porta do quarto. Mesmo que estivesse tomado pelos mil pensamentos de outra hora, dessa vez ele de fato entrou e se deparou com sua namorada. Ela estava linda! — Gaby? — Amor! — respondeu Gaby enquanto retirava uma bandagem de sua cabeça. Gabriela simplesmente deixou tudo de lado e se jogou nos braços de seu namorado. Teve tanto descuido que acabou puxando o acesso do soro que estava em seu braço. — Cuidado bocó, você ainda vai se m***r assim. — brincou. — Eu me esqueci! — reclamou. Vágner a ajudou, pois mesmo que sua formação esteja focada em mecânica, ele já sabia mais de enfermagem do que de seu próprio TCC. — E agora está tudo feito, mais atenção, viu? — disse. — Perdão Sr. Dr. Namorado. — brincou fazendo careta. Assim que terminou, Vágner lhe deu uma pequena rosa que havia guardado pra ela, além de um picolé que entrou escondido no seu bolso. — Flor para uma flor. — Awwwn Vágner, que historinha clichê demais, MEU DEUS! — abraçou. Ela a segurou e ficou radiante com aquela rosa na orelha. Vágner se sentou na cadeira para admirar a beleza de sua namorada. Gabriela é uma verdadeira donzela em perigo com longos cabelos um tanto quanto cacheados, loiros, macios e volumosos. Não há dúvidas de que ela é a própria personificação da entediada "cachinhos dourados", sendo uma sobrevivente dos pés a cabeça. Olhos vividos e brilhantes num corpo frágil, mas encantador. Buscava uma formação em Farmácia, é extremamente simpática e otimista com a vida. Som sombra de dúvidas de que ela é o sonho de consumo de qualquer adolescente e o motivo de inveja de qualquer outra jovem de sua idade. Tem apenas vinte e cinco anos de uma vida um tanto conturbada, digamos assim. — Como está? — Com tédio, não há nada pra fazer por aqui! — reclamou a donzela. — Imaginei. — E você, como está o TCC? Vágner revirou os olhos, irritado, ele certamente detesta quando lhe perguntam algo assim. — Indo. . . — desconversou. — Sei... Gabriela sabe que Vágner está sendo descuidado e irresponsável para com o seu futuro, mas não gosta de tocar no assunto, não quer desperdiçar o tempo com ele em brigas bobas. — Sabe, acabei de almoçar, esse picolé me fará bem. — Bom apetite. — brincou. — Mas e você? — questionou enquanto abria o picolé. — Eu o que? — Está claro para mim que você não está nada bem, sabe? Não é de hoje que te vejo cheio de olheiras, o que faz quando não está comigo? Hem? — Eu... Eu... É... Bem... — Vágner sabia que não dava para fugir. — Você está emagrecendo, tenho certeza que não tem comido corretamente, muito menos dormido direito. — Claro que me alimento bem! — esbravejou. — Tem mesmo é? — questionou ela. — Claro mulher, não há nada que um bom miojo de galinha e uma caneca café não resolvam! — Isso não é bom! — pontuou. Os dois se encararam sorrindo. Vágner é claramente mais feliz ao lado de sua namorada. É como se com ela, pudesse fugir da realidade sombria que vem lhe rodeando. — Você tem certeza que ficará bem quando eu me for? — reclamou ela. Aquelas dez míseras palavras causaram um barulho enorme nos ouvidos dele. Gabriela tem apartamentos inteiros alugados na mente de nosso protagonista. — Pra onde cara? Você não vai para lugar algum... — desconversou sorrindo. “ele me respondeu fugindo o olhar novamente”. — notou Gabriela. Gabriela se aproxima de Vágner e rapidamente enfia o picolé na boca dele de surpresa. — O que você está fazendo? — reclamou de boca cheia. — Não reclame, é só um mimo da sua namorada, QUERIDA! — pontuou. Gabriela tirou o picolé da boca dele o puxando pela nuca deu um daqueles beijos colantes, doces e gelados, sabe? O coração dele acelerou enquanto o dela parecia finalmente repousar. A troca de carinhos durante pós-beijo e as caricias de amor revelavam a i********e que os dois simplesmente não tinham medo de revelar. Vágner e Gabriela realmente são como poucos casais conseguem ser. — Eu sinto que às vezes você simplesmente não toma a iniciativa de me beijar, isso me irrita. — comentou. — É que você está assim, sabe? — Assim? — É assim pô. Eu não quero parecer um t****o que fica agarrando a mulher o tempo todo. Você devia pegar mais leve comigo e contigo mesmo. — esclareceu. — Hmmmmm, me deixa ver se entendi... — Lá vem! — Então quer dizer que você não quer pegar uma gostosinha como eu? — brincou Gabriela enquanto passava a mão em seu corpo. — Você é retardada, só pode. — rebateu sorrindo. — Perdão, é que o seu sorriso e tudo o que me diz e disse, são coisas que simplesmente não dá pra esquecer. Eu até quero acreditar no destino, mas sei que só com palavras não consigo demostrar, então ande, venha aqui. — expôs ela. Gabriela uma vez mais o puxou para outro beijo de amor molhado e gostoso. O casal passou por alguns minutos conversando sobre coisas do dia a dia e de como estão e sobre o que estão fazendo. Perguntas ou assuntos que toquem ou até mesmo se aproximem do COVID-19 são rapidamente descartados e tudo aquilo que seja sensível para com a doença dela, também. É como se os dois vivessem numa bolha. — Em que dia estamos? — perguntou ela. — 22 de Dezembro, pô. — respondeu ele. — NOSSA! — Por quê? — COMO PORQUE CARA? — exclamou. — É porque estamos próximos do Natal, né? Logo, logo tem o ano novo de novo! — brincou. — Não é isso, pô. "Ela se esqueceu?" — imaginou ele. — É que eu li num livro de mitologia grega aqui no hospital que a deusa do amor Afrodite lança uma estrela cadente na terra durante a noite de natal, e quem conseguir ver e pedir algo, terá seu desejo realizado, não importa qual, desde que se pague um preço igual, entendeu? — disse Gabriela atentamente. Vágner começou a rir. Gabriela se irritou jogando o travesseiro nele. — O que tem de tão engraçado nisso? — Você do nada falando em mitologia e lendas, isso não aconteceu e não vai acontecer, tu sabe né? São apenas lendas. — comentou Vágner rindo e brincando. Gabriela ficou séria, o seu semblante mudou. — Desculpa, mas é que quando não temos esperança, qualquer gotinha de luz serve, sabe? — desconversou. Vágner sem querer deixou uma torta de climão entre eles. — Des. . . Desculpa. . . — Não tem problema, só não me zoe enquanto falo sobre os meus deuses querido, SEU i****a! — brincou ela. — Certo! — desculpou-se. — A propósito, o que você iria pedir se visse, amor? — questionou ela. Vágner encarou o teto e atentou ao chão. Uma grande interrogação percorreu a sua cabeça. — Não consigo imaginar! — Como não? É só um desejo pô! Algo que você sempre sonhou. — esclareceu. — Então... Pode ser qualquer coisa, né? — respondeu Vágner. — ÓBVIO! "É claro que seria a sua cura". — imaginou encarando-a. — Não consigo imaginar... — Você não tem criatividade, não gosto de brincar com você. — cruzou os braços. — Mas e você Gaby? Iria pedir para se curar da sua doença? — Errado né bocó, parece que não escutou a lenda. — Como assim? — perguntou assustado. — Se eu desejar algo tão grande assim, eu com certeza perderei algo grande em troca. — Hmm. . . Então o que iria pedir? — é um segredo, eu hem! — desconversou. A conversa estava boa, mas infelizmente logo, logo, chega a hora dele ter de ir embora, o horário de visitas não é eterno. — Ow! — GRITOU. Os dois se assustam. — Casal! Me deem um tempo, chega de se agarrar, olha o COVID! — brincou Helena. — Desculpa! — responderam em coral. Os dois tiveram aquela troca de olhares, às carícias e o carinho tímido de sempre. Acompanhá-los é um colírio para os olhos de qualquer pessoa apaixonada. — Estou indo, mas volto, ok? — Eu não vejo a hora. Vágner deu um selinho e um beijo na testa. — Vágner? — chamou Helena. — Sim? — Antes de ir, tem alguém na recepção querendo falar com você, ok? — Certo! — respondeu. — Gaby, você fará um exame de sangue, ok? Pode tratando de se sentar aí. — comentou Helena. — Cer. . . Certo. . . Vágner ficou admirando sua namorada. — Ande! O horário de visitas acabou tá achando o que? — reclamou a Doutora. — Tá bom, tá bom! Ao sair, Vágner notou que mesmo que ela sorrisse lhe dando um tchauzinho, mais uma vez o semblante de sua namorada havia mudado. Ele olhou bem para seus braços, estavam um pouco roxos e ela parecia bastante debilitada. "Ela estava com uma faixa na cabeça quando cheguei, os exames de sangue e de cabeça devem ser uma tortura pra ela." — pensou. — Eu já vou indo, tá? — Tudo bem... — respondeu. Um selinho tímido os uniu novamente. — Vocês não param não? Meu Deus! — brincou Helena. Vágner caminhou em direção à porta enquanto ela estava indo de encontro a cama para se deitar. — Gaby? — chamou ele. — Sim? — Desculpe não poder te salvar... — disse Vágner de costas para ela. Vágner realmente não conseguia encará-la, mas Gabriela rapidamente saiu da cama e o abraçou por trás. — Não se irrite você veio por mim. Uma lágrima percorreu a bochecha de Vágner. — Isso é o suficiente para mim. — sussurrou ela. — Eu não canso de me apaixonar por você. — sussurrou de volta. Vágner se virou e deu o melhor beijo apaixonado que um namorado consegue dar. — E eu não me canso de confessar o meu amor por você! — respondeu ela com outro selinho. Vágner saiu do quarto e Gaby pode finalmente desabar em lágrimas sentada em sua cama. Helena passou a mão na cabeça dela fazendo aquele carinho que somente uma mãe consegue fazer. — Tá tudo bem? — questionou a médica. — Tá sim, relaxa. — respondeu prendendo o choro. Helena se virou para a mesa para preparar seus afazeres com ela enquanto Gabriela desabava em seu próprio infinito pessoal "Eu não aguento mais isso. Prendê-lo a mim não faz bem nem pra mim e nem pra ele. Espero muito poder ver a estrela cadente, pois só assim conseguiria pedir para que ele fosse feliz, mesmo que eu tenha de perder a minha felicidade". — pensou ela. Helena retornou sua atenção para ela com o kit para o exame em mãos. — O que houve minha filh... — Helena hesitou, parou a frase na metade. — Nada. — respondeu em lágrimas. “Parece que ela não reparou, quase deslizei em mim mesma”. — pensou a médica. — Minha querida, eu estou fazendo o que posso, as ondas de COVID se passaram, mas o que você desenvolveu parece não ser possível tratar da maneira convencional. — Eu sei... — respondeu com seu olhar vazio. — Você apresenta melhora significativa antes, durante e depois de vê-lo, irei aumentar as visitas, mas até lá, não desista... Por favor... — Helena entrelaçou sua mão com a dela. — Não desista, por mim e por ele, ok? — completou — Ok... — Relaxe um pouco querida. — É que às vezes sinto que estou me perdendo e perdendo ele, sabe? — Tudo bem se sentir assim, pois é assim mesmo. À medida que vivemos aqui, vamos nos perdendo um pouco mais. Elas se abraçaram forte. — Se continuar me apertando assim, vai me m***r antes da minha doença. — brincou ela. — Perdão, vamos ao exame! — Tá, mas me promete uma coisa? — O que quiser filha! — brincou. “Opa”. — pensou, — Me conta o que tenho mais uma vez antes que eu esqueça de vez? Helena respirou fundo antes de responder. — Vai dar tudo certo, mas pode deixar, amanhã eu te conto depois do café, ok? — Ok! — Não deixe o sonho acabar, não perca as esperanças, ok? — respondeu lhe dando um abraço apertado. Helena tem se tornado uma mãe para Gabriela desde que tudo aconteceu. — Agora, MÃOS A OBRA!

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