Capítulo- V. Ferida
"Muitos amores surgem nas sombras e deixam feridas que nem o tempo se atreve a curar. Eles marcam de forma profunda."
Alef
Meu pai levou cinco minutos para encerrar aquela maldita coletiva, e eu não aguentava mais ficar sentado sob tantos olhares julgadores. Quando tudo terminou, saí do auditório em busca da garota que me surpreendeu ao falar uma frase no meu idioma. A voz dela ganhou um novo tom, uma nova intensidade.
— Você não sabe controlar sua mulher! Que tipo de homem é você? — meu pai disse ao sairmos para o corredor, sussurrando entre dentes enquanto segurava meu braço.
— Me responda o senhor? — perguntei, puxando meu braço e me afastando em busca de Tiana. Ela não poderia ter ido longe, não conhece nada dentro do prédio da empresa.
Percorri os corredores, mas não a vi. Perguntei a Franz, um dos meus seguranças:
— Você viu minha esposa?
— Ela saiu apressada pela porta, chefe. — Eu o encarei com desconfiança.
— Como você deixou ela sair?! — Fiz um gesto com a cabeça para que os outros seguranças me seguissem. Franz seria transferido para vigiar outra propriedade que possuo em Munique, não gosto de ser cercado por empregados impotentes.
— Ela está a pé, não deve ter ido longe. — Falei com os outros, decidindo dar uma volta no quarteirão. Todos foram em carros separados.
Desci até a garagem pelo elevador, entrei no meu carro e acelerei para fora, dando um soco no volante.
— Maldita menina! — murmurei, sem saber qual rua seguir.
Circulei pelas ruas próximas, mas não encontrei ninguém. Liguei para Félix pelo celular.
— Alguma novidade?
— Nada, chefe.
Desliguei o celular e o joguei no banco ao meu lado.
— Que diabos, Tiana, aparece! Aparece, droga! — Falei, sentindo uma dor de cabeça insuportável, como se meu crânio fosse rachar. Acelerei em um sinal fechado e quase atingi outro carro.
Frei a tempo de evitar um acidente e, de repente, ergui o olhar e a vi caminhando do outro lado da rua.
Acelerei e parei o carro perto dela.
— Entra agora! — ordenei, com a adrenalina à flor da pele.
Tiana me olhou com uma mágoa tão intensa que era quase palpável. Deveria ter pensando bem antes de tentar me acusar de ab*so.
— Me esquece, some, Alef! — disse, virando o rosto e acelerando o passo.
— Mandei você entrar, Tiana. Não me faça ir te buscar.
Ela me ignorou e continuou.
Desci do carro, caminhei rapidamente, peguei-a pelo braço e a encostei na parede de uma construção.
— Quando eu estiver falando com você, não me dê as costas. — Falei, com o maxilar tenso.
— Quero ir embora, Alef... — seus olhos estavam marejados e sua voz tremia.
— Você não vai a lugar nenhum, Tiana. Você não sai daqui. — Arrastei a garota até o carro, abri a porta traseira e a fiz entrar.
Assumi meu lugar atrás do volante e liguei para Félix, chefe dos meus seguranças.
— Suspenda as buscas, eu a encontrei. — Avisei e desliguei.
Tiana estava perdida, olhando pela janela do carro. A observei pelo retrovisor interno e vi lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
— Tudo isso foi você quem provocou. Pensou que conseguiria fugir? Este é o meu país, e onde quer que você vá, eu a encontrarei.
— Manda na embaixada brasileira também! — ela falou com arrogância.
— Aqui somos influentes. Lá, eu estava sujeito às leis do seu povo; aqui, você estará sujeita às minhas.
— Você é desprezível...
_ Que interessante, eu também penso o mesmo sobre você; na verdade, eu penso ainda mais: você é uma tola, achou mesmo que, junto com seu amante, iria me fazer de i****a. Enganou-se, não ocupo o topo da pirâmide atoa, estou onde estou e respirando por não ser um trouxa. Brincou com o homem errado, Tiana. - acelero e a menina se desloca do banco, quase colidindo com o encosto do banco da frente.
Seus olhos me fitam surpresos.
- Você é c***l, como pude achar que dentro de um ser como você batia um coração quente. - seus olhos escuros me irritam.
- Fui moldado no gelo, menina. Você não tem ideia do que sou capaz de fazer. Portanto, é melhor seguir todas as minhas ordens. Você tentou fugir, seu castigo será ficar sem comida esta noite.
Ela não responde, aperta a bolsa entre os dedos, controlando sua raiva para não explodir.
O silêncio reina, muito embora eu a olhe pelo retrovisor sentindo raiva.
Assim que chegamos em casa. Descemos do veículo, pego Tiana pelo braço e a levo para dentro, empurro-a no sofá. Tiana cai sentada, algumas mechas do seu cabelo se soltam do penteado elaborado.
- As regras são as seguintes:
Não sairá sem minha autorização;
Só falará com sua família quando eu permitir e sob minha supervisão;
Não olhará no rosto de nenhum homem;
Quero a casa limpa, comida feita, roupas limpas e passadas todos os dias;
Vai acordar cedo para preparar o café da manhã e só poderá dormir depois de deixar a cozinha limpa.
Para ir ao jardim, precisa me pedir permissão.
Irei selecionar o que você pode ou não comer dentro desta casa e colocarei etiquetas.
Troque de roupa, prepare algo para o jantar, vou retornar ao trabalho e estarei em casa às nove. E, o mais importante, nunca saia antes de mim de qualquer lugar. Saiba que não sei perdoar, se acredita que sua situação em minhas mãos está r**m, tenta me afrontar que ficará bem pior.
- Não sei fazer a comida daqui. - diz com a voz carregada de raiva.
- Tem um caderno de receitas traduzido dentro da gaveta do balcão, providencie isso para você, querida esposa. - digo com escárnio.
Tiana se levanta e passa por mim.
- Não me lembro de ter lhe dado autorização para sair.
A garota para, aperta as mãos em punho e se vira em minha direção.
- Posso me retirar, senhor? - pergunta entre dentes.
- Pode. Traga para mim uma água com gás, estarei no escritório verificando alguns e-mails, não demore preciso sair. - aviso.
Vou até o meu escritório, assim que ligo o computador, meu celular toca. Pego o aparelho e vejo o nome Mia na tela. Atendo a ligação.
- Oi.
- Oi, meu amor, como você está?
- Irritado e com dor de cabeça.
- Sabe que sempre que fica nervoso seus nervos se manifestam. Vi você na televisão.
- A maioria das pessoas viu.
- Você estava lindo, meu amor.
- Preciso desligar, tenho algo para fazer.
- Quando vou conhecer a minha nora?
- Mãe, por favor.
- Ela parecia um passarinho assustado, Alef. Mas tem uma força no olhar, um gosto de viver... uma vibração. Você escolheu bem, meu filho, ela é bonita.
Suspiro, sem paciência para ouvir minha mãe elogiando a garota que quase arruinou minha vida.
- Ela não vale nada, mãe. Não se deixe levar pelas aparências.
- Se você e seu pai disseram que a notícia é irreal, por que fala assim da sua esposa?
- Porque eu não me iludo, mãe. Esqueça a ideia de conhecê-la, quero essa mulher longe da senhora.
_ Meu filho, quanta raiva! Alef, você casou-se sem amor, meu filho?
Fico mudo não quero entrar em detalhes e dizer que casei com uma faca invisível encostada em minha garganta.
_ Preciso desligar, depois eu falo com a senhora.
_ Vai vir jantar em casa?
_ Não, hoje vou jantar e dormir aqui na minha casa.
_ Alef porque está nesse bairro? Sua casa está trancada aqui em Bogenhausen, meu filho.
_ Essa casa está reservada para a mulher que terá meus filhos, essa que que eu trouxe comigo vai ser apenas uma empregada, nada mais.
— Isso não é bom, meu filho, você está se parecendo com seu pai, e isso não é nada agradável. Até mais, meu bem.
Desligo o telefone, olho para o meu relógio e estranhos a demora da menina. Abandono o computador e deixo o escritório para descobrir o motivo do atraso.
Ao chegar na cozinha, vejo Tiana lutando com o gaseificador.
— Droga, como isso funciona? — percebo que ela está falando sozinha, sem o blazer, apenas com o vestido branco e os saltos. Seu cabelo está solto, caindo abaixo dos ombros.
Aproximo-me e fico atrás dela, noto que a garota fica tensa ao notar a minha aproximação.
Seguro suas mãos entre as minhas e faço os procedimentos. Depois, solto-as.
— É assim que se faz, sua burra. Memorize e aprenda. Tente ser útil, sua imprestável. — sussurro perto da sua orelha.
Depois que a água está pronta, me sirvo e sigo para o escritório, deixando a menina sozinha na cozinha.