📓 NARRADO POR LÍVIA Eu ainda chorava baixo no colo de dona Inês quando a pergunta escapou, do jeito que sempre me corroeu por dentro: — “Por que é tão fácil pra senhora acreditar em mim, dona Inês? A senhora me conheceu hoje… e mesmo assim acredita. Minha mãe me teve a vida inteira, e nunca acreditou.” A voz saiu embargada, carregada de dor e incredulidade. Era como se eu não conseguisse entender como um colo estranho podia ser mais mãe do que o colo que deveria ter sido meu. Dona Inês me afastou devagar, só o suficiente pra segurar meu rosto entre as mãos. Os olhos dela brilhavam, marejados, mas firmes, cheios de uma certeza que eu nunca tinha recebido de ninguém: — “Porque a dor não mente, menina. Quem já carregou dor de verdade reconhece no outro. Eu não preciso te conhecer há anos

