📓 NARRADO POR LÍVIA Fiquei ali, mexendo na xícara sem beber, o gosto amargo do medo ainda na boca. Mas Dona Inês, com aquele jeito de quem já viu muita coisa, não deixou o silêncio crescer. Ela bateu a colher na beira da panela e falou firme: — “Tá chorando já chorou, menina. Agora abre essa boca e come. Vai precisar de força, que barriga não cresce só de lágrima.” Empurrou o prato na minha frente: cuscuz amarelinho, ovo mexido, café com leite fumegando. O cheiro me abraçou, mas o nó na garganta ainda travava. — “Eu não tô com fome, Dona Inês…” — murmurei, desviando o olhar. Ela ergueu a sobrancelha por cima dos óculos, aquele olhar que atravessa a gente sem dó. — “Não tá com fome, mas o menino aí dentro tá. Cê acha que ele vai esperar tua tristeza passar pra querer se alimentar? Co

