📓 NARRADO POR TONHO Fechei a porta do quarto só no trinco, cuidando pra madeira não chiar. Maria tava lá fora, o tanque batendo roupa feito tambor de guerra. Eu gosto quando ela tá ocupada não vem meter o nariz no que é meu. Arrastei o guarda-roupa manco, levantei a lajota solta no canto e puxei o envelope embrulhado em saco de mercado. Sentei na beira da cama e abri. O barulho das notas amassadas me deu paz. Pouco dinheiro, mas suficiente. Dinheiro de corre, de serviço sujo. Eu não sou dono de nada, mas sou quem carrega. Droga de um lado pro outro, pacote fechado, silêncio comprado. Eles me pagam porque sabem: Tonho não fala, Tonho não some. Eu apareço, sempre. Contei as notas uma a uma. Vinte, cinquenta, dez. No fundo, puxei o papel dobrado com meus rabiscos: rodoviária, mercado velho

