Amor sem limites

1280 Words
Aurora saiu daquele lugar horrível se sentindo mais leve, mais feliz, diferente...Sempre se sentia assim, foram vários livros, vários meses, idas e vindas em que as vezes deixavam a leitura de lado e apenas conversavam. Rodolpho nunca falava sobre ele, mas parecia adorar ouvir sobre Aurora. Uma disse a ele que o convento não tinha nada de especial, nenhuma novidade, vaidade, aventura... Todas as diversões eram vistas como pecaminosas. Os livros que ela levou para ler, estava conhecendo junto com Rodolpho, comprava a caminho do presídio, liam e depois ela trocava por outro que fosse permitido entrar no convento. Recebeu da Madre superior uma lista dos livros que deveria comprar e ler para os detentos, mas internamente achava que o caminho pelo gosta da leitura precisava ser leve, sem julgamentos, sem pesos, sem religião, acreditava que as primeiras leituras de alguém deviam ser pela porta da língua universal, o amor. Tentou argumentar, como não conseguiu, apenas criou a estratégia das trocas. - Madre, o amor de cristo foi a língua que mais alcançou pessoas. Um ato, uma entrega, a devoção de um homem pela humanidade. Precisamos falar de amor, resgatar isso naquelas almas perdidas, quem ama jamais cometerá crimes. - Criança, você ainda é muito nova para entender o que são aquelas pessoas, são almas caídas, condenadas pelo senhor a queimarem no infеrnο, o seu trabalho não é ensinar o gosto pela leitura e sim mostrar a eles que o arrependimento é o único caminho e pelo nosso senhor Jesus e sua santa mãe eles poderão ser perdoados. - Sim, Madre, perdão. Aurora caminhava pelas ruas com um misto de emoções. Apesar das palavras severas da Madre Superior, a lembrança dos momentos com Rodolpho trazia-lhe uma sensação de esperança. Ele era um enigma, um homem de poucas palavras sobre si mesmo, mas de ouvidos atentos e coração aberto para ouvir sobre ela. Era como se cada encontro com Rodolpho fosse uma troca de mundos; ela trazia-lhe notícias do exterior, do convento, de sua vida monótona, e ele lhe oferecia um olhar novo e profundo sobre as coisas que ela considerava simples. Lembrava-se das tardes em que discutiam passagens dos livros que liam juntos, dos sorrisos que escapavam sem querer, e dos olhares que se cruzavam e pareciam dizer mais do que qualquer palavra poderia expressar. Naquela noite, Aurora sentou-se à mesa de sua pequena cela no convento, pegou a Bíblia e começou a ler. No entanto, sua mente continuava a divagar para Rodolpho. Como seria a vida dele antes de tudo aquilo? Quais segredos ele guardava? Por que parecia encontrar tanto conforto em ouvi-la? Ela se lembrou de uma tarde em particular. Estavam lendo um romance clássico, quando Rodolpho de repente a interrompeu: - Aurora, você já se perguntou o que o amor realmente significa? Rodolpho perguntou, com um olhar intenso que a fez arrepiar Ela, surpresa pela pergunta repentina, pensou por um momento antes de responder: - Acho que amor é se importar com alguém profundamente, querer o bem dessa pessoa, mesmo que isso signifique sacrificar algo seu. Rodolpho ficou em silêncio, absorvendo suas palavras. Depois de um tempo, ele disse baixinho. - É eu acho que amor é isso mesmo. Mas também é encontrar esperança onde não existe, e talvez, um pouco de redenção. Aurora nunca esquecera essas palavras, ele era um detento, não deveria ter aquele vocabulário, ao menos era o que acreditava antes de conhecer realmente a realidade do presídio. Rodolpho, com seu passado misterioso e seu presente de prisioneiro, falava de amor e esperança como se fossem âncoras em meio à tempestade de sua vida. E talvez, sem perceber, ele tinha se tornado uma âncora para ela também. Cada visita ao presídio era uma oportunidade de se conectar com Rodolpho em um nível mais profundo, e ela ansiava por essas conversas, pelos momentos de troca de livros e de histórias. A cada página virada, Aurora não apenas lia sobre os personagens dos livros, mas também sobre a alma daquele homem que se mantinha tão reservado e, ao mesmo tempo, tão vulnerável diante dela. Naquela noite, antes de adormecer, Aurora fez uma oração silenciosa. Não pedindo respostas, mas agradecendo por Rodolpho ter cruzado seu caminho. Porque, de alguma forma, ele a estava ajudando a encontrar o verdadeiro significado do amor que ela tentava compreender, estaria ela disposta ao sacrifício por amor? Dormiu com esses devaneios, e enquanto isso, Rodolpho se lembrava dos olhos de Aurora, ainda tentava definir se eram azuis ou cinza, não sabia responder, mas os achava lindos, assim como a ingenuidade doce por trás deles. Na manhã seguinte, Aurora acordou com a luz suave do sol entrando pela pequena janela de sua cela, o sino suave do convento afirmando que as horas de sono... de sonhos... haviam terminado. O café da manhã era simples, mas o pensamento de Rodolpho a aquecia como um cobertor em uma manhã fria. Ela sentia que algo neles estava se transformando a medida em que as palavras abandonavam as páginas e se tornavam sons naquele lugar escuro, algo que ia além das palavras e dos livros, algo que crescia a cada encontro, a cada troca de olhares. Ao chegar ao presídio, Aurora foi recebida pelo guarda de plantão, que a deixou passar com um sorriso cúmplice. - Trouxe doces para o malandro hoje? - Não, Antônio, mas posso trazer para você se tiver gostado. O guarda abaixou a cabeça envergonhado e respondeu com a humildade de quem se percebe errado. - Aurora, desculpe pelo que fiz, pode trazer os doces, não vai mais passar pela revista. Ela sorriu. - Trarei para você também, é um bom servo de Deus, Antônio. O caminho até a cela de Rodolpho parecia mais longo do que nunca. Seu coração batia forte, e cada passo parecia ecoar nos corredores frios e silenciosos. Naquela manhã dedicou um tempo tentando parecer mais feminina, mais bonita... Não havia maquiagem no convento, mas a amiga a ensinou a usar beterraba, se arrependeu em seguida, ficou com os lábios muito vermelhos e não conseguiu tirar. Quando finalmente chegou, Rodolpho estava esperando, com um olhar que parecia entender tudo o que ela sentia, mesmo sem que ela precisasse dizer uma palavra. - Você está diferente hoje. Ele disse, enquanto a porta se fechava atrás dela. A menina sorriu timidamente, sentindo as palavras dele como um afago na alma. Sentaram-se quase, e Aurora começou a falar sobre os livros que havia lido, mas suas palavras logo se transformaram em histórias da vida fora daquele lugar, das pequenas coisas que ela amava e das grandes dúvidas que a assombravam. Em meio a uma conversa sobre sonhos e esperanças, ele a interrompeu com uma pergunta que a deixou sem fôlego... - Aurora, você já pensou em como seria se o amor não tivesse limites? Se pudéssemos amar sem medo, sem julgamentos, apenas pelo ato de amar. Ela ficou em silêncio por um momento, tentando absorver a profundidade da pergunta. Então, com a voz trêmula, respondeu. - Eu acho que isso seria incrível. Mas também assustador. Porque amar sem limites é se entregar completamente, é se expor de uma forma que pode machucar. Rodolpho sorriu, pegou a mão de Aurora entre as grades, entrelaçando seus dedos com os dela, e disse com um tom suave. - E se, justamente nesse medo, nós encontrássemos a verdadeira força? As palavras dele penetraram no coração de Aurora como um raio de sol em um dia nublado. Ao sair do presídio, Aurora sentiu que havia deixado um pedaço de si mesma lá dentro. Naquele dia, enquanto caminhava pelas ruas, sentiu que sua vida estava sendo escrita de uma maneira nova, com capítulos que ela nunca tinha imaginado.
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