Prisioneira

967 Words
Depois de passar cinco anos sem ver a filha Cássio Fernandes resolve lhe fazer uma surpresa. Havia planejado aquele dia com muita dedicação e seus homens prepararam tudo para que saísse perfeitamente como ele desejava. Cássio Fernandes era um homem ambicioso, que agia com fraude e engano na política como deputado federal e por trás dos ternos e seu gabinete conseguia milhões em sua conta bancária trabalhando como traficante de armas para presidiários, gangues e outros grupos ilegais espalhados pelo país. Nunca se casou, aos 55 anos levava uma vida desregrada, boêmia e desonesta. Sua rotina se resumia em cassinos com altas apostas, mortes que ordenava quando alguém não mais lhe servia e uma lista incontável de assassinatos. Um homem como ele não era prudente ter uma família. Se caso não tivesse sentimento o bastante poderia até ter esposa e filhos com a consciência de que poderiam ser mortos. Uma vez que era um mafioso também poderia cair nas mãos de pessoas com sede de vingança por seus atos. Dessa forma escondeu a "sete chaves" a única filha que possuía. Alana não sabia quem era sua mãe biológica, foi criada por empregados de confiança de seu pai. A cada ano mudava para uma parte do país para enganar os inimigos de Cássio a respeito dela. E com destino incerto Alana crescia protegida pela segurança que seu pai podia lhe oferecer. Essa segurança a tornava prisioneira em seu próprio lar. A menina não tinha uma vida comum com qualquer outra garota em seu pleno desenvolvimento infantil. Ela compreendia as razões de seu pai para esconde-la, desde muito nova soube qual era o "verdadeiro trabalho" de seu pai. O pior erro de Cássio não foi tão grave quando permitiu que Alana chegasse ao mundo em um mundo tão obscuro, mas seu maior pecado com certeza foi criar a filha com a sensibilidade que ele não tinha. Alana havia se tornado o oposto de seu pai, era honesta, sincera, meiga e amorosa. Seu pai apreciava essas qualidades, era a única fonte de lembranças da mulher que um dia amou e lhe deu Alana como filha. Por mais que Alana implorasse para saber detalhes sobre sua mãe ele nunca falava a verdade, inventava histórias de que ela era uma dançarina de boate e preferiu a vida que tinha do que ao trabalho de criar uma criança. As respostas de seu pai nunca saciava sua curiosidade. Sempre ficava imaginando como sua vida seria diferente se tivesse uma mãe do seu lado. Como uma prisioneira vivia a sua torre, o luxo e o conforto não lhe faltavam e Cássio exigia que os melhores professores fossem contratados para educar sua filha. Aos 13 anos já dominava três idiomas, inglês, francês e italiano. Era uma leitora assídua e seus autores preferidos eram Agatha christie e os romances best seller de Nicholas Sparks. Talvez sua sensibilidade e todas as virtudes tenha aprendido muito mais com seus livros do que com seu pai. ... Cássio tomou a filha nos braços e lhe entregou os muitos presentes. Coisas que ela já tinha e nada era novidade vindo do pai. Ele não fazia ideia do que ela gostaria de ganhar e se soubesse poderia até trancafia-la em uma masmorra medieval a fim de que jamais pudesse ver a luz do dia. Alana sonhava com uma vida livre, fora dos portões eletrônicos e as janelas blindadas que se fazia sua fortaleza. Ansiava por ter amigos, ter momentos de prazer em um passeio matinal apreciando as estrelas ou o nascer do sol. Seus livros e filmes prediletos lhe davam pistas de como a vida poderia ser maravilhosa se pudesse sair para o mundo lá fora. Mas nada era fácil, tudo tinha uma explicação, um porque vindo dos seus cuidadores, de pessoas bem pagas para mantê-la distante do mundo real. A presença do pai a revoltava, não compreendia o porquê de tanta segurança, de extremo cuidado com sua vida. Não era mais uma criança indefesa, tinha vontade própria, era inteligente acima da média e apenas seu pai não via tudo isso. Via mas ignorava, para ele Alana não tinha muita utilidade na vida social, nem as boas notas que com alegria ela lhe mostrava. O máximo que esperava dela era que permanecesse escondida do mundo exterior e viva. Porém não podia ignorar que sua menina já não era mais tão pequena, estava em sua frente uma mulher, ainda que jovem em seus 21 anos, era uma linda mulher. Nesses anos a mantendo em segredo de todos que o conheciam, agradeceu por não precisar dividir a beleza da filha com ninguém. Em outra ocasião e situação Alana teria uma fila incontável de pretendentes e com certeza o pai não teria paciência para isso. Aos 21 anos, Alana era dona de um corpo esguio, atlético por sempre estar ativa, entre atividades aeróbicas que ela amava praticar e natação. Todas as casas e apartamentos tinham piscina e para ela era uma refúgio esse tipo de atividade física tão recomendável pelo doutor Afonso, médico de confiança de seu pai que tratava dela desde o seu nascimento. Afonso ia atendê-la a cada dois meses e nessas consultas fazia exames de rotina, avaliava seu peso, altura e ganho de massa magra. Afonso sentia muita pena do destino incerto da filha de Cássio. Apenas aceitou ser cúmplice dessa atrocidade que ele fazia com a própria filha por causa do dinheiro que lhe pagava. Ele já estava velho, cansado e tinha uma família que dependia de seu sustento. Servia Cássio com seus serviços e em troca podia oferecer uma vida confortável a sua família. Mas tinha grande remorso por aceitar o emprego de cuidar da filha de Cássio. Temia pela vida da menina que nunca pode ter uma vida social. Era uma verdadeira prisioneira pagando pelos pecados de seu pai.
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