|CASSIDY COOPER|
Quanto tempo ainda tenho até a água encher os meus pulmões?
Talvez segundos, ou alguns minutos.
A tempestade não para, os pingos grossos que caem no céu, se misturam no mar e eu desisto de nadar e paro de chamar por David por entre as ondas que me cobrem vez após vez.
Estou exausta e a única coisa que impede que eu afunde, é o colete salva-vidas que David me obrigou a usar antes de uma onda despencar sobre o nosso veleiro e ele ser levado.
— DAVID! — chamo por ele, mas a única coisa que consigo ver, é a escuridão e o nosso veleiro a alguns metros de mim.
Outra onda me cobre, e o desespero volta a me dominar. É nesse momento que decido lutar pela minha vida, ao perceber que mais uma onda será o suficiente para me esgotar de vez.
Tento nadar contra a corrente e alcançar o veleiro, levado pela corrente do mar.
— DAVID!
Consigo agarrar a vela que rasgou formando um rastro atrás do veleiro e uso todas as minhas forças quando outra onda me cobre e tenta me arrastar dali.
Luto contra o tempo de outra onda se formar e subo no veleiro, entrando na cabine. Tem água por toda a parte, no lugar onde não mais que uma hora atrás, estávamos comendo.
As louças do jantar que ele preparou para me pedir em casamento, estão flutuando na água com os pedaços da garrafa de vinho tinto. Tudo parece que foi literalmente posto de cabeça para baixo.
Vou até o rádio UHF e emito um sinal de socorro, em seguida, vou em busca de uma lanterna. Eu a encontro, mas ela não está funcionando.
Grito desesperada, sentindo o veleiro ser sacudido por mais uma onda furiosa e tiro o colete salva-vidas para conseguir me mover melhor.
— DAVID! — chamo, voltando para o convés, segurando no que restou do mastro. — DAVID! — digo aos prantos.
Meu Deus.
Meu Deus.
Meu Deus.
Meu Deus.
Meu Deus.
Meu Deus.
Meu Deus.
Meu Deus.
Meu Deus.
Meu Deus.
Meu Deus.
Eu não sei o que fazer.
Não faço a menor ideia de como encontrá-lo no mar, no meio das ondas revoltas que atingem sem dó o veleiro na escuridão.
— DAVID!
O motor.
Posso tentar ligar, ver se funciona, tentar erguer a vela. Ir atrás dele.
É o que faço.
Aproximo-me do motor e tento dar a partida.
Nada.
Tento novamente.
Nada.
Tento orçar o leme a bombordo, mas os cabos conectados a ele, se romperam com a vela mestra.
— m***a! m***a! — berro, encharcada e não sei se meu corpo treme de frio ou de desespero. Talvez os dois.
Tento ligar o motor novamente.
Ele não liga.
Outra onda embate contra o veleiro e eu me desequilibro, batendo as costas contra a porta da cabine. Bato a cabeça em algo pontiagudo que julgo ser a maçaneta e a última coisa que me lembro de dizer é o nome de David, torcendo para que quando eu acordar deste pesadelo, ele esteja do meu lado. Só que quando acordei numa cama de hospital, o pesadelo continuou.
Em um minuto, eu havia me tornado noiva de David Nolan, no outro havia perdido ele no meio do oceano e apesar de toda a dor que precisei superar anos depois, não tinha noção de que por mais que por um milagre ele voltasse, estávamos destinados a sempre perder um ao outro.