| CASSIDY COOPER|
- AGORA -
— É esse. — digo na mesma hora em que me viro de frente para o espelho.
Meus olhos lacrimejam.
Estou emocionada.
Olho para cima para que as lágrimas não escorram e solto um leve riso.
— Ai, Deus! — me repreendo.
Os olhos da atendente brilham assim que ela volta com alfinetes.
— Você está linda — ela elogia e me abraça.
Saio do provador e a primeira a derramar lágrimas é Maya. Ela cobre os lábios, está boquiaberta ao lado de Gwen.
— É esse. — As duas falam em uníssono, e choramos juntas nos abraçando.
Eu sempre soube que traria elas para me ajudar a escolher o vestido de noiva ideal, mas não imaginava que este momento era tão importante para Gwen e Maya.
Maya se tornou minha mãe adotiva, depois que perdi meus pais quando tinha seis anos, como eu não tinha avós e meus pais eram filhos únicos, fui para um lar de adoção. Foi lá que Maya e d**k me adotaram.
Olho emotiva para as duas diante do espelho enquanto a costureira alfineta todos os ajustes que serão feitos e encolho os ombros.
Demorei muitas sessões de terapia para entender que eu não estou sozinha. Para mim, sempre foi difícil estabelecer relações devido ao sentimento de achar que eu sempre irei terminar sem ninguém.
Brinco com a correntinha em meu pescoço. É um pequeno veleiro dourado que carrego comigo há cinco anos. Exatamente o tempo em que eu o perdi. O presente que ganhei de David na noite em que tudo aconteceu. A única coisa que me restou dele e que nunca tive coragem de me desfazer. Agora, completamente exposto pelo vestido no modelo sereia, ombro a ombro, que escolhi para me casar com outro homem.
Não posso deixar esses pensamentos tomarem conta, de novo.
Sorrio, olhando-me no espelho, ignorando essa lembrança.
Ver Gwen e Maya felizes por mim, participando deste momento, me faz sentir pavor apenas por pensar na hipótese de perdê-las.
Passe o tempo que for, para mim, ainda é difícil acreditar que eu consiga manter as pessoas que amo na minha vida. Foi assim com meus pais, e com David.
David.
De novo.
É a segunda vez no dia que penso nele.
A segunda vez em anos.
Fazia tempo que ele não assombrava meus pensamentos.
David Nolan, filho de Ava, irmão mais velho de Gwen, era meu namorado quando o veleiro em que estávamos, sofreu um naufrágio e desde então, tive certeza que essa era a minha maldição.
Cinco anos depois, a irmã dele continua aqui, fazendo parte da família.
Gwen, hoje é minha colega de quarto onde dividimos um apartamento em Long Island.
Depois que David se foi, nós duas nos aproximamos e nos ajudamos tanto, que foi impossível nos separarmos quando tivemos certeza que éramos o melhor que David havia deixado uma para a outra.
Vê-la aqui animada, por mais que irei me casar com outro homem, me deixa aliviada.
Benditt, meu noivo, lida muito bem com a nossa proximidade, mas é inegável que este momento mexe com Gwen, ao ver que não será o irmão dela a me esperar no altar daqui a três meses.
— Tudo bem aí? — a costureira pergunta e reparo na minha postura cabisbaixa.
Endireito a coluna e os ombros.
— Sim, tudo bem — respondo colocando meus cabelos ruivos para frente, enquanto ela faz ajustes na parte de trás do vestido.
Conforme os minutos passam, fico imóvel aguardando a costureira terminar de tirar minhas medidas. Quando ela chega na minha cintura, pigarreio antes de falar.
— Você pode deixar a parte da cintura um pouco mais larga? — pergunto. — É que o casamento é daqui a três meses, não sei se até lá minha barriga vai ter crescido muito. Sou médica residente e meus plantões são bem puxados, então não sei se terei tempo de vir provar todos os meses. — digo de uma vez.
Esse assunto me apavora, porque ainda não contei para Benditt. Na verdade, desde que descobri estar grávida, nós m*l tivemos tempo um para o outro. Nossa vida é bem corrida e agora com os preparativos do casamento, nós dois estamos trabalhando demais para a nossa lua de mel, fora a distância em que moramos um do outro. Benditt mora no centro de Nova York e eu na costa, em Long Island.
Não consigo nem imaginar todas as mudanças que enfrentarei nesses meses à frente. O que mais me preocupa é ir morar no centro da cidade. Desde que vim morar em Long Island, não me vejo partindo para outro lugar, ainda mais para longe da costa, não sei se eu sobreviveria sem respirar maresia, parece que meu organismo necessita do oceano tanto quanto de água doce.
É por isso que tenho tentado não pensar no feto que estou gerando há quatro semanas. Só contei a “novidade” para Gwen, a pessoa mais próxima a mim. Ela está louca para começar a organizar tudo o que preciso para ser transformada em uma mãe de primeira viagem, mas não estou com pressa para que isso aconteça. Tenho oito meses para resolver isso, e enquanto ele estiver na minha barriga, terei total controle do que fazer. O que, no momento, não tenho controle, é da minha mudança para a movimentada cidade de Nova York, que tenho adiado cada vez mais.
O som da TV chama nossa atenção.
Uma das atendentes, com o controle na mão, está parada diante da tela enquanto o plantão de notícias é anunciado.
“Um homem foi encontrado nesta manhã por um navio cargueiro. As autoridades ainda não têm certeza da identidade dele, mas tudo indica que ele é David Nolan, desaparecido após um naufrágio em 2018.”
Pelo espelho, vejo Gwen se levantar no mesmo instante. Ela toma o controle da atendente e aumenta o volume da TV, enquanto as imagens do resgate ao vivo são exibidas. Corro até lá, descendo do suporte onde estava, a tempo de guiá-la até o sofá, onde, em choque, desmaia no segundo seguinte.
Assisto à reportagem, sentindo meu corpo começar a tremer enquanto tento processar o que estou vendo.
O celular de Gwen toca e eu atendo. Porém, ao ouvir o que dizem do outro lado da linha, o aparelho cai no chão.
— Gwen! — chamo, sacudindo ela. — Gwen! — tento despertá-la.
— Cass — Gwen me olha paralisada, e arrisco a dizer que seu rosto está aterrorizado.
— O corpo do seu irmão foi encontrado, e ele está vivo. — digo, sem saber se estou sonhando ou se esse é só começo de um pesadelo.