03 -PACIENTE

1385 Words
| C A S S I D Y C O O P E R | Estou no quarto copo de café, segurando firmemente a bateria de exames do paciente que agitou os corredores do hospital especializado de Long Island em plena segunda-feira. David Nolan. Enquanto a sala de cirurgia é preparada, ao lado da máquina de café, faço um exercício de respiração para controlar uma crise de ansiedade. Tenho tido muitas, desde que os preparativos do casamento avançaram. Faltam apenas três meses, e eu não tive tempo nem de ir à degustação do buffet. Tenho certeza de que Gwen terá que fazer isso por mim, assim como Maya, que está cuidando das lembrancinhas dos convidados. Fecho os olhos com força, lembrando-me de que essa crise de ansiedade não tem a ver com o meu casamento. Noto que minha mão está trêmula enquanto tiro todos os meus adornos e, por mais tempo do que deveria, encaro a correntinha que estava presa ao meu pescoço entre os dedos, antes de guardá-la. Todos os dias repito esse gesto, mas agora isso nunca mexeu tanto comigo. Ela está intacta de lá para cá. Quando tudo aconteceu, levei para banhar a ouro. Cuido dela como se fosse a coisa mais preciosa que tenho. Quando encaro o veleiro dourado na mão em que está meu anel de noivado, me frustro. Eu o carreguei comigo em todos esses cinco anos e isso sequer foi um peso para mim, mas agora com David de volta, parece ter sido o erro mais grave que já cometi com Benditt e ele sequer sonha com isso. Penso em tomar um comprimido de Valeriana, para tentar me acalmar, mas prometi para mim mesma que tomaria apenas para dormir, e meu estômago não está em uma boa condição para que eu tome algum remédio. Neste momento, está revirado com cafeína até dizer chega e eu tento firmar os pés no chão em cima do meu salto fino de seis centímetros que, em breve, serão substituídos pelos sapatos cirúrgicos. Meu plano para hoje era tomar café da manhã no refeitório com Samantha antes do primeiro paciente pós-operatório. Agora, David Nolan está na sala de cirurgia, e eu irei auxiliá-lo. Simplesmente não consigo firmar os pés no chão. Estou com ânsia de vômito, tontura, as mãos suando frio e, se não me acalmar, o simples fato de ver o joelho aberto do homem que namorei — e que, por cinco anos, achei estar morto — fará meu coração rasgar minha garganta em uma crise de pânico. — Doutora Cooper, estaremos prontos em vinte minutos, já chamei o anestesista e o doutor Terry. — Theo, o instrumentador cirúrgico, aperta meu ombro. — Tudo bem? — assinto na mesma hora, guardando a bandeja com meus adornos no armário ao lado. — Só preciso de um gole de café e já estou indo — informo, mas ele não se convence e ergue meu queixo. — Cass, seu lábio está branco e você está trêmula. — Ele observa, analisando meu rosto. Assim que Theo diz isso, ele me guia até um banco ali próximo, mas minha visão escurece antes de me sentar. ______________ Acordo com um cateter conectado a uma veia em meu antebraço. Quando recobro minha consciência e lembro onde estava antes de tudo escurecer, gemo frustrada. Estou em uma acomodação para médicos residentes, meus sapatos e meu jaleco estão em uma cadeira ao lado da cama em que estou deitada. Sento-me ainda sentindo meu corpo fraco e leio na bolsa de soro qual medicamento me deram. Na mesma hora em que vejo se tratar de um ansiolítico, arranco o esparadrapo do braço e tiro o conector da veia, pressionando o dedo em cima para não sangrar. Não gosto de tomar calmantes, isso porque eles fizeram parte de grande período da minha vida. Eu consegui, com o tempo, diminuir a quantidade e hoje faço o uso apenas da Valeriana, mas me custa muito às vezes ter que lidar com as crises da forma mais natural possível. Sei que grande parte dessa resistência é apenas eu tentando provar para mim que vou conseguir ficar bem, mas essa foi a única maneira que encontrei para lutar contra meu estresse pós-traumático que desenvolvi após a noite do naufrágio que sofri com David. Parecia que quanto mais antidepressivos e ansiolíticos eu tomava, menos eu me esforçava para manter meus pés no chão. Fazia anos desde o último ataque de pânico, mas agora, a simples hipótese de ver David na minha frente me deixa apavorada. Achei que tivesse esquecido aquela noite, mas a verdade é que tudo continua perfeitamente nítido na minha mente. Caminho até a gaveta da escrivaninha em busca de algodão, o que é mais fácil de achar do que água por aqui. Por fim, coloco o esparadrapo e visto meu jaleco. A porta se abre antes que eu possa sair, revelando Owen que se coloca de frente para mim. — Onde a mocinha pensa que vai? — Owen. — Cass — ele respira fundo, como se estivesse quase perdendo a paciência, e me puxa para sentar na cama novamente. Owen tem um pouco mais de quarenta e cinco anos, com seus 1,90 de altura, estatura forte, pele n***a e barba grisalha, é o terror dos residentes, porém estando em meu último ano como residente da equipe dele, nossa relação é quase de pai e filha, só não chega nesse patamar porque eu nunca o obedeço como um filho faria. Ele me olha em silêncio preocupado, fazendo com que eu encolha os ombros e depois, permite que eu deite em seu ombro amigo. Choro baixinho e ele só percebe isso quando dou a primeira fungada. — O paciente encontrado hoje em alto mar era o meu namorado que perdi no naufrágio — comento e ele assente, tensionando a mandíbula. — Eu soube depois que você simplesmente desmaiou e eu fui atrás da causa — Owen diz e se levanta, se colocando na minha frente com as mãos na cintura. — Cass, você tem noção do quanto essa atitude foi irresponsável? Onde estava com a cabeça quando achou que saberia lidar com essa situação sem me passar uma informação dessa? Eu jamais deixaria você entrar naquela cirurgia se soubesse. Onde fica o código de ética entre médico e paciente? — dessa vez, seu tom de voz sai como uma repreensão. — Eu deveria ter dito no momento em que você disse que eu teria que ajudar a operar o joelho e o quadril dele, mas a minha cabeça estava a mil, eu sinto muito. Owen solta um longo suspiro, levando as mãos à cintura. — Você quer uns dias em casa? Nego na mesma hora. — Por favor, se você quer de alguma forma me ajudar, não me afaste, ou vou acabar com os planos que eu e Benditt fizemos para o casamento, faltam só três meses para o fim da residência, se você me afastar, não vai dar tempo até o casamento. — dizendo isso, pego meus sapatos e os calço enquanto conversamos. — Isso faz cinco anos, eu estou noiva, vou me casar com Benditt daqui a três meses e o que eu menos quero, é ser afastada por causa disso. Vou ficar bem, só preciso… — suspiro fazendo uma pausa e aproveito para checar os bolsos do meu jaleco, certificando-me de que meu crachá está lá. —, comer alguma coisa. — Abro um sorriso que ele sabe que é forçado e dou as costas deixando ele para trás, mas a porta não bate. Owen vem logo atrás de mim. — Cass, por favor, não se esqueça do código de ética. Arqueio sobrancelha. — Por que está me dizendo isso? — Porque David Nolan será paciente desse hospital. Sei que está noiva, mas em três meses, muita coisa pode acontecer, e eu não quero perder você na minha equipe — assinto. — Não vai — garanto. Enquanto o tec-tec dos meus sapatos ecoam a cada passo que dou em direção ao refeitório, repito para mim mesma: David Nolan será meu paciente e eu, sou noiva de Benditt, o pai do meu bebê. David Nolan será meu paciente e eu, sou noiva de Benditt, o pai do meu bebê. David Nolan será meu paciente e eu, sou noiva de Benditt, o pai do meu bebê.
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