A cidade ficou para trás. O motor rugia, o vento chicoteava nossas roupas, e a lua amarelada subia lenta, vigiando nossos pecados. Helena soltou um grito de alegria quando cruzei a ponte sobre o rio Pinheiros; senti suas mãos apertarem meu abdômen, rindo contra a minha jaqueta. Paramos num posto 24 h perto de Embu-Guaçu para reabastecer e esticar as pernas. Encostados na moto, dividimos um pacote de batatinhas fritas e falamos sobre tudo que geralmente escondo — o acidente que matou minha mãe, a vida dupla entre reuniões de conselho e consertos de carburador, o medo constante de não ser suficiente para Emilly e Sarinha. Helena escutou sem julgamentos. Quando terminei, apenas tocou meu braço. — Talvez você exija de si mesmo algo que ninguém pediu — disse ela. — Às vezes, a gente carrega

