Cobra Meu nome é David, mas faz tempo que ninguém me chama assim. No mundo real, onde o asfalto come a carne e a estrada arranca a alma de quem não sabe onde pisa, me chamam de Cobra. E foi isso que eu virei. Um homem frio, rastejante, pronto pra dar o bote quando a presa acha que tá segura. Eu tinha quinze anos quando deixei de ser moleque. Naquela manhã, quando entrei em casa e encontrei minha mãe jogada no chão da cozinha, com a barriga de sete meses marcada de roxo, morta. Aquilo me quebrou. Me quebrou de um jeito que ninguém consertou. Ela tinha só trinta e um anos. Era uma menina quando me teve, e nunca deixou de tentar fazer o melhor por mim e pela minha irmã mais nova. Helena era pequena, franzina, com olhos grandes demais e perguntas demais. E eu precisei crescer na marra. O h

