⚣︎|cabelos de fogo|⚣︎
Um lençol branco salpicado por diversas cores de tinta que escorriam da parede e do pincel, dando vida tirando aquela branquidão insipida colocando cores vividas do pôr do sol feitas pelo garoto com calça de cintura alta larga segurada por um cinto preto e uma camiseta do Nirvana duas vezes maior do que o garoto meio franzino, um avental usado por muito tempo de sua mãe Com um furo na barriga transparente com desenhos de flores rosas em plástico cobria até o meio das coxas magras de Theodore, evitando manchar a roupa que vestia.
Cruzou os braços colocando o pincel em um pote cilíndrico grosso, branco e alto onde apoiava os pincéis ainda sujos, colocou a paleta do lado do pote apoiado na escrivaninha branca forrada por uma camada de jornal generosa para não manchar as coisas da irmã.
Franzindo a testa com os lábios contraído passou os olhos pela pintura ainda não terminada de um lado para o outro da parede preenchida por cores que tomavam forma de um lindo pôr do sol com um dragão feroz soltando fogo pela boca, sorrio lembrando da estranha nova paixão da irmã por esses bichos mitológicos assustadores.
A presilha da irmã que usava para prender o castanho cabelo que já passava da orelha com um formato levemente pontiaguda a qual não gostava e foi motivo de chacota na escola quando criança, quase tocava seu delicado, e considerado pelos seus colega, afeminado maxilar, era espeço e alguns cachos formavam na ponta emoldurando seu rosto angelical, passou as mãos brancas com veias roxas saltadas manchadas de tinta que usava enquanto pintava para mesclar algumas cores — não estava acostumado com a paleta que ganhou recentemente — para facilitar a pintura da parede. Agachou logo em seguida para pegar a presilha se demorou no chão vendo uma falha em sua pintura que facilmente poderia arrumar, antes de pegar a presilha rosa ajeitou o fone preto que sempre embolava do discman cinza tocando spirit in the sky, o gato amarelo encolhido na cama de cabeceira branca da irmã arrastada para o meio do quarto desajeitadamente para que ele pudesse pintar A parede que ela costumava deixar, olhou o relógio preto analógico no seu braço, achava incrível aquilo sem os ponteiros somente os números, antes de levantar cambaleando quase caindo de costas, o bichano reprovou com os olhos de cores diferentes, virou de costas para Ted e voltou a dormir, o garoto sorriu com Mercury o gatinho mais doce que aquela família conheceu de pelagem amarela, porte pequeno nomeado em homenagem a Fred Mercury que morreu por aquela mesma época.
— TEEEEEEEEEEED — uma voz aguda seguida de risadinhas histérica o chamou
Ted imerso na música não ouviu, o discman trocou a musica tocando rock and roll all nite em seu ouvido. A garota que o chamou, sua irmã, corria pelo corredor decorado com plantas e quadros branco e preto da família, a parede era forrada por um papel com flores rosas estampadas como a maior parte da casa, os pés com meias de lã escorregavam na madeira do chão, a garota com cabelos que batiam até a cintura ria alto deslizado de um lado para o outro usando as paredes como apoio.
— TEEEEEEEEED — Amy falou quase caindo.
Ted ouvindo agora a irmã tirou os fones da orelha e os segurou contra o peito.
— Oi Amy — Ted falou quando a garota de pouco mais de 6 anos apareceu na porta, sorrindo sem os dentes da frente se apoiou na porta, seu cabelo armado pela mãe e uma maquiagem chamativa de mais para garotas da idade de Amy indicava que a mãe e ela iriam sair, quando a irmã se aproximou sentiu o cheiro de rosas do perfume que a mãe sempre usava, quando criança Ted se perguntava se o perfume era infinito.
— Mamãe mandou você descer para comer algo antes da aula — apontou com os dedos roliços para o relógio rosa de ponteiros do quarto.
Ted se livrou do avental com um nó que o atrapalhou um pouco, dobrou e colocou no chão perto da parede quase pronta.
— E onde a senhorita vai? — o garoto perguntou segurando a mão dela.
— Vou sair com a mamãe — rio dando um abraço bem apertado no irmão. Andava muito alta Ted reparou, a garota que meses antes batia no meio de sua coxa já encostava a cabeça em sua barriga, no abraço a irmã olhou para ele com os olhos faiscando de felicidade — Obrigada pela parede está... Está.... FABULOSA! — Ted viu uma lagrima se formar nos olhos da irmã e com um carinho desajeitado passou a mão pelo cabelo cheio de gel da irmã.
Desceram as escadas e assim que chegaram na cozinha amarela, puderam ver a mãe com salto plataforma, um vestido até o joelho com estampa de estrelas brancas em um fundo azul a manga bufante, e o espeço cabelo como de Ted escovado para fora — usava desse jeito quando o cabelo estava sujo. Ted com a irmã se sentaram na mesa com uma toalha nova de crochê que a vô dera quando os visitou mas sempre esteve guardada. A mãe serviu a comida em pratos de porcelana fria branca entalhados com alguns desenhos de folhas prateadas.
— Margaret Thatcher, renuncia ao cargo premiê e ministra.... — um homem engravatado com terno marrom dizia na TV cúbica pequena com cores pálidas que sempre parecia esfarelar a imagem, além de uma listra cinza ocupar a parte de baixo da imagem
— Querido! — a mulher chamou da cozinha.
— Diga — um homem usando roupas casuais com camisa Polo e calça de moletom apareceu na cozinha segurando um pote de manteiga de amendoim em uma mão e uma colher na outra. Viciado nessa comida.
— A ministra Thatcher renunciou — falou se sentando a mesa e indicando com a cabeça a televisão.
— Mulheres na política não duram mesmo — fez o comentário sentando na cadeira vazia da mesa — mulheres devem trabalhar em casa, o mundo está perdido mesmo — colocou a colher no pote pegando um pouco da pasta e depois a colocou na boca, fez uma cara de prazer imediata — daqui a pouco.... Nossa isso é muito bom.... — apontou para o pote que devorava — daqui a pouco os... Como se chama? Gay? — olhou para o filho — daqui a pouco os gays e suas aids vão estar comandando esse pais.
— Não seja homofóbico querido, pode pegar alguns anos de. cadeia
— espero que na cadeia não tenham gays.
Ted se encolheu com as palavras do pai, soltando a colher com sopa de espinafre, a especiaria da mãe, seu estômago embrulhou e não entendeu de imediato por que as palavras proferidas pelo pai causou tais sentimentos. Olhou para irmã que derramava o líquido verde na roupa e discretamente para a mãe que parecia triste com os olhos baixos.
— Amy, cuidado com a sua roupa — a mãe falou quebrando o silêncio que se formou no cômodo — Se você se sujar não vou te levar para o pré-natal da sua irmãzinha — colocou a mão na barriga que crescia consideravelmente.
— Ou irmãozinho — frisou o homem lambendo a colher.
— Ou os dois — Amy que torcia secretamente para nascerem gêmeos soltou, a mulher que bebericava o suco de laranja engasgou e tossiu.
— Acho que um é suficiente querida — com suco nos lábios pintados de vermelho carmesim disse acariciando o cabelo duro com gel da filha — Ted — a mulher chamou o filho que saiu da mesa e pegou a mochila preta com alguns bottons.
— Sim, mãe
— Nada... Apenas, bom estudo e cuidado na hora de atravessar a rua — deu um sorriso carinhoso para o filho. — Vamos Amy se não mamãe vai ficar atrasada.
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— Já soube que você tem com alguém competir agora? — Nicoly uma garota que parecia ainda estar estacionada nos anos 80 disse subindo na bicicleta azul com alguns detalhes em rosa.
— Como assim? — franzindo o cenho indagou olhando nos olhos da menina que lembravam jabuticabas.
— Poucas pessoas podem competir com você e sua arte — isso fez o garoto sorrir de satisfação — Existe um ser misterioso, Kronos, como auto se nomeia — deu uma risadinha — dizem que sua arte é dos deuses — olhou para Ted que desfez o sorriso — Bem, ninguém sabe quem de fato é, pensei que fosse você e essa mitologia que cerca o seu cérebro de humanas, mas a arte dele é ROMÂNTICA, diferente da sua
— Como assim Nat?
— ah, saca? Ele, ou ela, não vamos ser sexistas Nataly, anda cobrando para dar, abre aspas o toque final fecha aspas, em cartas de donzelas apaixonadas. A letra dele, ou dela é INCRÍVEL.
— JORNAAAAAAAAL — um garoto n***o passou gritando na rua jogando jornais recém saídos na casa das pessoas — JORNAAAAAAAAL — gritava a todo pulmão
— Ele... — Ted começou um olhar de reprovação veio de Nataly que pedalava na bicicleta logo ao lado dele — ou ela... começou quando? — perguntou dando algumas pedaladas mais forte na bicicleta preta dos anos 50 que um dia foi de seu pai — não lembro de nenhum Kronos.
— ah, está famosa entre as garotas sua assinatura é perfeita, meu primo diz que sabe quem é mas você sabe, acho que está usando para me chantagear a fazer um b*****e para ele — Rio — brincadeira Ted, não precisa me olhar com essa cara de ursinho inocente.
Nataly sempre foi assim, atrasada no estilo como se suas roupas tivessem parado uma década, mas seu comportamento exagerado e sem escrúpulos pareciam estar mil anos a frente, não tinha medo de ser quem era, não possuía receio de dar a sua opinião sobre algo como sua ídolo Cyndi Lauper sempre cantando que garotas podem se divertir e seus visuais que Nataly, mesmo com pais conservadores, tentava reproduzir. Seu cabelo sempre estava armado e tingido loiro a raiz castanha era visível as vezes, mas seu sonho era colocar cores fantasias, usava delineado e maquiagem leve para a escola mas em casa no quarto fazia desenhos em seu rosto não tendo pudor em usar as misturas mais doidas de cores, além do mais em seu quarto e quando fugia para festas se vestia como uma v***a. Era uma v***a de roupa, mesmo indo para a escola, taxada de p**a mas pouco se importava, por que como dizia Cyndi, Girls just want to have fan.
Theodore se sentia livre na bicicleta os cabelos esvoaçavam no vento e atrapalhavam sua visão as vezes, mas valia, escondia suas orelhas e o deixava mais bonito, desde que aprendeu a andar pela insistência da amiga, se sentia melhor. Era melhor que andar ou andar de ônibus e ser algo de chacota mais do que já era pela arte que fazia, ou seus traço mais afeminados. Nataly sempre foi assim, incentivando ele e agora a irmã que ficava maravilhada, para não dizer fascinada com as maquiagens que ela fazia, a paixão por dragão também nasceu das histórias onde princesas lutavam com as feras sem precisar de um príncipe para o fazer.
Mães de Nataly e Ted cresceram juntas e espantosamente engravidaram no mesmo ano fazendo os filhos crescerem juntos até que senhora e senhor Campbell veio a falecer E os tios não aceitavam que ela brincasse com garotos, mas na escola tudo era permitido, então Um pouco distante Theodore que deveria estar no ápice dos hormônios acreditou que a amasse, e sim a amava mas não como uma namorada, mas como alguém que admirava.
O caminho para a escola todo asfaltado, graças ao bom deus, Ted ainda tinha medo de andar em lugares com o piso irregular, era meio longo, a maioria das vezes Nataly tentava puxar algum assunto ou ficava absorta no discman de segunda, ou terceira mão, já Ted divagava sobre a vida universo e tudo mais, se imaginava pintando a paisagem poluída de Londres ou se perguntava e no fundo esperava que os prédios altos de pedra fossem substituído por campos, odiava o barulho então em suma maioria ia ouvindo no volume máximo, as músicas que escolheu a dedo para montar sua próprio CD de rock. Respirou o ar poluído e continuou a pedalar arfando com a súbita subida íngreme que nunca se acostumou a enfrentar e que provavelmente nunca aconteceria.
Quando enfim avistaram a grande escola feita com pedras o garoto respirou aliviado não conseguindo mais dar uma pedalada.
— Esse morro ainda me mata — disse descendo da bicicleta antiga, Nataly deu um sorriso maroto para ele que retribuiu
O ônibus escolar amarelo apinhado de alunos estacionou na frente dos portões da escola, abriu a porta e dezenas de alunos cambaleantes empurrando um aos outros saíram dele, alguns respiravam mais forte o ar limpo sem cheiro de pum ou axila que o ônibus costumava ficar, ainda mais com os alunos no período da tarde. Mesmo quase morrendo com a ladeira que tinha que pedalar todos os dias lembrando das coisas que passou no ônibus se sentia grato por sua amiga ter o ensinado a andar de bicicleta. Tirou o capacete da mesma cor da bicicleta e pode ver o quarteto de couro preto mascando chiclete e fumando cigarros, Nataly também viu o grupo revirou os olhos e suspirou, diferente de Ted que sentiu os cabelos do braço arrepiarem, os dois irmãos, Sara e Jason apagaram os cigarros jogando as bitucas laranjas no chão e caminharam com uma espécie de marra forjada até Ted e Nataly que prendiam agilmente as bicicletas nos cadeados
— Quando vai tirar essa vassoura da cabeça Ted? — disse Jason passando a mão nos fios longos do cabelo castanho de Ted com os dentes bem apertados fazendo seu maxilar saltar um pouco oara frente
— E você v***a com quantos já dormiu hoje? — Acrescentou Sara passando os braços pelo tronco do irmão.
Para Ted a relação de Sara e Jason era confusa e nojenta ali entre os dois existia quase, se não um completo, i*****o. Passou a mão no cabelo ajeitando o que Jason desarrumou, queria socar ele um dia ainda o faria, assim desejava ao menos.
— Com quantos dormi hoje Ted? — Nataly indagou com a mão na têmpora a testa enrugada — Foram tantos acho que perdi a conta, devo estar cheinha de aids por que até com uma garota me deitei — Nataly passou a mão no cabelo, após isso com sutilidade aproximou a mão tentando encostar na garota de roupas de couro — Não parece tão corajosa fazendo isso senhorita Sara Willen — olhou de cima para baixo até os all-star pretos da mesma, queria escarrar neles mas se conteve os Tênis eram bonitos de mais para isso — ah, e bonito seus tênis Sara.
Pegou o braço de Ted que ficava encantado toda vez que sua amiga fazia algo do gênero, quando ela não se continha e explodia —a a maior parte do tempo. Olhando para o chão, já longe dos irmãos Willen caricatos de bad boys dos filmes que estavam lançando, folhetos sobre aids estavam espalhados, Ted se abaixou tateando o chão a procura de um que não estivesse molhado ou sujo.
— Isso é lixo Ted — Nataly se agachou e tirou das mãos do garoto — Não por que está no chão, mas c*****o olha as merdas que estão escritas — apontou para um — os homossexuais estão disseminando a doença... — engrossou a voz fingindo ser um apresentador de jornal das 21h — Diretor da universidade impronunciável da Alemanha morre após ter relações sexuais com um outro homem e pego aids, o depoimento de um colega “ele sempre foi muito gay Hitler veio para salvar o mundo dessas anomalias” — colocando o dedo indicador na boca imitou que estava vomitando — é serio que quer ler isso? Um monte de m***a, colocaram até Hitler no meio que nojo e ele era um verdadeiro genocida.
— Pensei que fosse algo melhor, algo verdadeiro — Ted falou ficando de pé
— Quer algo verdadeiro? Vire cientista.
Andaram as pressas ouvindo o sinal estrondoso da escola, o céu estava fechado e poderia chover. Como quase todos os dias na Inglaterra, Ted sorrio seguindo Nataly que tagarelava com um grupo de amigas alternativas que ela fez, cheiravam todas a cigarro e maconha coisa que Theodore a muito tinha se acostumado, bateu na mochila sentindo a sombrinha amarela, e quando olhou para cima novamente viu um garoto que de imediato despertou seu interesse, era alto para a média, ruivo o cabelo logo acima da orelha vestia uma camiseta larga e calças pretas meio justas de cintura média, distribuía panfletos. Observando o garoto se distanciou do grupo, Nataly o encarou franzindo a testa mexeu seus lábios sem sair som dizendo “o que voce tá fazendo?”, balançou a cabeça para a amiga de forma rápida ignorando a amiga
— Licença — Ted falou tocando no seu ombro, o garoto ruivo olhou de imediato para ele.
— Sim? — o timbre da voz dele era suave, fez os pelos de Ted se arrepiarem
— Poderia me dar um panfleto? — perguntou tirando a mão do ombro do menino e a estendendo.
— Claro! — O ruivo esticou o braço.
A mão com algumas pintas tocou a de Ted, sentiu o coração retumbar, os olhos castanhos profundo passearam pelo rosto do ruivo absorvendo cada detalhe da face do outro que continuava a sorrir, os lábios carnudos e com uma coloração mais rosada como se tivesse passado um batom para dar um ar de saldável, sardas cobriam o rosto, o nariz aquilino lembrando o focinho de uma raposa, o maxilar pontudo mas não exageradamente e alguns cachos feitos propositalmente caiam sobre sua testa e os olhos azuis com um brilho levemente verde que também discretamente passeavam pelo rosto de Ted, encontraram-se um calor, mesmo que não estivesse pela suave brisa que o vento soprava, atingiu o corpo de Theodore não entendia o que estava acontecendo mas parecia certo e ao mesmo tempo estranho o que aconteceu ali, não reconhecia o garoto por algum nome mesmo que já o tivesse visto algumas vezes nas aulas.
— Creio que os senhores deveriam estar indo para as respectivas salas — Uma voz mais grossa tirou a concentração de Ted do rosto de... Não lembrava o nome.
— ah, sim, desculpe — disse o garoto da voz suave para o homem com um terno preto e uma gravata que chamou atenção dos dois, patinho de borracha daqueles amarelos que crianças tomam banho ou levam para a praia estampados em um fundo azul.
— Obrigado — disse Ted puxando a mão com o papel.
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O laboratório de química com bancadas, branco de mais na opinião de Ted que rabiscava furtivamente o caderno com um lápis de escrever já pela metade, as pontas de seus lábios ressecados pelo clima estavam arqueador levemente para cima, o panfleto estava no meio de seu caderno era sobre Kronos, quando o pegou pensou que fosse algo mais relevante. Os alunos estavam em silêncio usando jalecos brancos e óculos de p******o, em duplas como sempre na aula da senhora Nan, a professora que jamais deu, para qualquer aluno em sua carreira, um A+. Alguns com sorte conseguiam um A mas a maioria ficava entre C e D, e Ted era a minoria que ficava com E.
Senhora Nan andava entre os balcões, seus paços faziam os alunos guardarem o que quer que estivessem fazendo, ficando enrijecidos na cadeira esperando uma possível pergunta da professora. Ted continuou a rabiscar absorto na face que desenhava, Nataly cutucou ele na costela, Ted confuso olhou a amiga com um vindo entre os olhos, sem falar nada apontou com a cabeça para a mulher que se aproximava.
— Hoje vamos trab.....
A porta se abriu bruscamente o garoto ruivo que Ted viu entrou na sala, a camiseta que antes dentro da calça estava solta em sua cintura e o cabelo com algumas folhas, seu rosto estava vermelho dava para ver no braço vergões vermelhos.
— De-desculpa senhora Nan — disse olhando nos olhos da mulher e depois passando os intensos olhos azuis na turma de quase quarenta alunos que o encarava sem vergonha alguma
— O que o senhor Fernsby estava fazendo fora da aula? — disse colocando uma das mãos em punho fechado no balcão de Ted
— Ouve um... Ouve algo e... — seus olhos pediam misericórdia para a professora não queria dizer, não podia dizer — e.... E.... Depois eu fui para....
— Sente no seu lugar Fernsby, espero que isso não se repita novamente.
— Sim senhora. — andou cabisbaixo até o seu lugar mais afastado da sala.
O coração de Ted se apertou vendo a situação que o garoto estava, queria poder ajudar, queria saber o que aconteceu para estar nesse estado. Lembrou dele, mesmo que ainda não de seu primeiro nome, sabia que era o excluído da turma de química, única matéria que fazia com ele, e sabia que era filho do relojoeiro da estação central de Londres.
— Como ia dizendo — A essa altura Senhora Nan já tinha andado até a porta e a fechado — Hoje vamos trabalhar em trio, montem os grupos rapidamente.
— Podemos chamar ele? — Ted apontou para o garoto ruivo com a cabeça apoiada nos braços.
— Oi Theodore — sorrio mostrando os dentes com aparelho rosa chiclete — posso fazer grupo com você?
— Não, ele não pode Clair — exclamou Nataly passando o braço sobre o pescoço dele
Clair saiu pisando duro no chão.
— Quem mesmo que você quer para o nosso trio Ted? — Nataly perguntou sem tirar o braço do pescoço do amigo
— O ruivo ali, Fernsby.
— Você quer dizer Ethan? — indagou
— Sim, esse mesmo.
Uma sombra se fez em cima deles, Nataly e Ted olharam para cima e viram o garoto ruivo, Ethan, ali.
— Já que vou ter que trabalhar em um grupo vocês me aceitam? — apontou para a sala com quase todos em trio já — Acho que a maioria está em um grupo já.
— Claro! — Ted disse animado de mais pulando para a cadeira do lado de Nataly — íamos te chamar mesmo.
— A cada trio será entregue um telescópio e misturas para vocês verem, um dos participantes terá q anotar, seja essa anotação a base de desenhos ou escrita — Senhora Nan olhou para a turma — Clair distribua as misturas.
A garota que era a única nota A da sala na matéria de química levantou e pegou os potinhos começando a distribuir, Clair era alta a coluna meio encurvada para frente, usava um aparelho para arrumar os dentes, óculos de fundo de garrafa , tinha os cabelos loiros e sempre estavam embaraçados preso em um r**o baixo com um elástico rosa, a cor preferida dela. Andou até o trio de Ted e colocou os potinhos de vidro tampados entregando uma folha pautada com linhas roxas rasgada desajeitadamente, Clair deu um sorriso amistoso para Ted fazendo Nataly olhar com cara de reprovação, mas Ethan abriu o caderno e começou a escrever o nome do trio com uma caligrafia excepcional.
— Que letra linda — ressaltou Nataly depois que Clair saiu
Ethan olhou para a letra e com uma expressão séria apagou, e reescreveu colocando menos arabescos, não agradeceu Nataly.
Durante o resto da aula, a ultima antes do intervalo, Ted passou desenhando o que via no telescópio, Nataly que não entendia nada de química ficou trocando bilhetinhos com uma garota gótica, dando algumas risadinhas.
— você é do folheto? — Ted perguntou para quebrar o gelo na bancada.
O garoto olhou para o caderno de Ted e viu uma parte do papel que lhe deu saindo para fora, sorrio assentindo com a cabeça, os cachos ruivos balançaram mesmo sua movimentação sendo suave.
— Outro papel desse Theodore Baker? — disse Nataly puxando o folheto — você é viciado nessas coisas né?
— A para Nataly, pensei que fosse algo interessante.
— Mas é — olhou para Ethan e depois para Ted que pintava uma célula — Se estiver apaixonado.
— Não estou apaixonado — Rebateu
— Seu sorriso b***a diz outra coisa. — Nataly falou — Quem é A sortuda? ou..... — Olhou para os dois lados e se inclinou perto de Ted — quem sabe O sortudo?
— A Nataly não começa — Ted suspirou largando o lápis —só por que você é Bissexual não quer dizer que todos são!
Nataly quase gargalhou contendo apenas por estar na aula da senhora Nan. Ted olhou-a com olhos semicerrados e balançou a cabeça negativamente desaprovando a amiga.
— Quem disse que falei em bissexual? — mostrou o boton com listra em cores de azul, roxo e rosa, deu um sorriso dando um beijo na pinta do dedo e depois na bandeira.
— O que é bissexual? — perguntou Ethan guardando a caneta Bic no estojo de metal.
— bissexual são pessoas que estão indecisas — falo Eric Collins entrando na conversa — São os que mais passam aids — mostrou um folheto dizendo as mesmas coisas — por que acabam passando para héteros como gente normal
Nicoly levantou na mesma hora, desde que falou que era Bissexual vinha enfrentando varias coisas do gênero, uma vez apanhou na rua por estar com uma garota de mãos dadas, quase expulsa de casa e correu para a casa de Ted onde ela se abriu sobre o que sentia.
— T-Ted eu me sinto uma aberração.... Deveria ter guardado isso... Isso só para mim — Nataly de alguns meses atrás chorava nos braços de Ted. Sua aparência era patética o delineado que chamava de gatinho escorreu pelo rosto todo da garota fazendo riscos pretos manchar sua pele pálida com manchas rosas pelo intenso choro.
— Você não é uma aberração — Disse Ted que até aquele momento acreditava nas mesmas nas mesmas coisas que Eric dissera. — Você só ama os dois gêneros e está tudo bem quanto a isso — falou passando as mãos nas costas da amiga.
— V-você não me acha uma aberração Ted? Uma indecisa que não sabe escolher entre p*u e b****a?
Ted estremeceu com o uso tão fácil que ela usava dessas palavras, nunca iria conseguir entender como utilizava indiscriminadamente aquelas palavras, e coisas do gênero a maioria com cunho s****l.
— Claro que não. Como você me disse só se atrai por ambos os sexos e tá tudo certo Nataly.
— Obrigada — Disse passando a mão com vergão vermelho pela surra do tio no rosto para secar as lágrimas — Você é um dos poucos que já me viu assim.... — saiu do abraço apertado de Ted — vulnerável — acrescentou.
— Sou o único — o garoto falou passando as mãos pelo cabelo da amiga.
— Sim você é o único....
Um silêncio irrompeu o quarto com telas em branco que Ted usando sua mesada comprou, a parede cheia de papeis grudados com fita adesiva mostrando os desenhos em aquarela, lápis de cor e giz de cera sempre tudo em tons apagados mas ainda sim coloridos.
— Meu tio disse que vai me levar para o culto e tirar o d***o que está dentro de mim — Nataly falou já jogando pack man no computador de tela azul do quarto do menino.
— Ai ai esse povo.
Ted saiu do transe a tempo de ver Nataly segurando o pescoço de Eric
— Repete o que disse Eric Collins.
Depois de apanhar de estranhos a garota revidava qualquer coisa sobre sua sexualidade.
— indecisa do c*****o? — Eric falou mas se encolheu rapidamente.
— O que está acontecendo aqui? — A voz fina da senhora Nan fez Nataly parar de enforcar Eric que tossiu varrias vezes tomando ar.
O sinal do intervalo tocou e Nataly saiu andando as pressas seguindo a menina gótica que foi a primeira a sair do grande laboratório de química com um suave cheiro de eucalipto misturado com compostos químicos. Ted correu atrás da amiga guardando o bilhete no bolso e o caderno e o estojo personalizado por ele mesmo segurado contra o corpo, tentava avançar entre a multidão de alunos das séries mais avançadas tentando chegar ao pátio para pegar os bolinhos empacotados sabor chocolate e por ventura suco de caixinha de suco de morango, mas o que desejavam mesmo era a cantina ou sair e tomar um pouco de sol em frente a grande escola. O garoto podia ver os cabelos soltos descoloridos de Nataly se misturando com os corpos das outras pessoas andava rápido sendo guiada pela garota gótica.
Por fim longe do barulho e aglomeração dos corredores pode respirar mais aliviado.
— Nataly! — o garoto falou agarrando o pulso com algumas pulseiras dela.
— Que foi Ted? — Perguntou — Vai se juntar a Clair.
— Ah, isso? — tirou do bolso traseiro da calça o papel que Clair havia lhe dado.
— Você não vê? Ela está dando mole para você dês do primeiro ano — Falou soltando a mão da menina que a acompanhava enquanto olhava cética para Ted — tenho um leve dó dela.
— Não Nataly, você entendeu errado. Clair é só sei lá alguém que pego as respostas de química e faço os desenhos de biologia.
Para provar o que dizia abriu que recebera, estava rasurado, algumas palavras borras e riscadas, a letra oval de Clair e desigual sempre em forma se encontrava mais o menos no meio da quela bagunça de rabiscos.
“Jogo do beijo, sala 3-A”