Capítulo 1

1763 Words
  Quando vou para a cozinha todas as crianças já estão sentadas na mesa conversando e comendo cereais. Verônica está no balcão preparando torradas e fazendo nosso café. Ela está silencio e distante, mas as crianças nem notam, eles já se acostumaram a não questiona-la sobre suas crises, não incomoda-la era o único jeito de agradecer por tudo o que ela fez por nós.      Verônica não só matara José, ela também enlouquecera por isso. Eu fui vê-la no sanatório uma vez, antes de ir para Londres. Seu olhar estava perdido e ela olhava para as mãos procurando algo. As enfermeiras não me permitiram entrar, mas me informaram que ela buscava constantemente por sangue nas mãos, dizendo que era uma assassina e que suas mãos estavam cheias de sangue.       Era para ser eu, se eu não tivesse esperado de mais, talvez José não teria a enlouquecido daquela maneira. Quando eu via as cicatrizes dela me lembrava de que foi por minha culpa, ela ficou para salvar minha família.   – Oi amor. – Inalo o pescoço de Verônica e sinto seu cheiro característico, ela tinha um cheiro de rosas silvestres e um pouco de canela. – Como você está hoje?  – Estou... – Ela demora a responder, sei que está pesando se deve dizer a verdade ou mentir. – Bem. – Ela preferiu mentir.   – Ótimo. O que você planeja fazer hoje?  – Depois que eu levar o Luiz para a escola estava pensando em dar uma passada na minha mãe.   – Está bem. – tento beija-la, mas ela desvia friamente. – Quer que eu passe pegar você?  – Claro. – Sorri.       Bebo um gole de café e me despeço das crianças e então vou para o trabalho.       No tempo que eu fiquei em Londres investi meu dinheiro em ações e acabei ganhando muito dinheiro assim, quando voltei para o Brasil montei uma ONG de apoio a vitimas de agressões e dou palestras em escolas e universidades sobre como superar ou denunciar os agressores. Não ganho muito dinheiro com isso, a maioria das atividades são voluntarias, mas a herança que me foi deixada era suficiente para termos uma vida muito boa e eu continuava investindo em ações, nada pagava aquele olhar de gratidão das pessoas que eu ajudava.      Estaciono meu carro na minha vaga e entro na ONG consulto minha agenda e vou para o escritório esperar pela reunião às dez da manhã. Faltam algumas horas até lá e aproveito para pensar no que farei no aniversario de Verônica, ela vai fazer vinte dois anos no final de semana e eu estava preparando uma festa, convidar os amigos e a família para comemorar mais um ano da pessoa que havia mudado minha vida.      Vivian está me ajudando com a festa, já fez uma lista de convidados e até contratou um Buffet e está enrolando Verônica, para que ela não desconfie de nada.      Bato a mão no bolso do paletó e sinto a caixinha de veludo preta. Dentro está uma aliança feita de ouro com uma pedra de diamante dando um toque de elegância e importância. Eu queria que toda vez que Verônica olhasse para aquela pedra soubesse que meu amor por ela não tinha limites. Eu sabia que riqueza não era importante, que mesmo sem um diamante ela sabia que eu a amava, mas quando vi aquela aliança, o diamante tão lívido e puro, achei que combinava com ela.     Pego a caixa e analiso a aliança, o brilho do diamante parece muito com o que vejo nos olhos de minha amada. Ela é tudo para mim, não imagino uma vida sem a presença dela, não importa quantas crises de pânico terei que suportar, não importa o quanto tenha que esperar para toca-la.      Minha secretaria entra na sala, sem bater, e anuncia que tenho uma visita, eu não esperava ninguém, mas distraído pelas lembranças de Verônica aceno afirmativamente indicando que a pessoa pode entrar.      Carla aparece com um sorriso e vai logo me agarrando, a ultima vez que nós vimos foi antes de eu viajar, a gente tentou sair, um encontro, mas eu não conseguia parar de pensar em Verônica e acabei a dispensando. Ela ficara muito brava e até chegou a dar um tapa em minha cara, agora parecia que éramos velhos amigos, como se nada tivesse acontecido.  – Sammy que saudades de você! – Exclama ela enquanto beija meu rosto incansáveis vezes.   – Carla? O que você faz aqui? – tento me soltar dela, mas é em vão.   – Já disse, estava com saudades. – Carla havia mudado muito desde nossos quinze anos, mas eu não podia afirmar que era para melhor. Ela estava pegajosa e sem o mínimo de senso. – Porque está sendo tão frio? Você ainda não desistiu de conquistar a maluquinha?  – Verônica e eu estamos morando juntos. – afirmo escondendo a caixa com a aliança. – E ela não é maluca Carla.  – Não? Ouvi dizer que ela passou um bom tempo no sanatório.   – Ela teve uma crise nervosa, o que é bem diferente de ser maluca.       Carla revira os olhos e se senta em uma das minhas poltronas, ela fica em silencio por um tempo até que finalmente mostra o por que foi ali:  – Sejamos sinceros Sammy – Ninguém, além dela, me chama mais de Sammy, eu já lhe pedi que não me chamasse daquele jeito, mas ela insiste em me lembrar do meu passado. – Você nasceu para ser meu, eu e você sobrevivemos ao caçador sem precisar cometer um crime, somos um par.   – Carla eu não sei o porquê de você estar agindo assim, mas vou lhe falar o que eu acho, não importa o que o destino me reservou, sabe porque? – Ela fica em silencio, mordendo os lábios de uma maneira irritante. – Disseram-me uma vez que eu nasci para matar, que era meu destino, mas eu nunca matei ninguém e se meu destino for ficar com você, bom ele também vai ter que ser alterado, porque eu vou ficar com a Verônica, ela é a única mulher que eu quero na minha vida, é ela que vai ser minha família e que vai envelhecer ao meu lado.  – Vocês estão juntos há quase três anos. – Carla parece irada. – Então porque ainda não pediu ela em casamento? Você ainda tem duvidas!   – Não, não tenho nenhuma duvida. – Tiro do bolso a caixa de veludo e mostro a aliança. – Amar Verônica é a minha única certeza.  – Você vai pedi-la em casamento? A mulher que dormiu com seu pai e seu irmão?  – Ela foi estuprada! – Perco a paciência e acabo gritando. Minha secretaria abre a porta com uma expressão de susto. – O que foi?! – Grito com ela também. Se tem uma coisa que eu não admito é que falem que Verônica dormiu com aqueles psicopatas, eu já me punia por ter pensando isso um dia, por isso não precisa ouvir isso de mais ninguém.  – A senhorita Soares está aqui. – Minha secretaria é uma senhora de idade bem educada e competente, sei que ela não merecia que eu me irrita-se com ela, ainda mais por causa de Carla.   – Olivia me desculpe por gritar. – respiro fundo e guardo, novamente, a caixa no bolso. – Não vai acontecer novamente, peça para a Verônica entrar daqui dois minutos.       Olivia fecha a porta e eu respiro profundamente tentando controlar toda a raiva que sinto. Carla sorri timidamente e se levanta para se despedir, eu tento ser educado e retribuir o abraço, acho que finalmente ela entendeu que poderemos ser no máximo amigos.   – Acho melhor eu ir. – murmura ela me dando um longo abraço.  – Volte sempre que quiser isso se estiver disposta a conversar.   – Está bem.        Ouço a porta se abrindo e tento soltar Carla para poder desfrutar do abraço que eu amo e desejo a cada segundo, o de Verônica, mas ela não me solta, ao invés disso me agarra ainda mais e tenta beijar minha boca em um ato desesperado. Acabamos por dar um selinho, não por minha vontade. Carla me solta e finge uma cara de surpresa ao ver Verônica:  – Ai meu Deus! – Ela exclama. – Não é isso que você está pensando!       Verônica coloca a mão na boca contendo um riso, Carla continua tentando fazer sua cena enquanto eu encaro os belos olhos castanhos da minha futura noiva.   – Samuel você não vai falar nada? – dou de ombros.   – Carla eu entendo o que você e o Sam teve no passado e entendo que você não aceita a maneira como o relacionamento de vocês terminou.     Verônica passa por Clara e vem até mim, agarra meu pescoço e levanta os pés para alcançar minha boca. Ela me beija carinhosamente, mas cheia de desejo e amor, como aquele primeiro beijo, ainda no cativeiro.   – Mas se você quiser beija-lo novamente tem que fazer direito. – Verônica me dá mais um beijo, lento e torturante já que não posso toca-la. – Isso sim é um beijo. Entende a diferença?      Carla sai marchando e xingando palavrões, mas Verônica e eu estamos ocupados demais para ouvir o que ela diz. Seguro minha namorada no ar e a coloco em cima da mesa, suas pernas seguram meu traseiro me trazendo para mais perto dela.   – Me desculpe por hoje, mais cedo. – Ela fala enquanto paramos para respirar. – eu tive pesadelos à noite toda e...  – Não precisa pedir desculpas. – Verônica aperta suas pernas em mim, como se quisesse mais perto, recuo um pouco com medo de que ela perceba o quanto eu a desejo.   – Não se afasta de mim.   – É que e-eu... – Gaguejo.   – Eu não uma boneca de vidro, não vou quebrar se você me tocar.   – O que você quer dizer com isso?  – Que eu te quero tanto quanto você me quer, então por favor para de agir como se eu fosse uma boneca de vidro.   – Eu te amo. – beijo-a mais uma vez enquanto minhas mãos deslizam pelas coxas dela, sua pele é macia, mas sinto as cicatrizes, cicatrizes que não me deixam esquecer o quanto a amo.       A verdade é que muitos se lembrariam dos momentos ruins ao tocar cicatrizes, mas eu a amava por tudo o que ela era e a amava ainda mais porque sabia o porquê daquelas cicatrizes. E ela era linda, sensual e perfeita, isso nunca mudaria, não importava o quanto de cicatrizes ela tinha.   – Jamais me deixe. – Ela sussurra. – Eu te amo.  
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