2

1492 Words
Andrew Olhando pelas janelas da minha cobertura, percebi que tinha Nova York na ponta dos dedos. O poder corria em minhas veias como fogo líquido. Levei anos para chegar até aqui, mas eu consegui. Quando eu tinha dezoito anos, alguém assassinou brutalmente meu pai enquanto ele estava sentado no carro em frente à nossa casa. Ele havia criado um império, e tudo poderia ter sido meu, mas eu me afastei porque não sabia em quem confiar. Eu era jovem demais, e os sapatos dele eram grandes demais para caber em mim. Se tinham conseguido matar o chefe de uma família criminosa notória na porta de casa, o recado era claro: qualquer um de nós poderia ser o próximo. Então, me escondi. Esperei o momento certo. E enquanto esperava, criei a minha própria dinastia. Para ser totalmente honesto, substituir meu pai nunca foi meu sonho. Eu não queria ser como ele — um bastardo c***l, incapaz de ser marido ou pai. Passei a infância inteira tentando agradá-lo, buscando um olhar de aprovação que nunca veio. Quando ele morreu, em vez de me sentir destruído, eu me senti livre. As outras famílias me desprezaram por não lutar pelo território nem correr atrás de vingança. Mas vingança não enchia bolsos, não mantinha navios nos portos, não comprava lealdade. Eu tinha outros planos. E o que conquistei hoje era muito mais valioso: algo que ninguém poderia arrancar de mim. Quinze anos depois, eu estava de volta. Trilhar esse caminho me custou sangue, silêncio e tempo, mas, com Giovanni meu irmão mais novo, ao meu lado, erguemos algo sólido. Juntos, não havia nada que não pudéssemos alcançar. Nossos aliados nos respeitavam, nossos inimigos nos temiam. O sobrenome Bonanno ainda abria portas, mas agora, quando entrávamos em uma sala, éramos vistos como uma força própria, inegável. Nada poderia nos impedir de tomar o que era nosso por direito. Só faltavam as alianças certas — aquelas que abririam os portos, manteriam o fluxo das cargas e tornariam o processo “pacífico”. Quando tudo se encaixasse, não haveria muro alto o bastante para nos deter. — Andrew. — A voz de Giovanni me tirou dos pensamentos. Ele saiu do elevador e veio até a janela, fixando os olhos na cidade que fervia abaixo de nós. Silencioso. Isso nunca era bom. — O que te traz aqui tão cedo? — Podemos ter um problema. Essas eram palavras que eu não queria ouvir da boca dele. Giovanni cuidava dos problemas antes que chegassem até mim. Se ele vinha me procurar, significava que a coisa era grande. — Acredite, eu preferia te trazer cem boas notícias agora — acrescentou. Giovanni sempre foi o mais paciente. Enquanto eu fechava acordos e dobrava vontades, ele mantinha o motor girando no dia a dia. Era preciso muito para tirá-lo do eixo. Um nó se formou na minha garganta. — O que aconteceu? — O Nicolau não está respondendo às mensagens. Estou preocupado. Nicolau. Um dos meus homens mais leais. Um dos poucos em quem eu confiava a ponto de dar tarefas que poderiam custar vidas se dessem errado. Ele nunca falhou. — Onde ele foi visto pela última vez? — Estava em Nova Jersey, supervisionando a remessa. — Justo a carga mais sensível, entregue ao único homem em quem confiávamos para isso… e agora ele some? — Não tenho notícias desde ontem à noite. — Giovanni olhou para o celular como se esperasse que ele tocasse naquele instante. Pensei por um momento. — Ele poderia ter ido para o subsolo. Se achou que estava sendo seguido, ou se os federais estavam na cola, Nicolau saberia desaparecer. Ele foi treinado para isso. — É possível. Mas você sabe que ele não costuma sumir sem dar sinal algum. — Ainda não passaram vinte e quatro horas. — Cruzei os braços, tentando me convencer tanto quanto a ele. — Se Nicolau sentiu cheiro de problema, ele vai recuar. Ele não é t**o. — Quando é que você entra em pânico, hein? — Giovanni arqueou a sobrancelha. — Se eu fizesse isso, já estaríamos mortos. Um homem não chega até aqui sem sangue frio. — Bati o punho fechado contra a palma da outra mão. — Então, temos alguma informação? — Nada confirmado. Mas há rumores de que Marcel Torello anda bisbilhotando, fazendo perguntas sobre nós. Minha expressão endureceu. — Espero que não seja ele. Porque, se for, vou ter que revidar. E isso… não é um movimento que eu pretendo fazer agora. Torello não era qualquer figurão. Ele era a muralha contra a qual muitos já se quebraram. Se uma guerra começasse, a cidade inteira sangraria. Mas, ao mesmo tempo, ter Torello ao meu lado seria como ter o próprio d***o assinando meu contrato. — Sei que você sonha com uma aliança com ele, mas não tenho certeza se dá pra confiar. — Gio foi até a cozinha, pegou duas garrafas d’água e voltou. — Ainda pensa em insistir? Peguei a garrafa que ele me lançou. — Eu nunca disse que confiaria nele. Mas se conseguir dobrá-lo… o território se expande. — Quanto mais você quer expandir? — Ele deu um meio sorriso, mas seus olhos estavam sérios. — Não viemos até aqui para parar agora. — Abri a garrafa, mas nem bebi. — Se Torello não se curvar, eu quebro ele. Com palavras ou com pólvora. Giovanni respirou fundo, ajustando o relógio no pulso. — Então a questão é: o que você vai ter que sacrificar para ter essa aliança? — Não se preocupe, irmãozinho. Eu nunca faço nada que não queira e nunca negociarei nada que não for bom para nós. Só farei o que nos beneficiar. — Você nos trouxe até aqui. — Pretendo levar-nos até ao topo. Aquilo não era um sonho. Era uma promessa. Anos atrás, alguns dos mafiosos mais reverenciados riram de mim por sequer tentar realizar o que eu havia planejado. Hoje, eles não estavam rindo. A maioria tentava aprender comigo. Outros mantinham a cabeça baixa, torcendo para que eu não invadisse seu território. Eu era um homem honrado. Meu lema era simples — não mexa comigo que eu não vou te f***r. Mas nem Deus pode te ajudar se você me trair. — O que você quer que eu faça com o Nicolau ? — Giovanni olhou o celular. — Devo esperar mais algumas horas? — Veja o que você consegue descobrir. — Segui pelo corredor até o meu escritório. — Se o Marcel teve algo a ver com isso, vamos fazê-lo pagar. — Seria uma atitude estúpida da parte dele, e ele não me parece um homem e******o. — Todos nós cometemos erros e temos lapsos de julgamento. Ele pode ter nos subestimado e, se for esse o caso, vai responder com a vida. — Não vá matar o chefe antes que eu volte com as provas — Giovanni riu. — Seu temperamento tende a te dominar. — É por isso que deixo você cuidar das pessoas. — Acenei para ele quando entrou no elevador. — Não aguento mais tanta estupidez. — Entrarei em contato com você em algumas horas. — Fiquem seguros — eu disse enquanto as portas do elevador se fechavam. Assim que entrei no escritório, meu celular vibrou no bolso. A maioria das pessoas me mandava mensagens ultimamente, mas havia algumas exceções. Quando tirei o aparelho, a tela exibiu o nome do antigo segundo em comando do meu pai. Maksim Moretti tinha sido como um tio para mim e para Giovanni. Ele não escondeu sua decepção quando me afastei, mas nunca deixou de apoiar as minhas escolhas. Ele foi uma grande vantagem para mim, alguém que me ajudou a entender as entrelinhas dos negócios e a evitar armadilhas que poderiam custar caro. — Maksim — atendi. — Como vai? — Estou bem — respondeu ele. — Que bom que você me atendeu. — Eu sempre atenderei você. — Fico feliz em ouvir isso — ele riu baixinho. — Você também pode ficar feliz quando ouvir o que eu tenho a dizer. — Bem, se você acha que vou ficar feliz, deve ser algo bom. — E, de fato, eu precisava de uma boa notícia depois da visita de Giovanni. — Muito bom. — Não me faça esperar. — Sentei-me à mesa, ansioso para ouvir o que ele tinha a dizer. — O que você tem para mim? — Encontrei uma maneira de você expandir seu território e obter tudo o que seu pai tinha… e muito mais. — Estou ouvindo. — Um acordo está sendo negociado, e você está na posição perfeita para aceitar os termos. Eu tinha certeza de que Maksim não me faria perder tempo com um acordo de merda. Se ele achasse que era a decisão certa, eu seguiria seus instintos. — Você se beneficiará de muitas maneiras — disse ele. — O que eu tenho que fazer? Do outro lado da linha, houve uma pausa carregada de peso. — Casar.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD