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1966 Words
Sophia Enquanto caminhava em direção ao escritório do tio Marcel, meu grande momento de coragem de repente não me pareceu uma boa ideia. Sebastian estava certo. Agora não era hora de dizer a ele que eu queria deixar a família e cursar Direito. Meu coração batia acelerado, e minhas mãos suavam, mesmo segurando a alça da bolsa com força. Quando entramos no escritório dele, minha tia já estava lá, sentada atrás da mesa, impecável em sua postura rígida. Meu estômago embrulhou. Mesmo morando na mesma casa, eu tentava evitá-la o máximo possível. Fazíamos refeições juntas, mas jamais tínhamos conversas significativas. Houve uma época em que ela falava da minha mãe de uma maneira que nunca me pareceu justa. Meu tio rapidamente pôs fim à situação, mas eu sabia que Tatiana e minha mãe nunca foram amigas. Talvez minha tia se ressentisse de mim por eu ser filha da minha mãe. Talvez irritasse vê-la refletida em mim. Desisti de tentar entender. Nunca nos daríamos bem, e eu estava bem com isso. — Entre, Sophia — disse meu tio, com aquele sorriso raro que parecia significar aprovação. Sophia? Não era sempre que ele me chamava assim. — Olá, Sophia — disse minha tia, sem sequer me olhar. — Está tendo um bom dia? — Na verdade, não… mas sim — respondi, tentando não deixar transparecer o nervosismo. — Sente-se — meu tio indicou o sofá de couro em frente à sua mesa. Fiz o que ele disse. Antes de se sentar, ele se serviu de um copo d’água da jarra sobre a mesa e bebeu sem pressa, observando-me com seus olhos escuros e atentos. Meu nervosismo cresceu enquanto esperava para ouvir o que ele queria. Senti como se tivesse sido chamada à sala da diretoria sem saber pelo quê. Nunca tinha me metido em encrenca antes. Mesmo no internato, eu era reservada e cuidava da minha vida. Mas se alguém tivesse me chamado à sala principal, imaginei que seria assim. — Você não está encrencada, Sophia — disse meu tio, dando um tapinha reconfortante no meu joelho. — Eu te chamei aqui para algo positivo. — Ah — murmurei, aliviada. — Preciso da sua ajuda com algo, e acredito que você é a única capaz de cumprir essa missão tão importante — disse ele, com um olhar que misturava confiança e expectativa. Missão? Meu coração disparou. — Nossa família precisa de você. Sei que não vai nos decepcionar. — Seu tio está depositando muita fé em você — minha tia resmungou, tamborilando as unhas vermelhas no carvalho da mesa. — Não tenho certeza se você está totalmente à altura dessa tarefa. — Bobagem — meu tio elevou a voz. — Não vou mais tolerar esse tipo de conversa, Tatiana. — Tudo bem — ela balançou a cabeça, incomodada com minha presença, mas o que mais havia de novo? — Diga a ela o que você quer. — Decidi que você deveria começar a ganhar a vida com esta família — disse ele, seus olhos escuros fixos nos meus, capturando minha atenção. — Eu te mantive protegida porque era o melhor, mas agora tenho o emprego perfeito para você. — Achei que já estava ganhando a vida — murmurei, tentando manter a voz suave e firme, embora estivesse à beira das lágrimas. — Eu me esforço ao máximo aqui na empresa. — Você faz um trabalho fantástico, mas não é isso que quero dizer quando falo em “ganhar a vida” — ele suspirou. — Sei que você não é tão ingênua assim, Sophia. Você sabe quem somos e o que fazemos. Lê jornais, pesquisa na internet. Não somos apenas advogados aqui, e você é experiente o suficiente para saber disso. — E se ela não estiver — interrompeu tia Tatiana — então ela definitivamente não está à altura dessa tarefa. Ela recuou diante do olhar severo do marido. Quanto mais minha tia insistia que eu não estava pronta, mais eu queria aceitar a missão. Quão r**m poderia ser? Eu já a tinha suportado por anos. — O que você quer que eu faça? — perguntei, ansiosa para encerrar aquela tensão e voltar à minha própria vida. — Essa é a minha garota — ele sorriu. — Temos uma oportunidade única que vai fortalecer a presença desta família e mostrar a todas as outras que estamos no comando e que viemos para ficar. — Houve alguma ameaça? — perguntei, lembrando-me de conversas ouvidas entre meu tio e meus primos. Sempre havia alguém tentando tomar ou roubar território. — De jeito nenhum. Mas às vezes precisamos agir antes que uma ameaça se aproxime. Recebi uma proposta de aliança que nos beneficiará — ele fez uma pausa — e é aí que você entra. Eu não conseguia imaginar o que poderia fazer para ajudar com uma aliança da máfia. Mas ele nunca tinha me pedido ajuda antes. Talvez, se eu aceitasse, estaria em melhor posição para discutir minha faculdade de Direito. Se o ajudasse, ele ficaria em dívida comigo. Certo? — Você conhece Andrew Bonanno? — perguntou ele. — Sei quem ele é — respondi, lembrando do casamento do mês passado. — Um traficante de armas implacável. Ele estava lá, no centro das atenções, se não me engano. — Exato — minha tia acrescentou. — Você chamou atenção dele no bar. Como ela sabia disso? Tentei ignorar, mas não estava errada. Fui pegar uma bebida, e ele olhou para mim. Não tentou esconder que me observava. Seus olhos verdes eram hipnotizantes. Eu desviei o olhar, envergonhada. Mesmo depois de um mês, aquele breve encontro ainda ocupava meus pensamentos. — Eu notei como ele olhou para você — continuou tia Tatiana — e não me esqueci disso ao negociar esta aliança. — O que eu tenho a ver com isso? — perguntei, me virando para meu tio. — Como posso ajudar com Andrew? — Não confio nele — respondeu ele. — Então por que fazer uma aliança com ele? — questionei. — Não precisa confiar em alguém para algo assim? Ele me lançou um olhar sério. — Pode se tornar uma união forte e útil no futuro, mas antes preciso ter certeza absoluta de que ele não vai nos trair. A união das famílias Torello e Bonanno pode beneficiar a todos, mas preciso ter cuidado. Preciso saber que não é uma armadilha. Me mexi na cadeira, ansiosa e ao mesmo tempo apreensiva para ouvir como eu me sairia em tudo aquilo. — Preciso que você me traga informações — disse meu tio, direto, sem rodeios. — Sobre Bonanno? Quer que eu pesquise sobre ele? — Respirei fundo, tentando manter a calma. Aquela tarefa não parecia tão r**m assim. — Sou boa nisso. — Eu sei que sim — respondeu ele. — Mas vai ser um pouco mais complexo do que apenas pesquisar sobre ele. Como eu disse, esse é um trabalho que, tecnicamente, eu poderia fazer. — Só vou deixar você lidar com isso — disse ele, a confiança em sua voz me pesando no peito. — Estou depositando muita fé em você, mas sei que não vai me decepcionar. Minha tia mordeu o lábio com força, e eu fiquei surpresa por não ver sangue. Ela não tinha a mesma fé em mim que meu tio, mas sabia melhor do que desafiá-lo novamente. Sua dúvida só me fez querer me provar ainda mais. Se meu tio acreditava que eu conseguia fazer isso, eu mostraria a ele que sim. — Posso fazer o que você precisar — respondi, tentando soar firme, mesmo sentindo a pressão esmagadora sobre meus ombros. Se meu tio me ordenasse algo, não havia escolha: eu teria que cumprir. Quero confiar no Andrew, mas ele é jovem e impulsivo. Preciso descobrir seus planos e interceder quando necessário. Não vou permitir que destrua tudo o que conquistamos. — Por quanto tempo terei que fazer esse trabalho? — perguntei, tentando parecer calma, mas minha voz traía meu nervosismo. — Não posso responder a isso — meu tio se levantou e lançou um olhar para minha tia. — Vai levar o tempo que for necessário. Como eu conseguiria essa informação? Isso certamente envolveria passar tempo com Andrew. Eu m*l conseguia ficar a poucos metros dele num bar sem tremer sob seu olhar intenso. Como eu iria extrair qualquer informação sem que ele percebesse minha intenção? Ele era astuto, muito astuto, e eu ainda era apenas uma garota tentando provar meu valor. — Andrew é um homem interessante — disse minha tia, a voz carregada de advertência. — Nada fácil de lidar. Ele tem pouca paciência e fama de ser c***l. — Por que você acha que ele vai me contar algo? — perguntei, sentindo meu coração acelerar. — Como vou conseguir as informações necessárias se ele não confia em mim? — Você ganhará a confiança dele — respondeu minha tia, a firmeza na voz abalando-me. — Ele não terá motivos para duvidar de você. Estou colocando você em uma posição que lhe garantirá acesso a tudo o que precisamos. — Por que ele confiaria numa assistente jurídica? — perguntei, tentando entender o panorama completo. — Especialmente uma que trabalha na sua empresa e é parente sua? — Esse trabalho exigirá habilidades completamente diferentes — disse minha tia. — Espero que você esteja à altura. Você não é a mulher mais experiente, mas tem potencial. — Tudo que ela precisa fazer é ser ela mesma — meu tio acrescentou, fazendo um gesto em direção à porta enquanto meus primos entravam correndo. — Você mesma disse que já intrigou o Andrew. — Todo rosto bonito intriga Andrew — disse Lionel, entrando no escritório. — Ele está acostumado a conseguir o que quer. Espera… eles esperavam que eu… Sebastian sentou ao meu lado. — Você está bem? — Ela está bem — respondeu minha tia, como se nada fosse de importância. Agora, vendo os olhares estranhos que trocavam, eu estava tudo menos bem. Implorava com os olhos para Sebastian me ajudar, mas ele continuava distraído, torcendo a gravata entre os dedos, alheio à minha ansiedade. — Temos certeza de que essa é a melhor opção? — perguntou Lionel, hesitante. — Andrew é um canalha c***l. — Já analisamos todas as nossas opções — meu tio bateu a palma da mão na mesa, fazendo-me dar um pulo. — Isso é um acordo fechado. Sophia servirá a família porque é a única que pode fazer isso agora. Ela nos dará as informações que precisamos. A sala mergulhou em silêncio. Ninguém ousou contrariar. — Entenderam? — gritou meu tio, sua voz ecoando pelo escritório. Eu tinha certeza de que a equipe toda o ouviu, mas como ele perdia a paciência com frequência, ninguém parecia se importar. Assenti, confusa e apreensiva. Não sabia o que exatamente esperavam de mim e tinha medo de perguntar. — Não serei questionado por nenhum de vocês. Sei o que é melhor para essa família — ele continuou, olhando para cada um de nós. — Sempre soube. Eu sustento todos vocês. Não só deixarei um legado, mas a família Torello colherá os benefícios pelas gerações futuras. — Bem, nesse caso — disse Mason, bagunçando meu cabelo como fazia quando eu era criança. O contato deveria me incomodar, mas, estranhamente, me confortou. — Parabéns. — Parabéns? — murmurei, confusa. — Obrigada, mas a tarefa não parece uma promoção. — Não estou falando da tarefa — ele sorriu maliciosamente. — Estou falando do seu noivado, futura Sra. Bonanno. O sangue subiu à minha cabeça, e um arrepio percorreu meu corpo. Meu estômago se revirou. Quando olhei para minha tia, o sorriso vermelho-sangue que cruzava seus lábios parecia zombar de mim. Ir para a cadeira elétrica teria sido muito mais fácil do que isso, porque ser jogada para o lobo era brutal demais para qualquer coração humano.
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