Luz Narrando
O frio intenso bate contra o meu rosto trazendo uma sensação de realidade. O lugar é estranho e a luz do ambiente era escassa, mas suficiente para me mostrar a brutalidade daquele lugar. Minhas mãos estavam atadas e o metal frio das algemas queimava a pele dos meus pulsos. Olhei ao redor. O local era pequeno, sufocante, com as paredes metálicas refletindo a angústia nos olhos das outras garotas.
Meu nome é Anya Luz Ivanov, mas há tempos não ouço alguém me chamar assim. Todos me conhecem como Luz. Sou ginasta desde os três anos. Minha mãe acreditou no meu sonho e investiu tudo para que eu me tornasse uma atleta olímpica. Tudo parecia um conto de fadas até o dia em que a vida me arrancou da minha realidade e me jogou nesse pesadelo.
Dois anos. Dois anos presa nesse inferno, vivendo entre paredes que testemunharam o pior da humanidade. Eu sobrevivi porque aprendi a me dobrar sem quebrar. Já fingi desmaios para evitar ser violentada, já chorei em silêncio quando vi outras meninas sucumbirem ao horror. Agora, vendo os rostos pálidos ao meu redor, percebi que éramos mais do que eu imaginava.
— O que vocês vão fazer com a gente?
Igor — Calem a boca e fiquem paradas! — gritou um dos homens, sua voz ecoando como um trovão.
Eu me encolhi instintivamente, mas meu olhar era de desafio. Já não era a garota assustada que eles capturaram. Agora eu era uma sobrevivente.
Flashback On
Lembro-me do dia em que tudo começou. Estava treinando na academia quando um homem elegante, vestindo terno, se aproximou de mim e da minha mãe. Ele disse que representava uma agência internacional que patrocinava atletas em ascensão. Promessas de patrocínio, viagens e olimpíadas. Meu coração disparou de alegria. m*l sabíamos que aquilo era uma armadilha.
No dia seguinte, fui levada para o que pensei ser uma avaliação de rotina. Lá, outros homens me cercaram, e antes que eu pudesse entender, fui jogada dentro de uma van. Minha resistência foi inútil. Eles estavam preparados, e eu, vulnerável. Quando percebi, já estava presa.
Flashback Off
Agora, vendo os rostos ao meu redor, percebi que cada uma tinha sua história, seu próprio pesadelo. Algumas choravam, outras pareciam catatônicas, como se já tivessem desistido de lutar.
— Para onde estão nos levando? — perguntei, a voz falhando de tanto medo e desespero.
Um dos homens, com um charuto pendurado na boca, riu enquanto ajustava seu casaco de couro.
Boris — Você vai descobrir logo. E, quem sabe, se der sorte, eu te guardo pra mim. — Ele passou o dedo pelo meu rosto, e eu me afastei, mas a parede fria me impediu de ir mais longe.
— Tira suas mãos sujas de mim agora! — gritei, minha voz carregada de raiva.
Ele riu novamente, mas o brilho nos olhos dele mostrou que eu o havia irritado.
Yuri — Você tem coragem, garota. Mas aqui, isso não vai te levar a lugar nenhum.
Senti uma lágrima escorrer, mas engoli o choro. Não daria a ele o prazer de me ver quebrar.
Depois de horas de viagem, fomos retiradas do que parecia ser um contêiner móvel. A brisa fria do lado de fora me fez estremecer. Tentava identificar onde estávamos, mas tudo parecia um borrão. O chão era duro, provavelmente concreto, mas o ambiente parecia abafado.
Quando abriram uma porta, nos empurraram para dentro de um espaço menor. Lá dentro, havia mais mulheres, todas em condições deploráveis. Algumas estavam feridas, outras desmaiadas. O cheiro de sangue e urina era quase insuportável.
Boris — Agora fiquem quietas e esperem. Logo seus destinos serão decididos. — O homem do charuto disse, fechando a porta com um estrondo.
Sentei-me no chão, abraçando meus joelhos. Olhei para as outras meninas, tentando encontrar alguma faísca de esperança.
— Ei, qual é o seu nome? — sussurrei para uma garota ao meu lado. Ela me olhou com olhos inchados de tanto chorar.
— Nina... — ela respondeu, quase inaudível.
— Vamos sair daqui, Nina. Eu prometo. — Minha voz soou mais confiante do que eu realmente estava.
Ela balançou a cabeça negativamente, mas eu sabia que precisava acreditar, nem que fosse apenas para manter minha sanidade.
O tempo parecia não passar. Não havia janelas, e a luz fraca do ambiente só aumentava a sensação de claustrofobia. Ouvi passos do lado de fora, seguidos pelo som de cadeados sendo destrancados. Meu coração disparou.
Quando a porta se abriu, três homens entraram, todos com armas nos cintos. Um deles segurava uma prancheta, como se estivéssemos em um leilão.
XXX — Vamos começar com as mais novas. — disse ele, apontando para uma menina que m*l parecia ter 12 anos.
— Não! — gritei, levantando-me de repente.
Os homens pararam, surpresos com a minha ousadia. Um deles veio na minha direção e me deu um tapa tão forte que caí no chão. O gosto de sangue inundou minha boca.
Igor — Quem você pensa que é para abrir a boca? — ele gritou, chutando minha barriga.
Eu gemi de dor, mas não me arrependi. Se tivesse que lutar, lutaria até o fim.
De repente, uma ideia me ocorreu. Lembrei das aulas de autodefesa que minha mãe insistiu que eu fizesse antes de entrar para a ginástica profissional. Não eram muitas, mas talvez fossem o suficiente.
Com dificuldade, me levantei e olhei para o homem nos olhos.
— Vocês podem me bater, mas nunca vão me quebrar.
Ele veio para cima de mim novamente, mas dessa vez eu estava preparada. Usei todo o impulso do meu corpo para acertar um chute no joelho dele. Ele gritou, cambaleando para trás.
— Corram! — gritei para as outras meninas.
Algumas hesitaram, mas outras se levantaram e começaram a correr em direção à porta. O caos se instaurou. Os outros dois homens tentavam controlar a situação, mas éramos muitas.
Consegui pegar a arma caída do homem que havia atacado e apontei para os outros.
— Abaixem as armas, ou eu atiro! — gritei, tentando soar mais corajosa do que realmente me sentia.
Eles hesitaram, mas o som de gritos e passos vindo do corredor pareceu distraí-los.
— Vamos sair daqui, agora! — gritei para as meninas que ainda estavam paradas.
E, naquele momento, enquanto corríamos pelos corredores estreitos, eu sabia que aquela era a minha chance. Talvez não fosse suficiente, mas era tudo que eu tinha. E eu não desistiria sem lutar.
Quando comecei a correr, senti algo de metal ser arremessado na minha cabeça. A dor foi instantânea e aguda, como uma explosão dentro do meu crânio. Meu corpo caiu pesado no chão, e minha testa bateu com força no piso frio. A visão escureceu por alguns segundos, mas o som dos passos se aproximando me trouxe de volta à realidade.