Luz Narrando
Levantei a cabeça lentamente e vi o sangue escorrendo pela minha testa, quente e viscoso, descendo até a ponta do meu nariz. A tontura quase me venceu, mas eu sabia que não podia parar. Engatinhei alguns centímetros, tentando me afastar, mas logo ouvi a voz grave e furiosa de um dos homens.
Boris — Agora você vai se ver comigo, sua desgraçada! — gritou, sua voz reverberando como um trovão no ambiente fechado.
Antes que eu pudesse reagir, senti uma mão pesada agarrar meu braço e me puxar com brutalidade. A força com que fui erguida fez meu corpo todo protestar. Ele me segurava como se fosse um saco de lixo, sua raiva evidente em cada movimento.
Boris — Eu sabia que você seria problema desde o primeiro dia! — ele rosnou, me jogando contra a parede com tanta violência que o ar saiu dos meus pulmões.
Antes que eu pudesse recuperar o fôlego, outro homem veio em minha direção, o punho fechado, e acertou meu rosto com tanta força que senti meu corpo inteiro tremer. A dor foi insuportável, irradiando pelo meu crânio como uma onda esmagadora.
Com cada soco que ele me dava, meu corpo parecia ceder um pouco mais. A cada golpe, parecia que a minha alma estava deixando meu corpo, como se eu estivesse me dissolvendo naquele inferno.
“É o fim?”, pensei, com lágrimas de desespero misturadas ao sangue que já não conseguia conter. Mas, mesmo enquanto a dor ameaçava me consumir, uma pequena parte de mim ainda gritava para continuar lutando. Eu sabia que, se parasse agora, nunca mais teria outra chance.
Levantei a cabeça com dificuldade, o gosto metálico do sangue preenchendo minha boca enquanto meu corpo tremia de dor. O chão de metal frio raspava contra minha pele, mas não era o suficiente para anestesiar a dor que parecia vir de todos os lugares ao mesmo tempo. Minha visão estava turva, e o som das risadas daqueles desgraçados ecoava, misturado aos meus próprios gemidos de agonia.
Igor — Vai implorar, é? — Um deles, o mais alto, se aproximou, seus passos pesados reverberando no chão. — Vai chorar, princesinha? Acha que alguém vai te ouvir aqui? — Ele riu, a gargalhada c***l que me fez estremecer ainda mais.
Eu tentei falar, mas minha garganta parecia queimada, seca, e tudo que consegui foi um som rouco e baixo. Mas eu precisava tentar.
— Por... favor... — murmurei, minha voz m*l saindo, mas ainda assim eu tentei. — Só... me deixa... viver.
As palavras m*l tinham deixado minha boca quando ele abaixou, segurando meu queixo com tanta força que achei que fosse quebrar. Ele me encarou, seus olhos gelados cheios de desprezo e crueldade.
Igor — Viver? — Ele repetiu, zombando, e olhou para os outros, que também começaram a rir. — Ouviram isso? Ela quer viver! Como se isso fosse escolha dela.
— Misericórdia... — sussurrei, as lágrimas caindo sem controle enquanto minha cabeça pendeu para o lado. Eu não tinha forças para lutar mais, meu corpo estava acabado, mas minha mente ainda buscava alguma fagulha de esperança.
O mais baixo, que parecia o líder deles, deu dois passos à frente. Ele acendeu um charuto e soprou a fumaça na minha direção, seus olhos analisando meu corpo como se eu fosse uma mercadoria danificada.
Igor — Misericórdia? — Ele falou devagar, saboreando cada sílaba como se estivesse se divertindo. — Aqui não tem essa, bonequinha. Você tá no nosso mundo agora. E aqui a gente faz o que quiser.
Senti meu coração acelerar de pavor. Ele virou para os outros homens e fez um sinal com a cabeça. Um deles veio até mim e me levantou à força, seus dedos grossos apertando meus braços com brutalidade. Meu corpo protestava, minhas pernas cederam, mas ele me manteve em pé.
Boris — Joga ela no container. — O líder ordenou, sua voz firme e fria.
Fui arrastada sem cerimônia, meus pés arranhando o chão. Eu tentava me debater, mas cada movimento parecia inútil. Estava fraca demais, machucada demais. Eles abriram a porta de um container e me jogaram lá dentro com tanta força que meu corpo bateu no metal, e eu caí de cara no chão novamente.
O cheiro dentro do container era horrível, uma mistura de mofo, óleo e algo que eu não conseguia identificar, mas que fazia meu estômago revirar.
Antes de fechar a porta, um deles se abaixou, olhando para mim com aquele sorriso sádico que eu nunca ia esquecer.
Yuri — Fica aí, quietinha. Aproveita pra pensar na merda que fez. E não esquece... você pertence a gente agora.
A porta se fechou com um estrondo, e a escuridão tomou conta.
Sozinha, na escuridão abafada, senti o desespero me consumir. Tentei me mover, mas meu corpo doía demais. Minhas mãos tocaram o chão frio, e eu senti o gosto amargo das lágrimas e do sangue que continuavam escorrendo.
— Por favor... alguém... me ajuda... — sussurrei, mas minha voz parecia desaparecer no vazio.
Minhas memórias começaram a voltar em flashes confusos. Minha mãe, meu treino de ginástica, as risadas das minhas amigas... Tudo parecia tão distante, tão inalcançável. Como eu tinha chegado aqui? Como tinha permitido que eles me enganassem tão facilmente?
Eu me senti sufocada, o ar pesado do container apertando meu peitö. Mas, mesmo assim, algo dentro de mim ainda se recusava a morrer. Não podia acabar assim. Não depois de tudo.
Eu precisava resistir. Não por mim, mas pelas outras meninas. Pelas que ainda estavam presas, sofrendo tanto quanto eu, ou talvez até mais. Minha mente começou a trabalhar, apesar da dor. Precisava encontrar uma saída, um jeito de sobreviver, um jeito de lutar.
Com cada minuto que passava, a dor parecia diminuir, ou talvez fosse meu corpo simplesmente aceitando o sofrimento como normal. Eu respirava fundo, mesmo que o ar ali fosse insuportável. A cada suspiro, eu repetia para mim mesma: não desiste, Luz. Não desiste.
Do lado de fora, eu conseguia ouvir vozes. Eles estavam conversando, rindo, planejando o próximo passo. O som dos passos deles parecia um lembrete constante de que meu tempo estava acabando.
Mas eu sabia de uma coisa: enquanto eu tivesse um fio de vida, enquanto meu coração batesse, eu não ia desistir. Mesmo que isso significasse lutar até o último segundo.
Minha mão encontrou algo no chão do container, uma lasca de metal enferrujado. Agarrei com toda a força que me restava. Não era muito, mas era alguma coisa. Alguma coisa para me lembrar que eu ainda tinha um pouco de controle, mesmo naquele inferno.
Com a lasca na mão e a respiração ofegante, eu fechei os olhos por um momento e murmurei para mim mesma:
— Se for pra morrer... eu vou morrer lutando.
E, naquele instante, percebi que minha luta estava apenas começando. Acabei desmaiando, consumida pela dor....