Hades Narrando
Ligação On
Hades: Dan, tem como colar no Tuiuti no início da noite? quero tu e o Túlio e o Gula , junta a tropa da varredura noturna, hoje voltaremos a ter os container, só que vamos em dois lugares diferentes. – Falei sem dar espaço pra ele.
Dan : Tá bom, Hades.Algum problema?
Hades: Eu vou descobrir em breve. Só faz o que tô pedindo.
Dan: É, nós irmão. – Ele fala já desligando.
Ligação Off
Sem dar espaço para descanso, peguei o rádio e
pra convocar a tropa do Tuiuti. Tento ao máximo manter a mente ocupada. A busca pelo meu avô é incansável. Já se passaram cinco anos, e ninguém consegue tirar da minha cabeça que ele está vivo. Foram muitas noites vagando pelas ruas do Rio de Janeiro. E as coisas dentro daqueles contêineres chamaram minha atenção. Não pode ser só coisa da minha cabeça; tem algo a mais aí.
Rádio On
Hades: Geral na escuta?
Buchecha: Fala fiel! – Buchecha dá o ar da graça.
Tralha: Estou pô cá mano pode falar.
Marrento: Na escuta aguardando direcionamento. – fico em silêncio do outro lado da linha.
Hades: Geral na praça em 5 minutos. – Falo e aperta o botão esperando a resposta dele.
Buchecha: tô aqui já.
Tralha: aguenta aí que tô chegando.
Marrento: positivo e operante.
Hades: Jaé. – Foi minha última palavra. – Falei firme já desligando.
Rádio Off
Não havia espaço para questionamentos. A tropa sabia que, quando eu chamava, era pra resolver. E, dessa vez, o peso era maior. Tinha algo se mexendo nas sombras do meu RJ, algo que ameaçava desestabilizar o meu império.
A praça estava cheia quando cheguei. Os cria estavam espalhados, em pé ou sentados nas mesas de concreto, mas o clima era diferente. Todos sentiam o peso no ar, o silêncio que antecede a tempestade.
Buchecha foi o primeiro a me abordar, vindo com aquele jeito desleixado, mas atento.
Buchecha — E aí, irmão. Que foi? Algum sinal de quem tá mexendo na nossa área?
— Não ainda. Mas vou descobrir. — Respondi, olhando ao redor. — Cadê o Tralha e o Marrento?
Buchecha — Tralha foi buscar algo pra comer. Tu sabe como ele é – Balancei a cabeça, irritado, mas não surpreso. A fome de Tralha é igual a do Gula nunca respeitava hora ou lugar.
Eu subi num dos bancos de concreto, chamando a atenção de todos. Meu tom de voz era firme, cortando o barulho ao redor como uma lâmina.
— Escutem bem, porque não vou repetir. Algo tá acontecendo no nosso território. O porto tá mais sujo do que deveria, e eu quero saber quem tá tentando passar por cima de nós. Alguém tá brincando com fogo, e vai acabar queimado.
Os olhos de todos estavam em mim. Eles sabiam que, quando eu falava assim, o assunto era sério. No meu mundo, traição era paga com sangue.
— Quero todos vocês atentos. Não deixem nada passar. Buchecha, Tralha e Marrento, vocês ficam comigo. O resto, se espalham pelos Morros e busquem informações. Qualquer coisa fora do normal, me avisem imediatamente.
Eles assentiram, cada um se movendo para cumprir sua parte. Mas antes que pudessem se dispersar, ouvi freada brusca e logo passo rápido atrás de mim. Me virei era Sofia, minha irmã.
Sofia — Mateo, preciso falar com você. Agora.
Ela me chamava pelo nome de batismo, e isso nunca era bom sinal. Olhei para os cria e fiz um gesto para que continuassem com seus afazeres. Desci do banco e me aproximei dela, cruzando os braços.
— O que foi, Sossô?
Ela olhou ao redor antes de falar, certificando-se de que ninguém mais podia ouvir.
Sofia — Tem um boato correndo entre os Morros. Dizem que tem alguém de fora tentando comprar os moleques dos Morros. Prometendo dinheiro, armas, até mesmo proteção. – Meus olhos estreitaram, o sangue esquentando. Isso era mais do que uma afronta. Era uma declaração de guerra.
— Quem? — Perguntei, minha voz baixa, mas carregada de ameaça.
Sofia — Não sei ainda. Mas vou descobrir.
Eu fiz o sinal breve com a cabeça, apertando os punhos. Sofia sabia que, mesmo sendo minha irmã, ela não tinha imunidade se fosse pega escondendo algo. Do mesmo jeito Era Eu com ela, ela sendo a líder geral no Comando no Rio de Janeiro.
— Descubra logo. E, Sossô... cuidado. – Ela concordou, o olhar dela tão sério quanto o meu.
Sofia – Estou indo para o Morro da Mangueira, por aqui tá tudo sob controle né? – Balancei cabeça dizendo que sim, entrou no carro jogando um beijo no ar e seguiu em direção a barreira.
O barulho dos rádio chiando, já avisando que cada um está no seu posto, era troca de plantão, mas geral estava ligado, se precisar estamos aí para trampar.
Final da tarde...
Mais tarde, eu estava na minha sala novamente, o baseado já quase no fim, já tinha batido aquele rango que tinha pedido para um dos Menor trazer na boca para mim. Sai dos meus pensamentos com Tilápia entrando sem bater. Ele parecia mais sério do que o normal, o que já me deixou em alerta.
Tilápia — Chefe, temos um problema. – Ele dá aquela rodeada, porque com certeza tem alguém da tropa envolvido.
— Fala logo, porrä.
Tilápia — Encontramos dois moleques no beco atrás da quadra. Um deles tava com uma sacola cheia de dinheiro, e o outro... ele disse que foi pago pra espionar nossos movimentos. – Eu me levantei devagar, sentindo a raiva subir como um incêndio descontrolado.
— E onde eles estão agora?
Tilápia — Na quadra. Estamos esperando tua ordem. – Eu saí da sala sem dizer mais nada, Tilápia me seguindo de perto.
Quando chegamos na quadra, os dois moleques estavam ajoelhados no chão, cercados pelos cria. Um deles tremia tanto que parecia que ia desmaiar. O outro tentava manter a pose, mas eu via o medo nos olhos dele.
— Quem foi que mandou vocês? — Perguntei, a voz baixa, mas mortal.
Eles se entreolharam, hesitantes. O silêncio deles só aumentava minha raiva.
— Eu não vou perguntar de novo. — Dei um passo à frente, sacando o canivete do bolso.
O moleque mais novo começou a chorar, mas o outro, mais velho, tentou se manter firme.
Moleque — A gente não sabe o nome. Só falaram que o chefe é de fora. Disseram que iam pagar bem se a gente passasse as informações. – A lâmina do canivete brilhou sob a luz fraca da quadra.
Eu me agachei, segurando o queixo do moleque mais velho e forçando ele a me olhar nos olhos.
— Isso é tudo?
Ele concordou, tremendo.
— Bom. — Sorri de lado, mas era um sorriso vazio, frio. — Agora você vai pagar por isso.
Menor — Eu sabia que ia dar merdä, falei pra ele não aceitar, que tínhamos que falar com o senhor. – O pilastra do mais velho tentava impedir o outro de falar.
— O que é isso? – Ele me entregou o celular, já aberto em umas gravações.
Menor – Eu gravei chefe. – Coloquei pra reproduzir, e realmente o menor estava falando a verdade, e o outro dizendo que não ia dar em nada.
— Então tu fez de caso pensando né? É tem haver com as cargas. – Sem falar mais nada, fiz o que tinha que fazer. O que aprendi com o Imperador, com a Imperatriz e com o meu coroa o grande Master.
E ali, na quadra, sob os olhares atentos dos cria, eu mostrei por que sou chamado de Imperador das Trevas. A mensagem tinha que ser clara. No Tuiuti, traição não tinha perdão. E quem ousasse desafiar o meu império, encontraria apenas trevas..
Menor — Chefe, eu... – Apenas faço um sinal com a cabeça. Ele, chorando, balança a cabeça em concordância e sai correndo pelo beco, desaparecendo da minha vista.
— Tilápia, daqui para frente é com você. Pede para limpar tudo, e, se procurarem por mim, segue naquele esquema. – Faço o toque com ele, que apenas acena com a cabeça, já sabendo do que se trata.
Hoje não pretendo voltar sem resposta. Nem que eu passe a noite vasculhando bem mais do que dois portos.....