A Enfermeira do Traficante (MORRO)

Capítulo 7

Terror narrando

Tô de pé no centro do galpão, braços cruzados, o corpo tenso, mas firme. Meus olhos passam por cada um dos moleques à minha frente. Vinte vapores, tudo com aquela cara fechada esperando o que eu vou falar. Eles não piscam, não se mexem. RD tá ao meu lado, quieto, com o olhar cravado num ponto específico da sala. Ele já conhece o esquema, mas até ele tá tenso. Dá pra sentir na sua postura.

Não tem margem pra erro. Eles precisam entender isso.

Escuto o som do meu próprio sapato raspando no chão de concreto quando dou um passo à frente. Levanto o queixo devagar, olhar firme. Seguro.

Terror: Escuta aqui, e escuta bem.

Faço uma breve pausa, Continuo.

Terror: Amanhã tamo na missão de um carro forte que vai passar pela Rio-Niterói. Nossa chance. Duas Captiva pretas, blindadas. Vocês vão entrar na frente, fechar o trânsito e descer já com os fuzis na mão. Sem vacilar.

Eles se mexem, inquietos, mas ninguém fala nada. Continuo andando, devagar. Meu olhar varre o rosto de cada um, fixando neles o que eu tô dizendo. Frio, calculista. Eu sou assim. Sempre fui. Eles me conhecem e sabem que não adimito erro.

Terror: Máscara no rosto. Sem rosto, sem pista. Vocês cercam o carro forte, abrem a porta. Pegou o dinheiro, vazou. Direto pro ponto de troca. No meio do caminho, vocês trocam de carro. E cada dupla vai pra uma direção. Não inventa de subir a p***a do morro.

Minha mandíbula tá travada, sinto os dentes se pressionando uns contra os outros. Tenso pra c*****o.

Terror: Sete dias sumidos. Nada de contato, nem com a mãe de vocês. Vocês se encontram depois de uma semana. Só vou avisar quando o local estiver seguro.

Meu tom é firme. Não aceito questionamentos. .

RD dá um passo à frente. Eu noto como ele respira fundo antes de falar, o peito dele se inflando, pronto pra assumir o comando da missão. Ele levanta o queixo ao falar.

RD: Tô no comando da missão e escolho o L7, Gordo, n**o, N1, Leco e Narizinho pra irem comigo.

Os moleques olham pra ele e assentem, menos o n**o, que abre um sorriso malandro.

Nego: Moleza, chefe – ele diz, rindo. É isso que eu odeio, moleque que acha que tá numa brincadeira. Depois leva tiro de fuzil na testa sabe nem de onde veio.

Dou dois passos rápidos, olho direto nos olhos do n**o. O sorriso some no mesmo instante. É assim que tem que ser.

Terror: Não quero risadinha, c*****o! Aqui é papo de sujeito homem. Mole é o que tu tem entre as pernas, p***a. Quero atitude, ação e, principalmente, não quero perder ninguém. Tá ligado?

Não vou deixar um moleque desse f***r com tudo.

Terror: Isso aqui não é brincadeira. O que tá em jogo é a vida de vocês, c*****o! Todos vocês aqui têm família, tem um porquê de querer voltar pra casa. Então postura nesse c*****o! – meu olhar varre a sala, sentindo a tensão aumentar. Ninguém se atreve a levantar a cabeça.

Nego: Foi m*l, chefe – murmura com a cabeça baixa, sem coragem de me encarar.

Narizinho: A gente vai fazer o que for preciso, Terror. Tá tudo certo. – ele fala confiante, mas eu vejo na cara dele que tá cagando de medo.

Terror: RD é o chefe da missão. Quem tá com ele, tá comigo. E se ele cair, vocês caem junto. Morô? – meu tom é firme.

O silêncio deles é minha resposta.

Eles concordam, faço um gesto com a mão, indicando que já tá na hora de sumirem e prepararem tudo. Eles saem, um a um, em silêncio. Só eu e RD ficamos.

Meus olhos ficam fixos no chão por um tempo, enquanto a mente corre solta, longe dali. Não é só o assalto. Nunca foi. É o controle. Cada movimento é pra garantir que o poder nunca saia das minhas mãos. Preciso de dinheiro pra comprar armamento novo. Sempre tô atrás de mais. Não adianta ficar parado. É fuzil, é pistola, é explosivo... até drone a gente tem agora. O que eu construí aqui não é brincadeira. Não é atoa que geral do comando encosta aqui pra pedir ajuda. Sabe como é, né? Somos a maior favela do Rio e a mais preparada. E eu fiz isso.

Isso tudo exige sacrifício, estratégia. Não posso deixar o bagulho enfraquecer.