Capítulo 1
Any narrando:
Olho pro meu irmão sentado no sofá, os braços cruzados e o olhar sério cravado em mim. Ele balançava a cabeça, sem acreditar no que eu tinha pedido.
RD: Só pode tá de zoação, né, c*****o?
Any: Não, quebra essa pra mim, maninho?
Tentei usar meu melhor sorriso, aquele que sempre derretia o coração dele, mas sabia que seria difícil convencê-lo dessa vez.
RD: Tu sabe como a cabeça do Terror funciona, pô. Ele não vai aceitar e vai dar caô essa p***a.
Ele falava enquanto me olhava com seriedade, mostrando que aquilo não ia ser fácil.
Any: Vai dar se você não me ajudar. A garota tá na pior, e tipo, só eu posso ajudar ela.
RD: Ela não tem mais ninguém pra desenrolar essa fita? Tu nem conhece essa mina direito, c*****o.
Ele continuava sentado, me olhando sério, balançando a cabeça em negação.
Any: Eu conheço a Manu e coloco minha mão no fogo por ela. c*****o, a mina tá fudida e eu já te contei a história toda. Quebra essa, RD — pedi, fazendo um gesto de súplica.
RD: Isso não tá certo — ele negava com a cabeça. — Que horas essa mina brota aqui?
Any: Às 17h — falei, dando um sorriso sem mostrar os dentes, enquanto ele se levantava, ainda negando.
RD: Vou ver o que eu consigo, mas tu tá ligada que, se der algum b.o., o Terror vai pra dentro de você sem sombra de dúvidas. E não vou poder aliviar pra tu. Tu sabe como funciona favela.
Any: Sim, sim. Obrigada, maninho — o abracei forte e ele saiu de casa.
Manu narrando:
Fecho os olhos, me lembrando que há pouco tempo estava em uma cama de hospital, completamente desenganada pelos médicos e recebendo a pior notícia da minha vida. De que minha mãe tinha falecido.
O infeliz do meu padrasto atirou dez vezes na minha mãe à queima-roupa e também tentou me atingir, mas a arma falhou, e ele só conseguiu efetuar um disparo que acertou minhas costas e atravessou meu pulmão.
Como eu caí desacordada ele achou que eu também estava morta e fugiu.
Abro os olhos ao ouvir a voz do motorista que me chama.
Motorista: Chegamos, não posso entrar mais aí pra cima. Tem que descer aqui — ele falou, e eu logo desci, entregando uma nota de cem reais. — Não, minha filha, a corrida deu menos que isso.
Ele negou, mas eu insisti, e ele acabou aceitando ficar com o troco. Olhei para a barreira que a Any já havia me explicado, onde os meninos ficavam. Foi quando a vi vindo em minha direção.
Any: Irmã! — ela falou alto, com aquele jeito alegre e expansivo. — Como foi a viagem? Deu tudo certo?
Manu:Tudo certo, irmã. Cansativa, mas foi tranquila.
Any:Tu tá tão pálida. Vamos subir pra você descansar.
Ela caminhou em direção a uma moto, e eu a acompanhei. Subimos, e ela acelerou pelas vielas. Descemos em frente a uma casa de dois andares com um ponto de comércio embaixo.
Coloquei minha mochila no sofá assim que entramos, e ela me apresentou a casa, mostrando os cômodos, tentando me deixar mais à vontade. Sentamos no sofá da sala, e aproveitei para explicar melhor toda a minha situação.
Falei sobre como tudo aconteceu, e era impossível não chorar ao lembrar da minha mãe.
Manu:Ela era tão alegre, uma mulher incrível, e foi morta por um monstro que ela amava.
Any: Infelizmente, é sempre assim. Como alguém que jura amor eterno é capaz de fazer tamanha crueldade? Aqui no morro o que mais tem é marido batendo em mulher. Algumas levam pros meninos, outras apanham e não entregam o infeliz.
Manu: Quem me dera se eu tivesse percebido os sinais. Ele nunca demonstrou ser capaz disso. Nem um empurrão, nem uma voz alta, ele parecia ser o marido perfeito. Até minha mãe descobrir os chifres que ele colocava nela — falei, passando a mão no rosto, secando as lágrimas.
Any:Imagino. Mas essas coisas não têm como prever. Como você conseguiu sair viva? Você disse que ele deu uns dez tiros nela, né?
Manu: Minha sorte foi que a arma falhou. Mas como ele viu que eu estava perdendo sangue ele achou que eu estava morta e fugiu.
Any:Foi Deus, irmã.
Manu: Foi mesmo, porque fiquei um bom tempo internada na UTI — me levantei, levantando a blusa e mostrando a marca da bala nas minhas costas, do lado direito.
Any: c*****o, Manu. Tu tem que agradecer muito, porque porran — ela passou a mão em cima da cicatriz, que agora nem doía mais.
Manu: Agradecer a Deus e a você que me salvou amiga. Enquanto ele estiver foragido eu não tenho paz — falei, voltando a me sentar. — Assim que acordei e contei que foi ele, minha tia me disse que ele ia me visitar todos os dias. Ela achou estranho ele ficar rodando o hospital. E me aconselhou a ir embora.
Any: Ele devia ter medo de você entregar ele e quem sabe lá poderia tentar novamente.
Manu: Sim, com certeza. Até então todo mundo achava que tinha sido latrocínio e ele conseguia continua se fazendo de bom moço.
Any: c*****o, mas agora você tá protegida. Relaxa, porque aqui ele não é nem doido de tentar subir. Os meninos fazem ele virar pineira.
Manu: Deus te ouça — fiz o sinal da cruz, e ela sorriu, vindo se sentar ao meu lado e me abraçando.
Ficamos conversando mais um pouco e rindo. Depois, me levantei e fui arrumar as poucas coisas que consegui trazer.O quarto era simples, mas aconchegante, e aos poucos fui me sentindo mais em casa.
Quando terminei, fui até a cozinha ajudar Any a preparar o jantar. Ela, sempre sorridente, não parava de falar enquanto mexia nas panelas.
Any: E aí, vai aprender a cozinhar, né? — ela brincou, me cutucando com o cotovelo.
Manu: Sou ótima na cozinha. Amanhã vou fazer o almoço e você vai ver a delícia que é o meu tempero - falo me gabando e encosto no balcão da cozinha próximo a ela que mexe nas panelas.
Any: Combinado então, amanhã as panelas são suas - ela fala rindo e concordo
Manu: Mudando de assunto, como você tá? Continua namorando aquele garoto?
Any: Que nada, miga! Minha vida deu uma reviravolta nesses últimos três anos. Terminei com ele, conheci uns gatinhos novos, porque, né, sozinha eu não fico! Mas nada sério.
Manu: Nossa, conta tudo! Vocês pareciam tão apaixonados... - digo, começando a lavar as panelas que ela tinha usado.
Any: Ah, é uma longa história, mas vou te contar...
Ela começa a me falar sobre o fim do namoro e menciona que até trocou uns beijos com um tal de Igor, mas não passou disso. Nós rimos juntas, e conversávamos assuntos totalmente aleatórios, falei também sobre como estava a minha vida e foi bem legal. Lá na minha cidade, eu nunca tive uma amiga assim; era só eu e minha mãe.Quando nos sentamos para comer, o cheiro da comida invadia a casa.
Any: Amanhã te mostro o morro, tu vai ver que a galera aqui é firmeza — ela sorri, me entregando um cobertor.
Manu: Tô ansiosa pra conhecer tudo aqui e também começar a trabalhar. Tenho dinheiro pra me virar por um ou dois meses no máximo — respondo, puxando o ar fundo, abraçando o cobertor pra me esquentar.
Any: Relaxa, amanhã a gente resolve isso. Já até pensei numa parada! Fica suave — ela diz, sorrindo, enquanto se despede.
Ela segue pro quarto dela, e eu fecho a porta do meu novo quarto. Meus olhos percorrem cada cantinho desse lugar que agora é meu. Tomo um banho quente, coloco um baby doll, passo meus cremes e o perfume Mamãe e Bebê que sempre uso pra dormir. E finalmente, durmo o sono dos justos, sentindo a segurança de estar longe do Elias.
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AVISO IMPORTANTE
Gostaria de deixar claro que, como autora, não compactuo com violência, crimes ou qualquer tipo de conduta ilegal. Este livro é uma obra de ficção, criada puramente para entretenimento, sem qualquer compromisso com a realidade. Embora retrate elementos presentes em algumas comunidades, trata-se de uma narrativa ficcional, não realista e sem intenção de romantizar ou glorificar o crime.
Reforço que o crime não compensa, e as consequências de escolhas erradas sempre chegam. A leitura deve ser feita com discernimento, lembrando que esta é apenas uma história e não um reflexo do mundo real.
"Esta obra é protegida pela liberdade artística prevista na Constituição Federal. Não se destina à promoção de condutas ilegais.”