Capítulo 9

1095 Words
Passo pelo portão e escuto umas risadas que logo atraem minha atenção. Paro por um instante, prestando atenção no som vindo da sala. Estranho isso, porque não é comum ouvir barulho assim dentro de casa. Me aproximo devagar, tentando entender o que tá rolando. Atravesso a porta, vendo todas ao redor da minha da coroa. Fico sem reação quando vejo ela toda arrumada, unha pintada, cabelo alinhado, roupa nova. Apesar das limitações dela, eu sempre fiz questão de comprar o que ela gostava de usar antes dessa p***a toda acontecer. Nunca deixei faltar nada, mesmo sabendo que ela não usaria. Nos olhamos e um sorriso brotou no seu rosto ao me ver. Me deu uma sensação esquisita, tipo um nó na garganta, mas um nó bom, tá ligado? Um bagulho que eu nem sei explicar direito. Faz muito tempo que eu não via ela assim. Vejo o RD emocionado também, e sei que ele tá sentindo a mesma parada que eu. Ele tava comigo quando tudo aquilo aconteceu, sabe o quanto isso aqui significa. No primeiro momento, Pensei em mandar todo mundo calar a boca, meter aquela postura séria de sempre, mas, mano, não deu. Não consegui. Fiquei parado, só observando, com aquele nó na garganta que eu não sabia nem de onde vinha.. RD: Tava dando pra ouvir lá de fora as risadas de vocês – ele diz, se jogando no sofá. Fico de canto, de braço cruzados, vendo tudo. Não sou de mostrar sentimento, ainda mais na frente dos outros. Terror: Tá feliz? — perguntei me dirigindo a coroa. Ela me encara por um segundo e dá aquele sorriso de canto, discreto, mas que diz muita coisa. Assente com a cabeça, como se soubesse o que tá rolando aqui dentro de mim, mesmo sem a gente trocar uma palavra. Meu coração acelera na hora, minha mente me leva direto pra época que eu era moleque e minha mãe tava firme e forte ali, comigo. Depois que rolou tudo aquilo, ela nunca mais foi a mesma, ficou numa depressão fodida. E, desde então, nunca mais vi ela desse jeito. RD: Tudo tranquilo, irmão? – ele levanta do sofá, vem até mim e dá um tapa no meu ombro esquerdo. Eu tô meio travado, parado na porta. A cabeça longe, cheia de pensamentos, lembrando de várias fitas. Estranho esse bagulho. RD: E aí, qual foi? Tá voado ou tá suave? – ele comenta, rindo, tentando arrancar uma resposta minha. Até hoje, mano, a sensação de que eu podia ter feito algo me persegue. Fui um covarde de merda, fiquei travado enquanto aquele desgraçado fazia tudo na minha frente. Eu devia ter mandado ele pro inferno logo, mas fiquei ali, tremendo, com os olhos arregalados, sem reação, um moleque covarde. Cada noite, quando fecho os olhos, ouço os gritos da minha mãe pedindo ajuda, os meus, e ninguém apareceu mano. Minha mente, irmão, me esculacha, me lembra o tempo todo que eu vacilei, que eu falhei com ela. Se eu tivesse agido antes, ela ainda teria uma vida normal hoje em dia. Terror: Tô suave... — falo saindo dos meus pensamentos. Any: Terror, a gente resolveu descer com ela, pra tomar um ar e sair um pouco daquele quarto — ela fala rindo sem graça, claramente esperando minha reação. — Aí a Manu aproveitou pra fazer o cabelo e as unhas da dona Marta — ela sorri, olhando pra coroa que confirma com um aceno de cabeça, ainda com aquele sorriso tímido no rosto. Eu fico encarando a cena, travadão, sistemático como sempre. Não sou de ficar trocando muita ideia. Nessa parada, devo ter puxado o verme. Pelo que geral conta, ele era a mesma coisa. Caladão, na dele, frio e cheio de mania. Não curtia rodeio, assim como eu. Terror: Conseguiu descer de boa? Manu: A gente foi descendo devagar e a Rafa ajudou também. Sua voz me faz olhar direto pro rosto dela, e pela primeira vez reparo nela de verdade. Quando ela chegou, eu tava tão pilhado que nem prestei atenção na mina direito. Agora, olhando bem, ela é bonita pra c*****o! Top demais, pique princesinha. Sua pele é clara que nem a p***a da branca de neve, cabelo liso descendo pelas costas, combinando com os olhos castanho escuro. O pírcing no nariz dá um charme a mais. Uma mulher dessa não passaria batido por mim nunca, só se eu estivesse muito fora de mim, que foi o caso de mais cedo. Manu: Foi pra ela mudar um pouco de ambiente – fala olhando pra coroa abrindo um sorriso e depois retorna o olhar pra mim. Ela vai perdendo o riso aos poucos, notando minha cara fechada. E olha que nem tô puto. É só que eu não sei ficar com essa cara de bobo alegre, tipo o RD. O cara ri de tudo, mas eu sou diferente. Tô sempre com o semblante fechado, sério, é o meu jeito. Não curto mostrar fraqueza, ficar rindo à toa. Terror: Tinha que ter chamado os menó, porque não chamaram? – pergunto seco, olhando diretamente pra Manu. Vejo o olhar dela vacilar um pouco, parecia que tava escolhendo as palavras certas. Manu: A gente até tentou, mas eles disseram que sem tua ordem não poderiam entrar aqui. – responde, meio desconcertada. Any: É que foi a Manu que chamou eles e acho que eles fizeram de b***a contigo, amiga. – fala dando de ombros, como se entendesse a situação. Rafa: Quem falou contigo foi um magrelo com o cabelo e barba pintado de branco, né? RD: Olha como ela fala, mané – ele solta uma risada – Se ele sonhar que tu tá chamando ele assim, vai raspar esse teu cabelo, te deixa careca! Manu: Sim, esse mesmo – ela confirma, rindo um pouco. Rafa: Tô nem aí – ela dá de ombros e RD cai na risada. Any: Foi o Gringo. Ele é um babaca mesmo. RD: Sorte tua é que até sem cabelo tu deve continuar linda – ele pisca pra ela, que n**a rindo. RD não perde a chance de soltar uma piada, artilheiro nato mesmo. Any: Ele é ridículo e se acha fodão. RD: Tinha que ter me dado um salve, p***a. – ele solta, balançando a cabeça. Eu só observo, mas já tô com a mente na fita do Gringo. Amanhã vou resolver esse bagulho, porque isso aí não dá pra passar batido. Terror: Amanhã eu resolvo essa fita com o Gringo. RD: Não é de hoje que tô na intensão desse arrombado – ele fala virando o boné pra trás.
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