1. Capitulo – Ações e reações
Era para ter sido apenas mais uma noite de diversão, bebidas e danças com os seus amigos na Boate, pelo menos era isso que Kayla esperava que fosse. No entanto, os corpos ensanguentados caídos no chão gélido eram cobertos por uma penumbra mórbida causada pela pouca luminosidade do local. Sendo até difícil identificar as vítimas desse m******e. Os barulhos de tiros haviam sido abafados devido à música alta e eletrónica que tocava em todo o recinto.
- Vamos, joguem em qualquer lugar esse lixo! A voz grave e irritada vinha de um homem corpulento de cabelos grisalhos. O terno preto de aparência exorbitantemente cara estava impecável sem qualquer pingo de sangue ou sujeira. Os olhos azuis eram frios, exalavam certa brutalidade. A sua voz tinha um timbre de poder, embora aparentasse calma, Vincenzo estava mais do que zangado. Dava grandes tragadas no charuto cubano deixando a fumaça subir. – Kayla...
“Sim, ele estava irritado”. Afinal de contas o seu pai só lhe chamava pelo nome completo quando lhe queria dar um sermão.
-... Preste bem atenção ao que ocorreu aqui hoje, e espero que tenha aprendido a lição dessa noite.
Homens de terno escuro e óculos carregando pistolas e metralhadoras nas mãos estavam parados logo atrás do seu pai. Alguns outros, desses mesmos homens, carregavam os corpos jazidos no chão para fora da boate através da porta dos fundos para não levantarem suspeitas. Era uma “limpa” que faziam antes da polícia chegar.
O seu pai jogou o que restou do charuto para longe, encarando a garota de longos cabelos ruivos que o olhava com várias lágrimas sobre a face. Kayla chorava, olhando para o pequeno corte no braço, nada que pudesse ser considerado grave. As suas mãos tremulas, olhava para o sangue no chão como se fosse o seu próprio. Estava assustada, isso nunca havia acontecido com ela nos seus vinte e um anos de vida, mesmo sabendo exatamente da onde saia todo o dinheiro da sua família, e quem eram aquelas pessoas que frequentemente visitavam o pai.
- Escute o seu pai da próxima vez, sou velho e sei muito bem o que digo. Ele estendeu o seu braço para ela, havia uma certa brutalidade, mas era apenas por estar na presença dos seus homens, pois, ele como chefão não podia demonstrar nenhum pouco de sensibilidade. – Nunca mais dispense os seguranças que eu contrato para te proteger, atos cometidos sem pensar como o dessa noite quase causou a sua morte. Vincenzo respirou fundo. – Está feliz?
- Eu... Eu só... só queria me divertir sem ter “cães” me vigiando. Respondeu, nervosa. Ainda conseguia escutar os barulhos dos tiros na sua direção. As pessoas da boate apavoradas correndo desesperadas achando que era um assalto ou algo pior, o que de fato era.
- Ah! Você queria se divertir como uma pessoa normal? Quanta ingenuidade... Disse, dando uma risada irônica. Vincenzo respirou fundo, levando a mão aos olhos, e logo em seguida, olhou para ela. Os seus olhos transpareceram um brilho assassino que fez com que a ruiva tremesse. Foi então que pela primeira vez ele gritou. Um grito alto e bravo. – Cresça garota! Você não é normal. Ele tentava se controlar, andando de um lado para o outro. – Você é Kayla Salvatore Astori, filha de Vincenzo Salvatore Astori. Ele a encarou de modo assustador. - Olha para mim, você sabe quem eu sou? Eu sou um dos membros mais poderosos da Cosa Nostra. “Averne piene le palle!” (Estou de saco cheio!). Sabe o que é ter você por aí dançando em qualquer boteco nojento sem segurança? É pedir para morrer.
- Descu... Kayla tentou dizer.
- ... Acha mesmo que os meus inimigos vão ter dó de você só por ser uma garotinha? Ele riu de forma sarcástica. – Não duvido que sentiriam prazer em matar-te, lógico que antes iriam querer lhe causar bastante dor, surrá-la e depois abusar de você.
A música ao fundo já começava a irritar Vincenzo, fora que o barulho abafava o choro da sua filha, mas por estar perto o suficiente ele podia escutá-la.
- Desculpa, de verdade. Ela conseguiu dizer entre soluços.
- Vamos embora, essa música está me irritando.
Ela o acompanhou, saindo pela porta dos fundos, a polícia não demoraria muito a chegar. Entraram numa limusine preta em que estava acompanhada de mais seis carros pretos do lado de fora, fora quatro motos que escoltava a distância. Além de Kayla e o seu pai, entrou Tiziano, o homem de confiança do seu pai dentro da limusine.
- Tiziano quero que chegando à mansão ligue para os membros dos conselhos, quero uma reunião ainda hoje.
- Vai ser complicado. Declarou de modo preguiçoso, olhando sério para Kayla. Embora tivessem a mesma idade, acontecimentos que ocorreram com a sua família fizeram-lhe amadurecer. – Nem são quatro horas da manhã, chefe.
- “Non mi stai escoltando”. (Você não está me ouvindo). f**a-se se são quatro horas da manhã, eu quero a reunião, em menos de duas horas.
Tiziano apenas suspirou e tirou do bolso do terno um caderninho em que fez algumas anotações.
Kayla evitava chorar ao notar que o pai falava num timbre aborrecido. Ela observava cada movimento dentro daquele carro. Vincenzo abriu o celular e em seguida discar rapidamente um número já conhecido.
- Cesare, preciso de você na mansão. Kay está ferida e preciso que dê uma olhada nela. O seu pai lhe encarou, parecia ouvir algo do outro lado da linha. – Não se preocupe, não é nada sério, é só um arranhão, mas prefiro que você olhe.
Cesare fazia parte de uma respeitável família de médicos de todo a Itália. Todos foram graduados em países do ocidente como Inglaterra, França e EUA. O filho mais velho daquela família de médicos, Cesare Bianchi era melhor amigo de Kayla e de infância, os dois haviam crescidos juntos. Vincenzo pagava bem para que Cesare ou alguém da sua família, os atendesse sempre que ordenado.
Após meia hora chegaram a enorme mansão, pintada em cores pasteis. Chegava até ser irônico a claridade e a beleza harmonizam da casa comparada a obscuridade que eram os negócios dos seus moradores. Além de mais de doze seguranças apenas no portão da frente tinha cinco cachorros de aparência intimidadora rondando a área de entrada, todos com os seus guias, apenas seriam soltos quando necessários.
Ao atravessar os portões podia se visualizar um extenso jardim. Flores importadas, flores nativas, variedades de cores e formas. O chefão dos Salvatore tinha certo gosto por flores, aquelas que enfeitavam o seu jardim exorbitante era apenas as menos caras e raras. Nos fundos da casa tinha uma enorme estufa particular.
Uma enorme piscina ocupada certa parte do terreno, mas de duzentas pessoas poderiam nadar sem sentirem exprimidas pela outra. Espreguiçadeiras acolchoadas estavam espalhadas pelas bordas. Além da sauna e da quadra de tênis que poderiam ser vistas se andasse mais um pouco pela área de lazer.
Seria a casa dos sonhos de qualquer pessoa, menos para Kayla; para ela aquilo era uma prisão de luxo. Todo aquele “império”, porém, não havia surgido da forma mais limpa. Tráfico de drogas, bebidas, assassinatos entre outras coisas sujas faziam parte daquela riqueza.
- Kay vá para o seu quarto, tome um banho e espere Cesare chegar. Vincenzo falou sem olhar diretamente para sua filha.
- Eu sinto muito papai, de verdade.
- Sentir muito, e continuar a fazer o que quer fazer, não é sinal de arrependimento. As palavras saíram de forma agressiva. – Se você realmente sente muito, NUNCA mais faça isso. Havia ênfase na palavra nunca. Ele respirou fundo, a olhando agora. – Vá para o seu quarto, tome um banho e espere Cesare.
Kay odiava chatear o seu pai daquela forma, mas ela queria bem mais do que tudo aquilo que ele oferecia. Subindo as escadas, mesmo que fosse cansativo, sendo que o seu quarto ficava no terceiro andar. Ela queria se sentir livre. Odiava locais fechados. Seria hipocrisia dizer que não gostava de todo aquele luxo. As suas amigas morriam de inveja, porem de uns tempos para cá todo o seu guarda-roupa de milhões de dólares onde havia roupas, bolsas e sapatos que não lhe satisfaziam mais. Apesar de tudo, sentia-se presa como uma ave rara numa gaiola. Era assim que ela se sentia, sozinha.
Ela entrou no seu quarto, jogando a sua bolsa longe.
- Como eu odeio tudo isso, odeio fazer parte disso. Reclamou consigo, indo para o banheiro.
O sol já havia raiado, eram seis horas da manhã quando todos que Salvatore havia convocado chegaram. Sentado na ponta da grande mesa, Vincenzo estava mostrando toda a sua representatividade diante dos clãs, aquele era seu lugar por direito.
Do seu lado direito, os seus dois aliados mais fiéis. Representando a casa Pallavicini e a casa Girard. Pietro Pallavicini era um rapaz bonito que com vinte e seis anos já comandava os negócios da família, algo como uma grande organização de extorsão de dinheiro, principalmente público. Na qual, políticos e associados faziam parte da família. A lavagem de dinheiro parava em bancos na Suécia ou no Caribe como forma de fugir do imposto de renda. A casa Pallavicini controlava a maior rede de espionagem de toda Itália que era conduzida pelo Fischer, uma família de descendência alemã.
Dante Girard, um rapaz que conseguia ser mais atroz do que o próprio Vincenzo quando preciso. O seu principal negócio era ligado ao jogo com cassinos espalhados por toda Europa. A maioria dos cassinos eram ilegais e tratavam a dívidas de jogos com respostas desumanas. A área do tráfico, desde as bebidas, drogas e até mesmo as pessoas para trabalho de prostituição faziam parte do seu comando. Os Girard eram conhecidos pela máfia italiana Cosa Nostra principalmente pela quantidade de assassinatos que praticaram, desde homicídios de pessoas qualquer até mesmo figuras importantes.
Do seu lado esquerdo, continha os aliados convenientes, aqueles que não eram realmente confiáveis, porem com grande importância. Não era sábio tê-los como inimigos. Pelos Romanos, Niccolo, de primeira vista parecia ser um homem calmo, mas Vincenzo sabia muito bem o que ele poderia fazer quando irritado. Os Romanos tinham grande parte do seu negócios aplicados no Brasil, como uma grande estrutura no negócio de contrabando e o tráfico de órgãos e crianças para adoções ilegais. Niccolo controlava também uma rede de interrogatório com especialistas psicológicos e físicos para tortura, os Greco.
O último integrante, pela família Marino, Ítalo. Era recente que o mais jovem se tornara líder da sua família. O seu principal negócio na área bélica tinha como principais consumidores países árabes onde as guerras nunca se cessavam, porém, países africanos que possuíam guerras tribais ou da América Latina que possuíam conflitos internos com algumas ditaduras rígidas, também eram fortes consumidores. Fora outras questões como tráfico de drogas, sequestros tendo como líder principal uma mulher chamada Alessa, uma verdadeira ameaça.
- Certo, estamos todos aqui. Declarou Dante sem se importar que a sua voz mostrasse aborrecimento. – Agora você poderia explicar Vincenzo por que nos acordou tão cedo para essa reunião?
Na sua cadeira, Vincenzo acendeu o seu charuto, dando uma grande tragada, onde observado por todos em expectativa. Era a pura curiosidade evidente nos seus olhos.
- Tentaram matar Kay. Respondeu num timbre plácido.
Um silêncio mordaz tomou a sala. Todos naquele momento pensaram o mesmo. “O autor dessa infâmia terá uma morte dolorosa!”. Afinal de contas, todos sabiam que Vincenzo iria fazer questão de caçar o autor do atentado mesmo que tivesse que ir ao inferno.
- E você desconfia de alguém? Perguntou Niccolo, massageando o ombro recentemente saído do gesso por conta de uma briga num bar.
- Duas pessoas. Vincenzo falou, colocando o seu charuto de lado. – O primeiro é Matteo, aquele i****a que eu não deixei entrar na Cosa Nostra.
- Ele tem mais motivos que esse para ter ódio de você Vincenzo. Pietro disse, bebendo um pouco do uísque tinha lhe sido servido. – Se o senhor não se esqueceu, quase fez com que a polícia o pegasse no último descarregamento de ópio que ele fazia para a Europa. Continuou falando, fazendo uma careta e um movimento com a mão mostrando que a fumaça no charuto lhe incomodava.
A Cosa Nostra era composta pelos principais mafiosos, porem existiam diferentes traficantes e pessoas que mexiam com outros negócios ilegais. Todavia o quinteto naquela reunião eram os mais conhecidos e poderoso na Itália.
- Aquele merda estava a traficar na MINHA área. Disse em tom raivoso, dando ênfase na palavra minha e fazendo questão de bafejar a última tragada em cima de Pietro que soltou um rosnado irritado. – Desconfio do seu irmão também Pietro. Fillipo deve estar realmente irritado depois que eu tirei o poder das mãos dele para pôr nas suas, não acha? Vincenzo declarou, com um sorrisinho debochado em direção a Pietro que lhe retribuiu o mesmo.
- Então acredito Vincenzo, que o senhor terá que rezar para ele e o Matteo não se aliarem.
- Se me derrubarem você cai junto Pietro, esqueceu que você está no poder por minha causa? Vincenzo não era i****a.
E o sorriso se desfez do semblante do herdeiro Pallavicini. Jogar isso na cara de Pietro poderia soar como uma ofensa de que sozinho ele nunca chegaria na posição em que se encontrava.
- O que o senhor quer que eu faça? Pietro perguntou aborrecido.
- Vigie o seu irmão, procure e tente descobrir algo. Os Fischer são muito bons em espionagem e todos trabalham para você. Descubra exatamente o que ele tem feito nos últimos dias, e se ele tentou matar a minha filha diga adeus ao seu irmão bastardo.
- Como se eu me importasse com ele. Pietro falou de forma fria. – Fillipo não é i****a, se ele foi o responsável pelo atentado provavelmente não deve estar mais na Itália. Ele respondia sem conter nenhuma emoção.
- E devo supor que você não faz ideia a onde ele possa ter se escondido? Perguntou Dante ligeiramente interessado. Sendo que a família Girard teve certos problemas nos negócios quando Fillipo o irmão mais velho de Pietro estava no poder. Era desejo dos Girard dar uma “resposta” a afronta que o primogênito Pallavicini havia feito.
- Talvez EUA, sei que ele tinha negócios com alguns políticos de lá. Pietro pareceu pensativo por um tempo. – Ele está montando o próprio negócio com os títulos da família que estão no nome dele. Pelo menos foi isso que Klaus Fisher me informou no último mês. Fillipo ainda estava na Itália na época.
- Pouco me importa onde ele esteja, quero que você o encontre. Se precisar ir ao inferno para isso não hesite. Disse o chefão Vincenzo num timbre autoritário. – Niccolo eu quero que você procure Matteo, faça um interrogatório bem doloroso, se no final ele morrer “acidentalmente” bom... Mandaremos rezar uma missa por ele. Disse Vincenzo em meio a uma risada atroz deixando entre linhas que queria eliminar Matteo de qualquer jeito.
- Hum... Espero ganhar algo em troca. Disse Niccolo, voltando a massagear seu ombro.
- Não se preocupe, trataremos disso depois. Vincenzo respondeu, olhando para o líder dos Romanos de um modo que ele entendesse que os negócios entre eles seriam resolvidos a sós.
Vincenzo mantinha negócios a parte com cada um dos quatro. O que não envolvia a proteção da Cosa Nostra ou uma guerra entre os outros mafiosos era discutido com cada um sem o conselho reunido.
- Ítalo preciso de um segurança descente para Kay, algum que não seja i****a suficiente para não ser persuadido por ela. Quero um assassino profissional, que não erre um tiro e que saiba exatamente os meios de matar alguém.
Marino que até então estava sentado no canto mais afastado, apenas ouvia os outros debaterem entre si, fora chamado a atenção.
- Tenho alguém perfeito para cuidar da sua filha, todavia ele cobra caro. Tenho certeza que cobrara o triplo do que normalmente cobra sabendo que o trabalho será proteger a sua filha Vincenzo. Ítalo brincava com uma arma em cima da mesa. Os olhos perolados tinham um brilho nebuloso. – Ele é um dos mais habilidosos do...
- Como se dinheiro fosse problema para alguém como eu, não é... Vincenzo deixou que um sorriso insano se apossasse dos seus lábios.
Na sua cama, Kayla já havia virado de um lado para o outro. Não conseguira dormir. Toda vez que fechava os olhos visualizava em sua mente os corpos ensanguentados a sua frente, ouvia os barulhos dos tiros, o que lhe causava ainda mais medo era “ver” novamente aquela arma ser apontada em sua direção, saber que o alvo em todo momento era exclusivamente ela.
Tocou no braço sentindo a faixa que lhe cobria o arranhão. Graças a Deus havia apenas sofrido um machucado leve, arrepiava-se só de pensar que talvez naquele momento estivesse morta.
Levantou-se da cama e andou até o espelho. Olhou-se da cabeça aos pés. Não parecia a mesma Kay de antes. Os cabelos não estavam mais brilhantes e bem penteados, olheiras fundas, boca seca e sem vida. Parecia uma defunta.
- Estou horrível. Disse para si mesma, sentindo o gosto amargo na sua boca.
Escutou batidas na porta do quarto e uma voz suave e fraca lhe chamar. Deu um sorrisinho reconhecendo a voz da amiga, provavelmente Bianca já havia sabido dos fatos da madrugada. Ela era prima de Tiziano, e com certeza teria vindo com ele, aproveitando para visitar a ruiva.
- Pode entrar! Kayla prendeu agilmente os cabelos desgrenhados num r**o de cavalo. Tinha que parecer no mínimo apresentável.
Admitia, era narcisista e gostava de exalar glamour e sensualidade na sua aparência. Ela não se contentava em ser a garota mais bonita da Itália, tinha que ser a garota mais bonita de toda Europa.
Bianca entrou no quarto, e Kay pode visualizar os cabelos incrivelmente negros da amiga caídos sobre os ombros. O vestido branco combinava com os olhos perolados da mesma. Bianca não era do tipo linda de morrer, mas também não podia ser considerada feia. Tinha uma beleza exótica, mas que chamava a atenção de certa forma, principalmente pelo seu jeito tímido de agir, o que a tornava misteriosa.
- Kay! Bianca abraçou a ruiva com cuidado temendo que a amiga estivesse machucada, nos seus olhos uma real preocupação. – Fiquei sabendo o que houve, e quando Marina me contou não pude acreditar. Fiquei tão preocupada.
Kayla deu um sorrisinho de desgosto ao escutar o nome da ex-melhor amiga. “Então Marina já sabia e estava fofocando que ela sofrera um atentado?” Kay suspirou. Forçando um sorriso mais gentil para a apreensiva Bianca. Ela então conduziu a amiga até a cama e sentou-se com ela.
- Eu estou bem Bia, sofri só um arranhão. Declarou, mostrando o braço enfaixado. – Mas, não vou mentir, nunca sentir tanto medo. Falava baixinho. – Pelos deuses, nunca imaginei que tentaram me matar, e quase conseguiram e.., e se não fosse o papai... se ele não tivesse chegado a tempo eu estaria morta.
Ela era orgulhosa e admitir aquilo doía muito mais do que aquele arranhão, porem sabia que a errada da história era ela, assim como das outras vezes. Sempre fazia besteira, e mesmo depois desse atentado não demoraria a cometer mais uma burrada. Quem a conhecia sabia, não era necessária uma bola de cristal para adivinhar.
- Kay, por que você sempre faz isso? Dessa vez, Bianca sabia que a sua amiga tinha passado do limite. – Sabe que pessoas como nós... Hunf! Errr... Bom, para pessoas c-como nós...
Assim como para Kay, para Bianca era torturante falar sobre serem ligadas a máfia, mas que a sua amiga já havia compreendido o que ela queria dizer. A herdeira da família Camorra tinha uma personalidade boa e gentil. Kay não sabia como alguém tão dócil como Bianca tinha conseguido viver rodeada de tanta agressividade, a menina de olhos perolados tinha uma aparência tão pura. E não era só isso, diferente dela Bianca não se preocupava com roupas de marca e luxo. Sentia-se de certa forma suja perto da herdeira Camorra. Mesmo Kay não aceitando o modo que o pai ganhava o dinheiro ela usufruía daqueles dólares sujos de sangue de uma maneira fútil e supérflua.
Todavia sabia que com o passar dos anos a sua cabeça ia mudando, estava se tornando madura o suficiente para começar a pensar como Bianca. Não valia a pena usar uma roupa de marca se essa fosse conseguida através do sangue de alguém ou com intenções que o inferno estava cheio.
- Sabe Bianca, ultimamente tenho me sentido tão infeliz. Ela caminhou até a janela. — Tão presa quanto uma borboleta que não consegue sair do casulo. Kay suspirou sonhadora. – Quero voar, quero mostrar a minha beleza, quero conhecer “flores” diferentes. Quero ir para um lugar onde o perfume não seja de sangue.
- Eu sei quem é o seu novo segurança, Kay. Bianca mudou de assunto do nada. Abaixou a cabeça, circulando o dedo sobre o colchão. – E, confesso que ele me dá medo.
- Novo segurança? Como você sabe disso? Kay perguntou confusa.
- Eu escutei o seu pai conversando com Ítalo Marino quando saíram da sala de reunião. Ela declarou. – E o seu pai mandou Tiziano dispensar todos os seus atuais seguranças.
- O que me surpreende não é o fato do novo segurança, é o fato de ser só um. Kay parecia não acreditar. – Normalmente ele manda uns quinze ficar me rodeando, até que a minha beleza seja ofuscada no meio daqueles brutamontes horrorosos. Ela parecia irritada.
- Garanto que você não vai precisar de muitos seguranças tendo esse por perto. Bianca olhou nos olhos verdes da sua amiga. – Pelo que já fiquei sabendo sobre ele, é um dos melhores assassinos de toda a Itália. Ela deu uma pausa, olhando para a porta. – Ele é simplesmente medonho, tem um ar gélido, sempre calado e sério. Bianca fingiu um arrepio. – Olha como fico. As poucas vezes que ele fala é com ironia. Eu não gosto dele.
- Não duvido nada, ao ser indicado por Marino. Disse, levantando-se da cama.
- Tenho certeza que com esse você não vai conseguir dar as suas escapadinhas. Bianca respondeu sorrindo. – E se você o irritar... é capaz... não quero nem pensar.
- Até parece, eu sou Kayla Salvatore de Astori. Ela parecia irritada de verdade. – Acho que esse segurança é que deveria estar preocupado. Vou transformar a vida dele num caos, se me aborrecer.
- Não sei não...
-... Vou fazê-lo ficar só de cueca em cima de um palco numa boate. Kay piscou para Bianca como se dissesse estar no controle da situação.
- Não o irrite, escute o que estou falando.
Kay sabia o porquê daquela revolta, era apenas uma forma de afrontar o seu pai. Não gostando do segurança era um modo mais sutil de dizer que estava cansada daquela vida de escolta. “Casulo” era como via. Deveria estar feliz do seu novo segurança ser realmente o melhor, quem sabe no próximo ataque em que ela fosse o alvo não ficasse tão perto da morte. Mas, os tempos em que fechava os olhos devido a maquilagem nova e viagens ao exterior haviam acabado, era uma nova Kayla... Ou quase isso. “Não que eu vá deixar de usar os meus sapatos de dois mil dólares”.
- Qual o nome desse sujeito afinal de contas? Kay parecia curiosa a respeito do segurança. Ele dever ser bom realmente, para seu pai ter dispensado quinze seguranças e deixado somente um. Mas, com certeza deve ter uns quarenta e tanto anos que ficaria mais preocupado em olhar seu decote do que realmente cuidar dela, como os outros faziam.
- Donovan de Luca.
- De Luca hein! Ela sorriu. – Acho melhor esse sujeito começar a rezar, pois eu, Kayla Salvatore Astori serei sua missão impossível.