Metralha Narrando
- Salve família, meu vulgo é Metralha e tenho 47 anos. Sou dono da facção do comando vermelho, não ganhei esse lugar, eu conquistei. Mesmo com toda essa responsabilidade em minhas costas, nunca deixei de viver, de um modo geral. Mas a melhor parte da minha vida foi na juventude. Me apaixonei e mesmo que não tenha sido correspondido, foi a época em que eu fui mais feliz em toda a minha vida. Tínhamos um grupo de amigos que o Coruja e a Clarice faziam parte, eles eram a família que eu nunca tive. Coruja o meu irmãozão, e a Clarice, ah como é fácil falar dela. Uma mulher doce, incrível, gentil e auto astral. Não tinha uma pessoa que não gostasse da clarice, era muito fácil amar ela.
- Fico lembrando como se fosse hoje e dar até vontade de rir hahahahah o Coruja morrendo de ciúmes dela, maluco mesmo, neurótico no nível psicopata de ciúmes e ela lá acalmando ele, tentando deixar ele tranquilo. Só ela conseguia fazer isso, ninguém mais.
- Eles eram o tipo de casal e o tipo de amor que todos queriam ter. Era lindo ver o amor e o cuidado que tinham um com outro. Era uma parada genuína mesmo, eles nasceram pra ficar juntos e esse amor se transformou em três, aí veio o meu menino de ouro. Como eles ficaram felizes com a chegada do Diego, o Coruja ficou saltitante. Não deixava a Clarice fazer nada, se afastou um pouco da boca só pra poder cuidar dela e dar uma atenção melhor, curtir a gravidez dela.
- Quando o Coruja morreu, ela nunca mais foi a mesma, parecia que tinha morrido junto. E logo depois ela se foi também, se não tivesse sido de uma forma tão c***l, eu diria que realmente era a hora dela. Não tinha como ela viver em um mundo que o Coruja não viesse mais, eles nasceram para ser um do outro, para ficarem juntos. Não importa onde seja. Aqui, no céu ou em qualquer outro lugar.
- Sempre quis que o Diego construísse uma família, isso poderia tirar o peso do passado e fazer ele feliz. Afinal, você construir uma família te faz sentir vivo e completo. Mas ele nunca quis isso, quando conversava sobre, ele já desconversava e na cabeça dele, iria ser só ele e o VT sozinhos até morrer e que na vida dele não tinha espaço para isso, e eu até entendo. Porque na minha também não tem, mas eu queria que ele sentisse como é pertencer a um lar e vivesse com alguém, tudo o que os pais dele viveram.
- Quando soube do sequestro e que a menina estava no morro. Fiquei louco da vida. Achei que ele tivesse surtado, ficou maluco ou começou a cheirar, sei lá. Até entender o desenrolar da história. É complicado a bagagem que essa mina trás consigo, ainda mais sendo filha de quem é. Mas estou feliz que ela tenha mexido com a mente e o coração dele, coisa que ninguém nunca fez. E quem sabe, agora ele não constrói uma família. O delegado vai ter que deixar eles em paz, nem que pra isso eu tenha que matar ele. Vocês devem se perguntar porque eu não o matei, já que ele matou meu irmão. Tinha o Diego no meio disso, isso iria virar um ciclo vicioso e eu não poderia colocá-lo em risco, agora ele já é um homem, aí a história é outra.
- Quando o VT me ligou passando todas as coordenadas, eu já vim pro morro pra hora. E quando falaram que ele rodou, eu fiquei louco. Só quem já foi preso sabe o inferno que é lá dentro, o sistema te oprime. O regime carcerário no Brasil é totalmente falho e ineficaz, eles usam o argumento de que é para " tratar" o cidadão e reintegrar ele novamente na sociedade como um cidadão melhor. Tudo mentira, tudo farsa. Você sai um bicho, o bicho que eles criaram lá dentro, sai cheio de ódio, querendo matar tudo e todos.
- O Digão é literalmente a cópia do Coruja, eles são iguais em tudo e principalmente no jeito. É ignorante, marrento, abusado e o melhor. Humano, empático e disposição. Ele tem um coração gigante.
- Quando cheguei no morro o Digão já tinha sido liberado e estava com a cabeça no lugar, colocamos os porcos fardados para descer a base de tiro. E eu vi uma parada que me fez voltar a anos atrás, o Digão tacou fogo no helicóptero, coisa que só o pai dele fez. É filho de quem é mesmo hahahahah tal pai, tal filho