Paris

L'email

Hannah

Chegar em casa é maravilhoso. Principalmente depois de um dia estressante, e esse foi mais que isso... Insuportável, essa é a palavra!  Mas, algo me deixou intrigada, eu entreguei a nota para o Martin, e ele escreveu algo atrás dela, pois a Camille e a garota que trabalha no caixa, a Susie, me mostraram a nota, estava escrito em francês que era para descontar o suco, e a minha gorjeta no valor de trezentos euros. Não preciso dizer que isso foi motivo para elas falaram coisas, como: “Ele está interessado em você” “Se fosse comigo...” “Por que você não deu seu telefone para ele?”. Sinceramente, mesmo que ele queira se redimir com o pagamento do suco, e com a gorjeta, eu não consigo achar legal a atitude dele. 

Deito no sofá, sei que preciso de um banho, mas antes preciso descansar meus pés... Afinal de contas, não é fácil ficar em pé das duas da tarde até às dezoito horas, não é mesmo? Abro a bolsa, pego meu celular. Desbloqueio, e vejo os ícones acima, no canto da tela, e um deles é o do email, arrasto a tela de cima, e algo chama minha atenção, clico no símbolo do email. Um email de Javier? Eu não acredito!

Querida Fada Cintilante,

Como vai a minha fada preferida? Também sinto sua falta... Quero pedir desculpas pelo sumiço, tantas coisas aconteceram na minha vida, tomei caminhos diferentes e num desses caminhos nos desencontramos. Me senti totalmente abraçado por você, e também sinto falta de nossas partidas de Battle of the Knights, nossas conversas... Que tal voltarmos a jogar, e conversar?

Se a Fada Cintiante estiver disposta a dar uma segunda chance ao Cavaleiro Sangrento, não sou a Shakira, mas estoy aqui! (Risos)

Do amigo argentino

Para a amiga brasileira...

Eu não acredito, depois de três anos esse filho da mãe me responde! O que será que aconteceu? Imaginei tantas coisas sobre o seu sumiço, principalmente depois que o rastreei, e descobri que o seu endereço de IP vinha de Barcelona. Ele nunca me disse que morava lá, eu sempre achei que ele morasse na capital argentina, e depois dessa informação minha irmã e alguns amigos ficaram colocando muitas ideias na minha cabeça sobre o Javier.... Mas, sinceramente eu sempre tive uma sensação boa em relação a ele, realmente acredito no que ele me disse, tudo parecia verdadeiro, ele nunca me pediu nada em troca, ou exigiu algo. Nossa amizade sempre foi leve, ele desabafava sobre alguns momentos ruins de sua vida, mas sem dar muitos detalhes, e eu também fazia o mesmo, e foi assim por dois anos. Independente de tudo que aconteceu, de seu sumiço, eu resolvo respondê-lo.

Caro Cavaleiro Sangrento,

Fico feliz por sua resposta. Não sei se poderemos voltar a jogar Battle of the Knights, pois a equipe praticamente se desfez, com exceção de um ou outro jogador, praticamente todos foram desistindo aos poucos. Mas, em relação a nossa amizade podemos continuar. Não sei o que houve com você, mas espero sinceramente que tenha resolvido seus problemas ou que tenham diminuído, enfim se quiser conversar, este é o meu novo número: 33 – 1 – 9046 – 5559.

Da amiga brasileira

Para o amigo argentino...

A resposta é imediata. Javier me envia outro email em poucos minutos. 

Querida Fada Cintilante,

Fico feliz em saber que você ainda quer minha amizade, mas me tira uma dúvida... Esse número que você me enviou é de Paris? O que a Fada Cintilante faz na Cidade Luz? Não será possível que estás aí para iluminar a Torre Eiffel... Ou será? (Risos)

Do amigo argentino

Para a amiga brasileira...

Responder.

Caro Cavaleiro Sangrento,

És muito engraçado... Espera... Não tem graça! (Risos).... Respondendo sua pergunta, estou em Paris, não é para iluminar a Torre, mas para estudar... Vou realizar um curso de Mestrado em Literatura.

Da amiga brasileira

Para o amigo argentino...

Assim que envio o email, meu telefone toca. Meu coração dispara. Será que é ele? Mas, ao pegar o telefone percebo que não... É o meu irmão. 

Martin

Eu criei coragem e enviei um email para Hannah. Espero que ela não me entenda m*l, e ache que eu sou um louco, afinal eu passei três anos sem dar notícias, e agora resolvo respondê-la. Não demora muito, e sua resposta chega.

Caro Cavaleiro Sangrento,

Fico feliz por sua resposta. Não sei se poderemos voltar a jogar Battle of the Knights, pois a equipe praticamente se desfez, com exceção de um ou outro jogador, praticamente todos foram desistindo aos poucos. Mas, em relação a nossa amizade, podemos continuar. Não sei o que houve com você, mas espero sinceramente que tenha resolvido seus problemas ou que tenha diminuído, enfim se quiser conversar, este é o meu novo número: 33 – 1 – 9046 – 5559.

Da amiga brasileira

Para o amigo argentino...

Leio, e uma felicidade toma conta de mim. Mas, algo me surpreende em seu texto. O número com prefixo de Paris. Como assim? O que Hannah faz aqui? Eu preciso descobrir isso agora.

Querida Fada Cintilante,

Fico feliz em saber que você ainda quer minha amizade, mas me tira uma dúvida... Esse número que você me enviou é de Paris? O que a Fada Cintilante faz na Cidade Luz? Não será possível que estás aí para iluminar a Torre Eiffel... Ou será? (Risos)

Do amigo argentino

Para a amiga brasileira...

Resposta mais que imediata. 

Caro Cavaleiro Sangrento,

És muito engraçado... Espera... Não tem graça! (Risos).... Respondendo sua pergunta, estou em Paris, não é para iluminar a Torre, mas para estudar... Vou realizar um curso de Mestrado em Literatura.

Da amiga brasileira

Para o amigo argentino...

Não me surpreende, quando jogávamos ela sempre criava roteiros para o jogo, e transformava em algo muito mais interessante, embora eu soubesse que era estudante de Letras, e da sua incrível capacidade de criação. Ela está em Paris, seria um sinal para que pudéssemos nos conhecer? Eu salvo seu número em meu celular, mas não posso ligar para ela com o meu número, preciso comprar outro ship para falar apenas com ela. 

[...]

Durante o treino, eu tento focar meu pensamento apenas na minha estreia pelo time parisiense, que será no sábado contra o Olympique de Marseille, mas estava difícil. Hora do almoço, meus amigos conversando sobre vários assuntos pelos corredores até o refeitório, e em minha cabeça, uma única pergunta: “Será que devo ligar para ela?”. 

— Não acha Martin? — Pergunta Juan. Eu viro a cabeça para o lado, e pergunto.

— O quê?

— Você está aqui mesmo? — Lee pergunta.

— É claro que estou, não estão vendo?

— Discordo... Você não está aqui, e acho que tem alguma relação com aquela garçonete! — Brinca Juan.

— Não fala bobagem, Juan! Não tem nenhuma relação com a garçonete, mas com outra coisa...

Chegamos no refeitório, que mais parece um restaurante. Depois de encher meu prato com a proporção certa de comida, sento-me, e começam os bombardeios de perguntas.

— Agora você pode continuar? — Pergunta Lee.

— Fala logo Martin. Desde ontem você está cheio de segredos. Está saindo com alguma famosa?

— Não 

— Não está com alguma famosa, mas seu problema tem nome de mulher?

— Tem... Mas, não é exatamente o que vocês estão pensando...

— E por que não fala logo de uma vez? Tem relação com o que houve em Clube Atlético da Catalunha, e você mais uma vez não quer contar? — Lee pergunta impacientemente.

— Não há relação com Clube Atlético da Catalunha, e eu não falo sobre o que aconteceu por lá, porque é algo que me machuca. Mas, eu estou pensativo esses últimos dias porque reencontrei alguém, ou melhor, voltei a falar com uma pessoa que eu não falava há muito tempo....

— A garota daquele jogo? — Perguntou Lee.

— Que história é essa? — Juan pergunta.

— Martin jogava um jogo muito legal, o Battle of the Knights, inclusive eu joguei um tempo atrás. Você montava uma equipe, e criava uma realidade diferente para os jogadores da equipe, uma história, e sempre tinham os desafios, e também as batalhas contra outras equipes. O líder tinha que criar estratégias para os desafios e também para vencer as batalhas... Era demais!

— É um RPG? — Juan pergunta curiosamente.

— Basicamente sim! E consequentemente, você acaba fazendo amizades... E foi o que aconteceu comigo, eu conheci a Hannah. Uma garota brasileira, ela era a líder da equipe, algo muito incomum, mas Hannah era tão inteligente, criava estratégias e desafios incríveis, e muita gente queria entrar para sua equipe, e foi o que aconteceu comigo. Tornamo-nos amigos dentro e fora do jogo, só que tudo isso foi tomando uma proporção muito grande, eu fiquei muito apegado a ela, ela queria me conhecer, e eu já era jogador do Clube Atlético da Catalunha...

— Mas, você chegou a conhecê-la? Ela era bonita?

— Eu não cheguei a conhecê-la, nunca vi seu rosto...

— Como assim cara? Você nunca pediu uma foto, ou rastreou a garota? — Pergunta insistentemente Juan.

— Eu nunca pedi uma foto, ou falei com ela por vídeo porque ela me pediria o mesmo. E em relação a rastrear, eu não fiz isso... Sei lá, eu confiava nela. E se fosse para ela me prejudicar já teria feito, e, além disso, eu usava um computador só para jogos, no máximo o que ela poderia ter descoberto se me rastreasse, é que endereço de IP era de Clube Atlético da Catalunha! 

— Mas, por que você está lembrando-se dela? Já faz um tempo que vocês não se falam...

— Eu não apaguei o email que eu usei para criar a conta, e acabei utilizando esse email para configurar meu celular, e descobri sem querer que ela continuou me mandando emails... E me bateu uma saudade das nossas conversas, e eu acabei respondendo. E trocamos alguns emails, ela me mandou seu novo número, e descobri que está morando aqui, em Paris!

— Em Paris? — Os dois repetem em uníssono.

— É meus amigos! E agora, eu não sei se ligo para ela, eu estou indeciso!

— Eu ligaria, pediria foto... E independente de como ela seja, eu marcaria um encontro. — Afirma Lee.

— Eu faria o mesmo que o Miguel, mas antes tentaria investigar melhor... E se ela não for o que ela diz? — Juan questiona.

Depois da conversa, voltamos aos treinos. Passei o resto do dia com aquela dúvida na minha cabeça, mas algo em mim dizia que eu tinha que ligar para ela. E foi o que fiz, ao sair do CT. Chego em casa, e a primeira coisa que faço depois de instalar o novo ship, é buscar o seu número que está salvo na agenda. Meu coração dispara ao ouvir o toque do outro lado da linha...

...