CAPÍTULO 2

2036 Words
NICOLAU Foi preciso alguns bons segundos para nos afastamos um do outro, foi diferente e novo para mim, ela cheirava como antes, como as flores de lavanda azul, era um cheiro que me acalmava e me chamava a atenção. Até demais. - Como entrou aqui? - Perguntei, me livrando do cigarro e encarando o rosto dela. - Esse lugar tem meu sobrenome - E aí ela pegou minha mão e começou a me puxar, como ela sempre fazia, me fazendo sentar no sofá e se sentar também, ficando de frente para mim, com um olhar brilhante e empolgado. - Alguns hábitos nunca morrem, não é? - Cigarro me acalma - Eu sorri, sem conseguir parar de olhar para ela. Não é querendo ser fraco, mas eu não me importaria que Maya me usasse de gato e sapato, nenhum pouco. - Você sumiu por tanto tempo, parou de atender minhas ligações e nunca mais veio tomar sorvete comigo, esse Nicolau não é o meu - Ela parecia sem graça comigo, como se estivesse com vergonha de estar ali comigo, sentada e olhando para mim. - Eu só não me senti a vontade depois daquela confusão, Maya - Falei, ela sorriu e olhou para as próprias mãos e voltou a me encarar. - Quer falar sobre aquele dia? Nicolau, você bateu em um cara sem motivos, até hoje me pergunto o motivo, eu não consigo esquecer aquilo - Eu me mexi, como se tivesse um peso enorme nas minhas costas. - Tudo bem, talvez você não queira falar, mas eu fiquei com aquele cara, sabe, ele me deixou bem magoada quando terminou, era pra ser um ano bom na faculdade e aquilo, caramba! Foi uma d***a - Ela sorriu sem graça e olhou para mim. Era aqui que eu falava algo sincero e verdadeiro? Certo. - Posso machucar ele se você pedir - Certamente eu poderia mesmo. - Não brinca com isso. - Aquela noite eu estava com a cabeça quente e aí o primeiro i****a que eu vi serviu para alguma coisa. - Não ficou bravo comigo? Sabe, de ter ficado brava com você? - Um pouco - Eu fiquei parado. - Mas depois lembrei de tudo que você já fez por mim e quem era você para mim, você e minha amiga e minha família. A palavra saiu queimando. Talvez essa sinceridade mesclada com mentira pudesse ajudar em algo, eu falava o que se passou de uma forma distorcida. Sim, talvez esse fosse o segredo dos grandes mentiroso para esconder as verdades. - Ele me traiu depois de três meses, então eu fiquei feliz por ter visto você quebrar o nariz dele - Ela tirou colocou o casaco que ela segurava de lado e aí se encostou no sofá, olhando para a a sacada. - Difícil achar alguém bom Nicolau, acho que a maioria dos homens me veem como uma lunática ou santinha, melhor, um cofrinho dos Maldini, isso é um saco - Eu dei uma gargalhada, porque eu podia estar fora dessas estáticas, mesmo que nos meus sonhos. - Você é disputada - Menos por mim, porque eu ganharia de todos os outro. Eu dou um sorriso. - Isso é trágico Nicolau, não ria, você me conhece, sabe que o meu jeito e esse e que eu vou ser assim até morrer. - Você não precisa mudar, ninguém muda, apenas evolui. Sim. Aquilo era minha filosofia, esperava que ela funcionasse no que eu sentia pela mulher na minha frente. - Meu pai me disse que seu uma versão dele jovem, no corpo da minha mãe, não sei e que isso quer dizer, mais c*****o, não da para viver nessa p***a! Ela se liberou com as palavras, aquilo era só o começo da Maya lunática, porque sim, ela era realmente era lunática e aquele jeito me encantava, porque mesmo sendo mais velho, eu ainda tinha meu lado lunático. - Maya você tem a boca de um caminhoneiro. - Ah, claro que não mano, sou um ser único! - Eu me levantei. - Os caminhoneiros são ótimos e nos ensina coisas boas. - Quer beber alguma coisa? Tenho... - Álcool? Que caminhoneiro lhe ensinou isso? - Ela gargalhou. - Eu não ia oferecer álcool para você - Eu vi ela se levantar e veio atrás de mim. - Que tal um suco? - Não. - Ok, uma cerveja? - Agora sim, aceito - Peguei duas cervejas e logo me sentei me mesa da cozinha, ela puxou a cadeira e fez o mesmo. - Meu pai já falou com você? - Sim, tomei café com ele. - Que traidor! - Suspirou e se inclinou. - Bem, eu consegui uma peça, em Malibu, vai uma turma pra realizar ela, porém eu não tinha lugar certo para ficar, meu pai foi logo pondo a carroça na frente dos bois e colocou você na reta. - Ele me disse que você precisa de um lugar para ficar, eu abro minha casa para você Maya, você e minha família e sempre será bem vinda - Eu fiz uma pausa. - Mas devo dizer que eu não fico muito em casa, não tenho hora para voltar ou sair, se tenho paciente eu estou ocupado. Quando eu parei de falar, quando eu encarei o olhar dela ela estava olhando para mim, de uma forma estática e como se estivesse em outro lugar. Houve um silêncio e eu fiquei parado, até que ela voltou em si e focou ainda mais o olhar dela em mim. - Estendi, você deixa então eu ficar na sua casa? - Ela perguntou e eu vi seus lábios se moverem, vi ela passar a língua por eles e logo morder o lábio inferior. Eu apertei a garrafa nas minhas mãos e quase, quase falei um não. - Sim, deixo, lá é grande e tem espaço, creio que vai ficar melhor lá do que sozinha na cidade. - Meu pai falou mais alguma coisa para você? - Eu bebi mais um gole da cerveja e fiquei parado, olhando para a garrafa. - Pode me dizer, porque ele e bem insistente as vezes, ele queria que Sebastian fosse comigo, disse que iria fazer um teatro aqui mesmo e até colocar meu nome nele. - Seu pai pode ser bem ciumento e bem persuasivo. - Doente, isso sim! - Ela soltou uma gargalhada fina. - Mas eu gosto do jeito urso dele, mas as vezes parece um pai psicopata. - Ele é um bom pai. - Quando pega o avião? - Bem, se eu baixar o supermen, logo Maya. - Infeliz! - Sábado a noite. - Ótimo, minhas coisas estão ajeitadas e pronta, só precisava de um teto. - Você vai viajar comigo? - Eu puxei o maço de cigarro do bolso e o isqueiro, de uma hora para outra comecei a me sentir nervoso, aquilo era h******l de sentir. - Vai fumar de novo? - Ela se levantou e do nada puxou o cigarro da minha mão. - Espere eu sair, quero ver ficar seis horas sem um desses - Falou balançando o cigarro no ar. - Prepare a sunga branca, quero conhecer todas as praias do Malíbu no meu tempo livre, tenho uma peça para ser feita e quero terminar a faculdade com esse espetáculo. - Isso é como um trabalho de conclusão do curso? - Exatamente, muito mais flexível para os aluno, e uma forma que uma parte da turma escolheu. - Na minha época não havia trabalho assim, eram trabalhos que deixavam alunos sem cabelo, com olhos fundos ou com batedeiras, sem unhas ou psicológicos. - Nicolau você é um médico cirúrgico, eu estou estou estudando comunicação - Ela sorriu. - E bem diferente. - Certo. - Vou organizar o resto das minhas coisas, no sábado te encontro no aeroporto, vou levar a comitiva ou tentar não levá-los - Ela revirou os olhos e puxou a garrafa. - c*****o! Espero nos darmos bem, recuperar esses dois anos, você e alguém que eu guardo coisas muito especiais. - Eu também - Ficamos um olhando para o outro, sem falar mais nada. Não foi estranho, porque ela também olhava para mim. - Na sua casa tem cerveja todas as manhãs? - Isso e muito mais - Quando me vi eu mordi minha língua, tão forte que não deu para esconder, doeu e eu senti o gosto de sangue na minha boca. - d***a! - Me levantei e fui direto para a pia, onde precisei beber uma golfada de água das grandes. - Como consegue morder a língua, Nicolau?! - Quando eu notei Maya estava ao meu lado, com uma das mãos no meu ombro e outra no ar, até meu rosto, onde ela segurou e virou em direção ao dela, mas distante o bastante. - Deixa eu ver, coloca a língua para fora. - Não precisa disso, foi um erro de assimilação minha, um deslize - Ela sorriu e continuou com aquele bendito sorrisinho no rosto, olhando para mim. - Um cara da sua idade se enrolando com a própria língua, que f**o Nicolau, muito f**o moço - E ela se afastou. - Agora eu preciso ir, preciso resolver algumas coisas e no sábado nos vemos, vamos manter contato, não se afasta mais, porque e r**m não ter você por perto, mesmo sabendo que você pode quebrar a cara de alguns cara. - Não fala isso. - Claro que falo Nicolau, você e muito estourado - Ela foi caminhando de volta para a sala, onde pegou a bolsa e foi indo para a porta. - Acha que não sei do seu passado, meliante? - Conrado Maldini e um fofoqueiro. - O melhor - Eu abri a porta e antes dela conseguir sair ela se aproximou de mim. - Você está muito diferente, mas gosto de você, então devo ficar do seu lado, coisa que não vai difícil, você e um homão da p***a! - Maya?! - É sério Nicolau, olha para você, essa camisa branca, deixando você sexy e imoral - Ela piscou para mim em tom de brincadeira. - Posso fazer uma pergunta? - Faça. - Você tem o ovo, dentro do outro tem a parte branca, como chama a outra mesmo? Esqueci... - Gema? - Maya deu um gemido alto pra caramba diante mim. - Você não fez isso - Ela caiu na risada. - Credo Maya, isso não se faz. Eu apertei a maçaneta sem acreditar naquilo. - Se tiver namorada avise que eu estou chegando. - Isso é o jeito que encontrou para perguntar se eu tenho alguma mulher? Dona Linda já tentou isso - Ela balançou a cabeça e se atentou a mim, eu pensei em falar a verdade, que eu era um lobo que andava sozinho, mas que sempre precisava comer algo, mas eu só sorri, implicante e seguro do que eu ia falar. - Sim Maya, eu tenho alguém. Eu não mexi um músculo que fosse, não pelo que eu havia falado, mas pela forma que ela deixou o sorriso ir embora, se aproximando em mim e me dando outro abraço e logo, logo me dando um beijo, um beijo na bochecha. Senti a boca quente dela, senti o cheiro dela, do cabelo dela, senti as mãos dela no meu peito, senti o corpo dela se inclinando até o meu. Não tinha muitos músculos se movendo naquela hora, era mais o miocárdio e os corpos esponjojos do meu p*u dentro da calça. - Pensei que não namorava, não falou nada para ninguém - Ela suspirou. - Te vejo sábado. - Até logo - Eu suspirei e vi ela me deixando ali e indo para longe, logo eu não vi mais ela e pude fechar a porta. Inferno do caramba, por quê tinha que ser tão difícil? Você está perdido Nicolau. Me sento no sofá e fecho os olhos, passo a mão no rosto e olho para o lado. E ali está Maya, quer dizer, algo dela. Vejo o casaco preto e aí dou um sorriso, um sorriso daqueles que falam o quanto estou perdido, mas ao mesmo tempo satisfeito. Gracinha, olha Nicolau entrando em problemas, coisa linda, maravilhosa. Eu respiro fundo e fico paradinho, pensando em tantas coisas e ao mesmo tempo em nada.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD