CAPÍTULO 1

1670 Words
NICOLAU Eu não devia estar sentado em uma mesa em plenas oito horas da manhã com um homem loiro alto e barbudo, não devia, mas estou. Estou com uma xícara de café na minha frente, café amargo, puro, aquele tradicional. Não havia mais nada da minha parte para o café da manhã, agora, se olhar para o homem do outro lado sobre o meu café, bem, vocês vão ver duas grandes panquecas com a calda tradicional e ao lado um suco, um suco de framboesa, o preferido dele. Eu estou bem quieto, bem, na verdade por fora estou calmo e muito passivo, como se eu estivesse assim, eu devia estar, mas depois de uma frase dita eu já não podia me expressar da forma que eu queria. Depois de dois anos o bom filho a casa torna. Então o que Nicolau deve fazer? Fazer o que ele sempre fazia, ficar na dele e só assim ninguém saberia do seu segredo mais obscuro. Embora ir embora daqui tem sido uma saída mais coerente e certa a se fazer. - Deixa eu ver se eu entendi - Pedro Leonel era bem persuasivo, então eu devia me atentar a isso. - Quer que eu receba Maya em minha casa para vigiar ela, durante um semestre inteiro? - Eu não me mexi, fiquei parado. - Não Pedro, não posso, lamento. Faz quase dois anos que não nos falamos direito, desde... você sabe. - Qual é Nicolau? Você é praticamente o tio dela - Eu suspirei fundo, porque só aquela palavra me assustava. - Somos primos segundos. - Não vou deixá-la ir para uma cidade longe de mim ou longe da segurança que precisa. - Ela não é mais criança, já é uma mulher e você não pode tentar fazer isso. Conheço aquela garota desde pequena e sei que não vai aceitar isso, mas deve. Ele sorriu. Eu sabia que Pedro sorrindo poderia significar vitória, mas ele não ia mudar minha ideia com a dele, não dava, era inconcebível. - Ela aceitou. - O que?! - Ok, talvez eu tenha ficado surpreso, então eu puxo o café e dou um gole, só para limpar a garganta e a fodida sensação de medo e... empolgação, sensação que tem que ir para a casa do c*****o. - Sim, falei com ela ontem, ela estava meio em negativa, mas acho que depois de um tempo ela já esqueceu aquele dia, mas compreendeu e disse que pensaria melhor, então, como você já conhece ela, ela vai aceitar e você vai aceitar, eu fico em paz e pronto. Todo mundo mundo sai feliz. Pra ele foi simples. Eu não vou aceitar. Isso é errado. E como por uma faca na mão de um assassino. Como colocar uma garrafa na mão de um bêbado. Como colocar uma roda em um carro... Não, perá aí, caramba! Como colocar Maya Maldini nas mãos do nobre Nicolau Maldini. Alguém avisa ele que ela não pode ficar perto de mim? Maya Maldini não podia ficar perto de mim, meu objetivo era mantê-la longe, ela era família, minha família. Apenas isso. Mas algo dentro de mim não achava isso. - Por que não aluga uma apartamento ou algo assim para ela, compra uma casa! - Confio em você, você vai proteger ela, como fez a dois anos atrás, você representou os homens da família com aquele sacode no garoto - Eu olhei sem entender, a menina tinha 22 anos hoje, então era coisa da cabeça de Pedro, aquilo e outras coisas que ele fazia com Maya. Era sufocante ver ele cuidado dela, como se fosse colocar ela dentro de uma bolha e nunca mais tirar ela. - Fico contente que aceitou, sei que você tem seu trabalho, mais só quero saber que ela vai estar em um lugar bom e seguro. Ah, m***a. Pedro Leonel passou a me considerar um protetor inigualável depois que dei uns soco na cara do garoto, então isso faz ele confiar Maya a mim, logo eu. O cara que gosta da filha da filha dele. Isso é errado. Deus tá vendo. - Eu quase não fico em casa. - Eu sei que seu bisturi não para, mas pensa comigo, não acha mais seguro manter ela em uma casa conhecida do que sozinha? Penso nos predadores, pensou isso, Nicolau? Caramba, eu sei que estou fodido porque eu só consigo pensar em mim mesmo como o predador, isso é auto flagelação caramba. - Pensei. - Nico, eu confio na minha filha, não confio nos homens que ficam perto dela. E aí eu dei uma gargalhada, enquanto assimilava aquilo e olhava Pedro devorar uma das panquecas. Aquilo era muito ironia. p***a, por Deus! - Eu sou homem. - Mas é da família, você não tem segundas intenções com ela - Ah, devo discordar, porque com ela já tenho até terceira intenção. - Eu sei que vai mantê-la segura, você tem algo que machuca, lembre-se Nicolau, você é o cara do bisturi, pode deixar muita coisa longe dela. Ok, considero de Maya ser a segunda coisa que Pedro tem mais ciúmes nessa vida, depois da mulher. - Eu uso o bisturi para outros fins, reparar, por exemplo - Eu puxei a carteira de cigarro do meu bolso e olhei para os lados. - Preciso de um. - Você devia parar de fumar cara, isso é errado e faz m*l ao pulmão - Ele sorriu. - Pare de comer besteiras que eu paro de fumar, daqui uns dias você já está com os cabelos todos brancos, não só alguns - Eu me levantei e olhei para o loiro. - Minha casa está de porta aberta, se ela quiser ela pode ir ficar. Eu torcia para ela recusar e ficar longe de mim, porque mesmo depois de anos eu ainda continuo pensando nela. De uma forma forte e inigualável. - Ótimo. - Estou pegando caminho no sábado, sabe onde me achar - Falei e sorri para ele, que fez questão de se levantar para se despedir. - Obrigado, sei que vai cuidar dela como sempre fez, como se fosse sua filha - Eu senti aquele incômodo, mas eu fiz o que sempre fiz. Eu disfarcei, como sempre fiz, como sempre fiz depois de saber que eu gostava da garota de 16 anos que hoje é uma mulher, uma mulher que me tira do eixo só de olha para mim. E nem é o meu tipo de mulher. Era dez anos mais nova e ainda era da família. O pior, ela não faz ideia disso, na verdade, ninguém sabe, porque isso é uma coisa minha. Do fundo. Teve uma época que eu realmente pensei em estar no fundo do poço por causa dela, mas o meu fundo do poço era eu no fundo, junto com água e algumas merdas boiando, aquelas que você da descarga e nunca vão embora. Foi h******l me sentir no fundo do poço por sentir aquilo por ela, ela era do meu sangue, segundo grau, me sentia errado por me sentir atraído e querer fazer ainda mais parte da vida dela. Agora eu estava ali, olhando para o pai dela, meu primo querido e sendo aquilo que eu odeio; falso. - Cuidarei dela, não se preocupe. E aí foi um aperto de mão, me senti incapaz de demostrar mais alguma coisa, só fui demostrar algo quando peguei o táxi e comecei atravessar metade da cidade, até parar em frente ao hotel, uma das torres, onde eu saí do carro e pude ir para a toca, para o quarto e direto para sacada, sem nem ligar para nada, me imaginei tendo uma hóspede em Malíbu, não foi legal ou algo do tipo. Acendi o cigarro e coloquei entre os lábios, fiquei ali parado, tragando e soltando fumaça pelas narinas, pensando o porque de tudo isso, eu havia vindo aqui por uma visita de rotina, agora estava prestes a fazer uma confusão com a minha cabeça infeliz aceitando isso. - Eu estou perdido! - Suspirei e soltei uma golfada de fumaça e segurei uma. Comecei a contar até dez com a fumaça presa. Aquilo me acalmava. Um, dois, três, quatro... - Devia parar de fumar - Eu engoli toda a fumaça, de uma forma que me fez engasgar e me apoiar na sacada, assimilando e tentando pegar a voz fina e reconhecível aos meus ouvidos. Ela. Era ela. - Maya? - Eu me virei rápido. Ali estava. Era ela e assim todos podiam entender o que era Maya, quem era ela e o que ela representava pra mim. O amor, a paixão proibida para mim. Tudo é ao mesmo tempo: Nada. Usando o vestido de bolinha, isso mesmo, um vestido da marca registrada dela, indo até o joelho, sem decote, sem nada que deixava ela a mostra, apenas o vestido, com uma sapatilha, um vestido de bolinha e um cabelo solto envolto dos ombros, uma estatura média e um corpo magro e bonito, com a pele branca como a neve e uma combinação perfeita. Eu subo o olhar e encontro o rosto dela, com olhos miúdos e um olhar preto brilhante, com uma sobrancelha fina e um nariz perfeito, perfeito e bem moldado. Eu mexia em diversos nariz, porque existe uma porcentagem grande de pessoas que querem mudar o nariz, Maya não está nesse número, na verdade eu faço cirurgias a mais de nove anos e nunca aceitaria mudar nada dela, porque para mim ela é perfeita. Eu tenho um padrão sobre quem operar, sobre quem fica na minha mesa, Maya não está nesses padrões, como também não está nos padrões de mulher para um caso na mesa. Então, eu olho para a mulher na minha frente que eu não via a um bom tempo, sentindo a mesma sensação de sempre. Nada mudou. - Senti saudades - Ela se faz presente, com a delicadeza precisa, se aproximando e me abraçando, me apertando com seus braços. Enquanto eu, eu fazia o mesmo, porque era isso que eu tinha que fazer. Agir normalmente com ela, como sempre foi.
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