CAPÍTULO 2

1747 Words
O emprego no boteco cobriu bem as despesas que Dakota tinha para pagar. A reforma em um dos quartos do seu apartamento custou caro, além dos móveis para um quarto de bebê. Ela precisava pagar muitas parcelas no cartão de crédito do irmão. Nesses seis meses, ela teve que trabalhar em dois empregos, administrando o trabalho da tarde com o da noite, pagar o aluguel e as contas que fez para o conforto do bebê. Todos os dias, em algum momento do dia, Dakota ia até o quarto do bebê e olhava todas as coisas que comprou para ele. A ansiedade batia forte no peito, não via a hora de poder ter seu bebê nos braços, dormindo no seu próprio berço e recebendo todo o amor e cuidado que Dakota tinha para dar. O processo da adoção demora muito. Dakota teve que se certificar várias vezes de que Sheila não passaria Dominic para um casal melhor do que ela. Até porque Dakota seria mãe solteira, não era rica e não tinha o melhor emprego de todos, mas era uma pessoa boa e Dominic a amava. Ela se lembrava bem de quando deu início a papelada e um casal bonito e com toda certeza ricos, chegou e olhou para Dom , cogitando adotá-lo. Dakota sentiu o maior alívio de sua vida quando Sheila comunicou que já havia um processo de adoção para com o garoto. Se olhassem bem, Dakota tinha tudo para ser uma mãe incrível para Dominic , e quando começou a se envolver nisso, ela percebeu a insegurança que essa responsabilidade causava. As perguntas jorravam, seu cérebro trapaceiro a deixava sem dormir direito, as constantes dúvidas a perturbando: você conseguirá dar conta de tudo? Vai conseguir ser uma boa mãe? Você sabe mesmo o que ele quer quando chora? Todas as vezes que Dakota tinha dúvidas de que seria uma boa mãe, ela se lembrava dos sorrisos de Dominic , de seus balbucios de alegria, sua risada gostosa e de como ele relaxava quando ela lhe dava banho e o fazia dormir. Dakota sorriu para a bebê sentada na cadeira própria para crianças. Ela aparentava ter cerca de 1 ano e meio, seus dentinhos de leite apareceram quando ela sorriu de volta para Dakota. Deixou o pedido na mesa, já pegando o bloco para anotar o pedido da próxima mesa. O desconforto bateu quando notou que havia muitos homens em uma mesa só. Havia duas garotas ali também, uma de cabelos loiros presos em um r**o de cavalo alto e outra com as mechas rosas. A garota de cabelo rosa tinha várias tatuagens espalhadas pelo corpo, visíveis por sua blusa branca de alça. O piercing no septo combinava com ela. A loira parecia usar roupas parecidas, mas não havia indícios de tantas tatuagens. Já os rapazes, todos morenos. Um parecia namorar a garota loira, outro a garota de cabelo rosa, o outro parecia estar desacompanhado e o outro tão entediado que nem mesmo queria dar o ar de sua graça. — Boa noite, o que vão querer? A garota de cabelo rosa poderia parecer antipática se a vissem como Dakota viu: de cara fechada para o mundo, mas ela abriu um sorriso enorme e desejou boa noite também. — Oi! Boa noite. Eu vou querer uma caipirinha de rapadura e croquete de costela. — Ok. Comandas separadas? — Não. Um dos bonitões perdeu uma aposta e agora vai pagar o jantar — Ela disse, animada com aquilo. Dakota sentiu pena do bonitão, mas riu, achando uma graça genuína naquilo. — Certo, o que mais vão querer? Ela anotou os pedidos de todos os outros, e quando ia conferir se precisavam de mais alguma coisa, sentiu uma mão grande tocar suas costas levemente, então uma voz dizer: — Com licença. Dakota saiu da frente rapidamente, dando espaço para um bonitão passar. Jesus Cristo. O cara loiro lembrava alguém. — Vou querer esse tal de Oswaldo Aranha aqui — ela assentiu, ainda um pouco confusa — E de bebida… o da n**a que ninguém tasca. — Ok… — terminou de escrever — Aproveitem o ambiente e se precisarem é só chamar. Qualquer coisa me chamo Dakota. — Obrigada! — agradeceu a garota loira. Dakota continuou atendendo as mesas, estava movimentado na medida exata para um sábado à noite. Não via hora de poder ir para casa e finalmente descansar entre os lençóis cheirosos e macios. Seu corpo estava cansado. O dia havia sido bem longo. Dali a um tempo, precisaria deixar o trabalho e ficar em um só para cuidar de seu filho. E talvez até desse para finalmente atuar como ilustradora nas horas vagas. Não que ela esperasse ter muitas horas vagas depois de ser mãe. No fim do expediente, Dakota viu o grupo de amigos saírem da mesa e irem embora. Não se lembrava de quanto tempo não saía assim, com tantos amigos. Dakota não estava mais cheirosa como quando chegou no trabalho, seu cabelo estava sujo e seu uniforme era comum. A verdade era que ela estava cansada. Cansada do dia, cansada da semana, cansada do mês, cansada do trabalho e cansada da papelada. Ela só precisava de férias, dinheiro sobrando na conta e seu bebê gorducho. Dakota queria conforto. Queria dar conforto para seu filho e estava feliz pelo o que estava conquistando. Não era como ela imaginava estar aos 27 anos de idade, mas também tinha coisas das quais podia se orgulhar. Clicou no botão lateral para a tela acender, podendo ver a foto de Dominic e seu sorriso precioso. Dakota precisava continuar aguentando esses dois trabalhos por ele, pelo bem estar dele. Até porque, já viu o preço da fralda? ෴ Dakota precisou de alguns minutos para finalmente processar. Dominic tinha seu nome. Dominic estava sob sua guarda. Dominic era legalmente seu filho. Dakota era definitivamente mãe de Dominic Duarte. Ela enxugou a lágrima que desceu por seu rosto, sorrindo em seguida. A emoção de finalmente poder ver que tudo fazia sentido de novo era enorme em seu peito, Dakota sentiu vontade de chorar mais quando entregaram Dominic a ela com a roupinha de saída. Todas as crianças tinham uma roupa específica para o dia da adoção, e Dominic estava vestindo-a. — Oi, coração — Dominic estendeu os braços assim que a viu, sorrindo. Dakota o abraçou, fazendo carinho em sua cabeça enquanto dizia: — Vamos pra casa agora. Vamos ser eu, você e Chicago. — Parabéns, Dakota. Eu sei que esse garoto te ama muito e que você também o ama muito. Espero que daqui pra frente sejam só coisas boas para vocês dois. — Muito obrigada. Por tudo. Vou me dedicar a ele agora. Sheila sorriu, fazendo um último carinho em Dom antes de Dakota sair. Dakota pegou somente o que Dominic realmente iria usar, que era sua naninha nova e a chupeta que não largava por nada. Mas ela precisaria comprar outra logo. Ela o colocou no carrinho que havia trazido quando ligaram e disseram que havia dado tudo certo. Deu a chupeta e a naninha para ele. Dominic estava quieto, seus olhinhos um pouco cansados e Dakota podia vê-lo lutar contra o sono. Ele não cedia até que Dakota o pegasse no colo e o fizesse dormir. Dakota tirou o celular do bolso, achando o contato de Dallas . — Ei — ele cumprimentou ao atender. — Oi… eu… queria só te avisar que deu tudo certo. Consegui adotar meu bebê e agora estamos indo para casa — ela riu, tentando conter as lágrimas de felicidade. Houve um silêncio da parte de Dallas , então o ouviu levantar-se da cadeira e fazer barulho nas chaves. — Eu estou indo agora conhecer meu sobrinho. Dakota sorriu mais. Dallas foi o que mais a apoiou, ajudou e esteve com ela nos momentos de dificuldade. Não que seu pai não quisesse um neto, ele só não achava que essa era a forma correta. Delta , como sempre fazia, ficou do lado do pai e deixou Dakota de lado com aquela ideia aparentemente maluca. — Já estou chegando em casa, vem antes que ele durma, ele sempre dorme nesse horário. — Eu chego aí em menos de 5 minutos. Assim que Dakota chegou em seu prédio, foi para o quarto trocar Dominic , o vestindo com um body branco com um pequeno desenho do Darth Vader escrito: o lado fofo da força. Dakota riu. Foi um presente de Larissa , óbvio, e era bonitinho e fresco o bastante para o calor que fazia. Dallas bateu a porta minutos depois. Assim que Dakota abriu, Dallas já pode ver Dominic em seu colo, o encarando sem entender nada. Dominic só conhecia Dakota, todo o resto era estranho para ele. — Ele é ainda mais fofo pessoalmente. Dakota sorriu grande. — Entra aí. Só quando ele já estava dentro de casa que Dakota reparou em suas mãos. Ele segurava uma caixa verde com desenhos de animais e um laço com transparência na mesma cor. — Trouxe um presente pra ele. Antes de pegar, Dakota tentou ver se Dominic queria ir para o colo de Dallas . Ele ficou meio acanhado no início, mas quando Dallas fez uma gracinha mínima para tirar um sorriso dele, logo Dominic foi para o seu colo sem muita resistência. Dakota abriu a caixa, se deparando com vários itens para bebê. Roupinha, mordedor, escova macia, colônia, e até um sapatinho. Ela sentiu vontade de chorar. Porque Dallas estava com ela mesmo que seu pai achasse aquilo uma loucura. — Isso é muito importante pra mim. Muito mesmo. Dallas sorriu. — Fui comprando umas coisinhas ao longo dos meses, acho que esse sapatinho deve servir, comprei um maior pra caso demorasse mais. — Eu amei muito! — ela olhou o tênis Vans a qual se referia, era muito fofo. — Ah, o pai pediu pra eu te entregar isso aqui — lhe entregou um papel. Dakota não entendeu quando viu que aquilo se tratava de uma conta bancária. — Não entendi. Dallas deu de ombros. — É só ele sendo um pai de verdade. Ele fez uma conta bancária pra você gastar com as despesas do neto dele. Disse que agora é de vocês o dinheiro que está aí. Dakota afastou outra lágrima solitária, então riu novamente. Seu pai estava mesmo melhorando. — Ah — falou, como se lembrasse de algo — Ele quer muito conhecer o pequeno Dom . Dakota sorriu, afirmando com a cabeça. Eles fariam uma visita ao avô.
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