O interior da limusine era um santuário de couro e silêncio, um contraste brutal com o palco que acabavam de deixar no Le Fleur. Seraphina podia sentir o calor residual do beijo de Julian nos seus lábios, uma marca que o vinho e a sofisticação não conseguiam apagar.
Ela se virou, quebrando o seu olhar perdido pela janela, e encontrou os olhos de Julian Kaine fixos nela. Não havia mais a máscara de fascínio público; apenas uma calma perigosa, a de um predador satisfeito.
— A Sra. Albright deve estar escrevendo uma obra-prima agora — comentou Julian, sem emoção, como se estivesse a discutir as condições do mercado de ações.
— Ela tem material suficiente para uma coluna inteira — respondeu Seraphina, a sua voz perfeitamente controlada. — A performance foi um sucesso.
— Mas a performance acabou.
O silêncio engoliu-os. Seraphina estava tensa, as mãos apertadas no colo. Ela precisava reafirmar o controlo, restaurar as fronteiras que ele havia tão deliberadamente obliterado.
— O artigo 3.º, Parágrafo B, do nosso acordo matrimonial, cobre as regras de convivência. Inclui a cláusula de não contacto físico no ambiente privado, fora de uma necessidade estratégica.
Julian sorriu, mas o sorriso não atingiu os seus olhos. Era a expressão mais fria que ela já tinha visto nele.
— E qual é a sua definição de "necessidade estratégica", Seraphina? O meu contrato é para o casamento, para o sucesso da vingança e para a sua credibilidade. O Égide foi limpo. Marcus está isolado. O nosso próximo inimigo é a mídia, que precisa de uma história de amor convincente.
— A história de amor termina na porta da frente. O que aconteceu no restaurante foi para as câmaras.
— Errado. — Julian Kaine inclinou-se para ela, o espaço na limusine subitamente diminuído. — O que aconteceu no restaurante foi para Marcus. Ele nos odeia. Ele precisa ver que o nosso casamento é real e a única forma de o fazer é se nós acreditarmos nisso.
— Não me venha com manipulação psicológica. Você agiu para me provocar.
— E funcionou? — O desafio estava em cada sílaba.
Seraphina não desviou o olhar.
— Funcionou como distração. Mas eu não sou uma das suas secretárias, Julian. Eu sou sua parceira de negócios.
— E as parcerias de negócios devem ter confiança. Se você não confia em mim para um beijo público, como pode confiar em mim com o controlo da sua empresa?
A lógica dele era frustrante, um laço de seda.
— Eu não confio em si com as minhas emoções. O nosso acordo exige que elas permaneçam à margem.
Julian riu, um som baixo e rouco que era profundamente perturbador.
— As suas emoções? Seraphina, você não tem sido mais fria com um homem desde que vendeu a sua primeira patente. Não seja hipócrita. Não é sobre emoções. É sobre controlo. E você está chateada porque eu encontrei a única forma de o contornar.
A limusine parou suavemente na garagem subterrânea da torre. O motorista permaneceu imóvel, um fantasma discreto. Eles estavam sozinhos.
Seraphina sentiu uma onda de fúria se misturar com a atração que ela havia tentado enterrar. Ela esticou a mão e agarrou o tecido caro do terno de Julian, puxando-o para mais perto. Ela estava furiosa com ele, mas ainda mais furiosa consigo mesma por ter se permitido sentir.
— Eu sou a única que define os termos do meu controlo, Kaine. E os meus termos são zero contacto.
Julian, no entanto, não resistiu. Ele permitiu que ela o puxasse, os seus rostos a milímetros de distância. Ele exalou, e o seu hálito quente tocou a pele dela. Ela podia sentir o cheiro do Bordeaux e o perfume de sândalo que era unicamente dele.
— Então defina-os. Prove-me que pode.
Aquele desafio era demais. Seraphina não o queria beijar. Ela queria esmurrá-lo, humilhá-lo com a sua indiferença. Mas a sua necessidade de afirmar o domínio foi superada pela faísca que ele havia acendido.
Seraphina fechou o espaço entre eles, os seus lábios colando-se aos dele. Desta vez, o beijo não era encenação; era puro confronto, um duelo de vontades. Ela o beijou com a força de meses de ressentimento, traição e atração reprimida.
O beijo era tudo o que a razão de Seraphina a alertara para evitar. Era apaixonado, possessivo, mas incrivelmente recíproco. Julian pegou na nuca dela, intensificando a pressão, exigindo tudo o que ela lhe negava. A atração era uma onda poderosa, limpando a mesa de todos os acordos e cláusulas.
O beijo durou até que o ar na cabine se tornou rarefeito e os seus corações batiam um ritmo frenético.
Quando ela se afastou, ofegante, a sua mão ainda estava agarrada ao terno dele. Julian a olhou, os seus olhos azuis agora escuros com desejo e triunfo.
— Você falhou. — A sua voz era um sussurro rouco.
Seraphina soltou-o. A derrota era amarga, mas o sabor de Julian era doce, e o sabor da adrenalina era viciante. Ela havia quebrado a sua própria regra, e ele sabia disso.
— O que quer que tenha sido isto, foi um erro. Foi uma demonstração de força, e você tem a sua prova de que eu não sou uma máquina. Agora, a partir de amanhã, o contrato está em vigor novamente.
— O contrato está morto, Seraphina — corrigiu Julian, acenando. — O contrato de papel ainda existe, mas a nossa parceria... ela acaba de ser renegociada. Você não pode beijar-me assim e regressar à frieza do artigo 3.º. Não quando o mundo está a ver a paixão e quando nós a sentimos.
Ele abriu a porta da limusine, deixando o seu lado da cabine em chamas.
— Amanhã, a próxima etapa da vingança começa. E você terá que decidir se consegue manter a sua máscara de CEO fria, sabendo que eu tenho a sua atenção.
Ele subiu no elevador primeiro, deixando Seraphina sozinha na garagem, tremendo ligeiramente. Ela havia procurado a vingança para se salvar. Ela havia se casado com Julian Kaine para se proteger. Mas agora, ela percebeu que a sua maior ameaça não era Marcus Thorne, mas o homem com quem ela se deitava todas as noites no mesmo penthouse.
Seraphina não regressou para a suíte leste naquela noite para dormir. Ela foi para o seu escritório, precisando de mapas, números e códigos de software, qualquer coisa para distrair a mente do toque de Julian. Ela trabalhou até o amanhecer, usando a lógica fria dos negócios como escudo contra a memória quente do beijo na limusine.