A chegada ao Le Fleur não foi sutil. Eles foram recebidos não por um, mas por três recepcionistas, e conduzidos através de um salão abarrotado até a mesa mais cobiçada: a cabine central, projetada para visibilidade máxima. A atmosfera era carregada; todos os olhos estavam neles.
Julian Kaine, agora no papel de marido atencioso, moveu a cadeira para Seraphina e, antes de se sentar, pousou a mão por um momento nas costas dela. Era um toque leve, mas que comunicava posse e carinho à multidão.
— Sorria — sussurrou Julian, enquanto se ajeitava. — Não para mim. Para a sala.
Seraphina obedeceu. O sorriso era fácil, agora que a adrenalina da vitória no conselho havia passado. Eles eram o centro do universo social, e ela sentia-se poderosa.
A mesa era um palco. Julian pediu um Bordeaux caro, recusando-se a olhar o menu, transmitindo uma familiaridade com o lugar que a fazia parecer uma cliente regular.
— A encenação de hoje é sobre i********e e alívio — explicou Julian, mantendo a voz baixa, o tom de conversa particular. — Vencemos. Agora, celebramos a dois. Não vamos falar sobre o Égide, Marcus, ou dinheiro.
— Sobre o que, então?
Julian a olhou, e o brilho em seus olhos azuis parecia quase divertido.
— Sobre você. Sobre mim. Sobre o futuro deste casamento, Seraphina.
O garçom chegou e Julian, sem consultar Seraphina, pediu o prato favorito dela — que ele só poderia saber através dos relatórios de inteligência que possuía.
— Como você sabia? — ela perguntou, a surpresa verdadeira quebrando sua fachada.
— Eu não deixo nada ao acaso — ele repetiu, citando sua máxima. Ele estendeu a mão na mesa e, pela primeira vez, a cobriu com a dele. O anel maciço de Seraphina se chocou contra a pele quente de Julian.
Era o terceiro toque, e este era o mais íntimo. Era privado, sob o pretexto de ser público.
— Por que o toque, Julian? Não há câmeras na mesa.
— Há celulares — ele respondeu, sem desviar o olhar. — E, mais importante, há a Sra. Albright na mesa de canto, a maior fofoqueira da cidade. Ela não pode ver um marido frio. Ela tem que ver o homem que está fascinado por sua nova esposa.
Ele apertou a mão dela levemente. Seraphina sentiu a intensidade do olhar dele, e a atração que vinha se formando desde o beijo na varanda se tornou palpável. Ele não a estava tocando para manipulá-la, mas para convencê-la.
— Fale-me sobre o seu segredo, Seraphina. Não o Égide. O real. — Julian se inclinou. — Por que você permitiu que Marcus tomasse o crédito? Uma mulher da sua capacidade...
A pergunta atingiu Seraphina em um lugar sensível.
— Eu não permiti. Eu estava focada na estratégia, na construção. Eu confiava nele. E no nosso... futuro. Eu pensei que o poder silencioso era mais eficaz. — Ela riu sem humor. — Paguei o preço da ingenuidade.
— Inocência, não ingenuidade. É uma diferença crucial. Marcus não a descartou por ser fraca; ele a descartou porque sabia que você era forte demais para ser controlada. Ele agiu por medo.
A análise dele a surpreendeu. Era perspicaz e lisonjeira.
— E você, Julian? Por que você nunca se casou?
— Eu estava esperando por você — ele disse, a resposta vindo rápida, suave, mas com uma dose de ironia.
— Não use as linhas de roteiro comigo.
— Não é roteiro. — Ele apertou a mão dela novamente, forçando-a a manter o contato. — Eu estava esperando por uma mulher que fosse meu par em inteligência e ambição. A maioria das mulheres neste salão está interessada no meu cofre. Você está interessada em vingança. É uma motivação muito mais honesta.
O vinho chegou, e o garçom o serviu, dando a Seraphina um momento para se recompor. Julian estava jogando um jogo arriscado, misturando a verdade com a performance, e isso estava confundindo Seraphina.
— Você não tem medo de que eu use sua fortuna para os meus próprios fins?
— Não. Se você o fizer, faremos juntos.
Eles passaram a próxima hora conversando sobre viagens, arte, e as nuances da arquitetura de Nova York. A conversa era leve, mas a intensidade era constante. Seraphina percebeu que, pela primeira vez em anos, ela não estava em uma reunião de negócios; ela estava sendo vista e ouvida por um homem que era seu igual.
No final do jantar, Julian se levantou.
— Vamos. Temos que dar à Sra. Albright uma foto para o seu artigo.
No caminho para a saída, ele parou brevemente na frente da mesa, atraindo a atenção das poucas pessoas que ainda estavam no salão.
Ele a puxou para um abraço e a beijou. Não foi o beijo rápido e autoritário da varanda. Este foi um beijo lento, envolvente, destinado a transmitir ternura e posse. Os lábios dele eram macios, mas o abraço era firme. Seraphina fechou os olhos e, por um segundo, esqueceu-se das câmeras, dos contratos e de Marcus Thorne.
Quando ele se afastou, seus olhos azuis estavam quentes e profundos.
— Boa noite, esposa — ele sussurrou. — Você está se tornando muito boa nisso.
Seraphina estava ofegante. Ela não teve que atuar. Ela sentiu.
— Você também, Julian.
— Não me venha com manipulação psicológica. Você agiu para me provocar.
— E funcionou? — O desafio estava em cada sílaba.
Seraphina não desviou o olhar.
— Funcionou como distração. Mas eu não sou uma das suas secretárias, Julian. Eu sou sua parceira de negócios.
— E as parcerias de negócios devem ter confiança. Se você não confia em mim para um beijo público, como pode confiar em mim com o controlo da sua empresa?
A lógica dele era frustrante, um laço de seda.
— Eu não confio em si com as minhas emoções. O nosso acordo exige que elas permaneçam à margem.
Julian riu, um som baixo e rouco que era profundamente perturbador.
— As suas emoções? Seraphina, você não tem sido mais fria com um homem desde que vendeu a sua primeira patente. Não seja hipócrita. Não é sobre emoções. É sobre controlo. E você está chateada porque eu encontrei a única forma de o contornar.
A limusine parou suavemente na garagem subterrânea da torre. O motorista permaneceu imóvel, um fantasma discreto. Eles estavam sozinhos.
Seraphina sentiu uma onda de fúria se misturar com a atração que ela havia tentado enterrar. Ela esticou a mão e agarrou o tecido caro do terno de Julian, puxando-o para mais perto. Ela estava furiosa com ele, mas ainda mais furiosa consigo mesma por ter se permitido sentir.
— Eu sou a única que define os termos do meu controlo, Kaine. E os meus termos são zero contacto.
Julian, no entanto, não resistiu. Ele permitiu que ela o puxasse, os seus rostos a milímetros de distância. Ele exalou, e o seu hálito quente tocou a pele dela. Ela podia sentir o cheiro do Bordeaux e o perfume de sândalo que era unicamente dele.
— Então defina-os. Prove-me que pode.
Aquele desafio era demais. Seraphina não o queria beijar. Ela queria esmurrá-lo, humilhá-lo com a sua indiferença. Mas a sua necessidade de afirmar o domínio foi superada pela faísca que ele havia acendido.
Seraphina fechou o espaço entre eles, os seus lábios colando-se aos dele. Desta vez, o beijo não era encenação; era puro confronto, um duelo de vontades. Ela o beijou com a força de meses de ressentimento, traição e atração reprimida.
O beijo era tudo o que a razão de Seraphina a alertara para evitar. Era apaixonado, possessivo, mas incrivelmente recíproco. Julian pegou na nuca dela, intensificando a pressão, exigindo tudo o que ela lhe negava. A atração era uma onda poderosa, limpando a mesa de todos os acordos e cláusulas.
O beijo durou até que o ar na cabine se tornou rarefeito e os seus corações batiam um ritmo frenético.
Quando ela se afastou, ofegante, a sua mão ainda estava agarrada ao terno dele. Julian a olhou, os seus olhos azuis agora escuros com desejo e triunfo.
— Você falhou. — A sua voz era um sussurro rouco.
Seraphina soltou-o. A derrota era amarga, mas o sabor de Julian era doce, e o sabor da adrenalina era viciante. Ela havia quebrado a sua própria regra, e ele sabia disso.
— O que quer que tenha sido isto, foi um erro. Foi uma demonstração de força, e você tem a sua prova de que eu não sou uma máquina. Agora, a partir de amanhã, o contrato está em vigor novamente.
— O contrato está morto, Seraphina — corrigiu Julian, acenando. — O contrato de papel ainda existe, mas a nossa parceria... ela acaba de ser renegociada. Você não pode beijar-me assim e regressar à frieza do artigo 3.º. Não quando o mundo está a ver a paixão e quando nós a sentimos.
Ele abriu a porta da limusine, deixando o seu lado da cabine em chamas.
— Amanhã, a próxima etapa da vingança começa. E você terá que decidir se consegue manter a sua máscara de CEO fria, sabendo que eu tenho a sua atenção.
Ele subiu no elevador primeiro, deixando Seraphina sozinha na garagem, tremendo ligeiramente. Ela havia procurado a vingança para se salvar. Ela havia se casado com Julian Kaine para se proteger. Mas agora, ela percebeu que a sua maior ameaça não era Marcus Thorne, mas o homem com quem ela se deitava todas as noites no mesmo penthouse.
Seraphina não regressou para a suíte leste naquela noite para dormir. Ela foi para o seu escritório, precisando de mapas, números e códigos de software, qualquer coisa para distrair a mente do toque de Julian. Ela trabalhou até o amanhecer, usando a lógica fria dos negócios como escudo contra a memória quente do beijo na limusine.