A Noite em que o Contrato Ardeu

1201 Words
O silêncio do penthouse era um contraste violento com o pandemônio que haviam deixado no Metropolitan. O helicóptero pousou suavemente e, em poucos minutos, Seraphina e Julian Kaine estavam sozinhos na Galeria de Arte, o espaço neutro que agora parecia carregado de electricidade. Seraphina estava ofegante, não pela escada, mas pelo beijo final. O vestido vermelho era um peso, um lembrete físico do fogo que Julian havia acendido nela. Julian fechou a porta de vidro da suíte Oeste atrás deles. Ele não disse uma palavra. Ele apenas a olhou, e o desejo nos seus olhos era despojado de qualquer estratégia de negócios. Era puro, cru. — Foi um sucesso — disse Seraphina, lutando para soar profissional, embora a sua voz estivesse rouca. — Marcus e Theodore estão terminados. O público acredita na nossa união. — Sim — disse Julian, a sua voz baixa e profunda. Ele deu um passo em direção a ela. — O público acredita. E você, Seraphina? O que você acredita? — Eu acredito no contrato. E acredito que o seu objetivo foi alcançado. Você pode agora dispensar a encenação. Julian riu, um som sem humor. Ele parou a um braço de distância. — Eu não dispenso a verdade, Seraphina. O contrato está morto. Ele expirou no momento em que você me beijou no Le Fleur. Você e eu ultrapassamos os termos do Artigo 3º. Seraphina tirou o grande anel de noivado e colocou-o na mesa de centro. O diamante cintilou sob a luz suave. — Este era o nosso acordo. Eu cumpri a minha parte. Você cumpriu a sua. Está na hora de voltar à realidade. Julian não olhou para o anel. Os seus olhos estavam fixos nos dela. — A realidade é que você não me quer longe. A realidade é que o seu vestido de fogo não é um figurino, é um aviso. Você está a arder, Seraphina. — Estou a arder de raiva por ter sido manipulada! — Não. Está a arder de desejo. E eu sou o único que pode apagá-lo. Julian deu o último passo. Ele pegou nas suas mãos e as afastou do corpo. O vestido vermelho estava a um fio de cair. — O seu controlo, Seraphina, foi uma das coisas que me atraiu. Mas o controlo é uma ilusão. Você está presa a mim. Não pelo contrato, mas pela química. Seraphina não podia mais lutar contra ele. A sua mente gritava regras, mas o seu corpo implorava por rendição. Ela não queria que ele a visse vulnerável. Mas a sua própria traição na limusine havia-lhe tirado essa opção. — Eu... eu não sou um prémio, Julian. — Você é o meu maior prémio. E eu não partilho. Julian Kaine puxou-a para ele e beijou-a novamente. Este beijo não era uma estratégia; era uma invasão de territórios, uma reivindicação. Seraphina soltou um gemido e agarrou-se à lapela do smoking dele, respondendo com a mesma urgência que ele. Ele levou as suas mãos para o fecho lateral do vestido vermelho e deslizou-o para baixo com uma precisão assustadora. A seda escorregou e caiu no mármore, revelando o seu corpo envolto apenas em seda preta e o brilho do anel de noivado que ela não se tinha dado ao trabalho de tirar. Julian pegou nela, levantando-a e apoiando-a contra uma das frias esculturas angulares da galeria, a mesma que Seraphina usava para acalmar a sua lógica. O metal frio da escultura contrastava com a pele quente de Seraphina, criando um contraste arrepiante. Ele a beijou com devoção e fúria, e ela finalmente permitiu que o desejo que ele havia provocado explodisse. A mente de Seraphina se esvaziou de números e cláusulas; restava apenas a fusão de duas vontades implacáveis, a Rainha de Fogo e o seu Rei. — Diga o meu nome — Julian exigiu, a voz rouca, os lábios a roçarem os dela. — Julian... — O nome saiu como uma oração, uma rendição. — A partir de hoje, a única regra é nós — ele murmurou, antes de a carregar para a suíte Oeste, a sua. Seraphina sentiu o chão sob os seus pés desaparecer quando Julian a carregou. O seu corpo estava em chamas, e a rendição foi total. A Rainha de Fogo havia se entregado ao seu Rei na noite em que o contrato de negócios foi irrevogavelmente destruído. A vingança estava quase completa, mas o verdadeiro jogo acabara de começar: o jogo da paixão sem regras. Julian levou-a para o quarto principal da suíte Oeste, um espaço de dimensões obscenas, com vistas panorâmicas sobre a cidade adormecida. Ele a pousou suavemente na cama, uma ilha de seda escura. Ele se ajoelhou e tirou os seus sapatos, depois, com uma lentidão deliberada que a fez prender a respiração, desabotoou o seu smoking. Seraphina observou-o, a sua mente ainda lutando contra a inundação de sensações. A visão do seu corpo musculoso, tonificado, era tão dominante quanto a sua personalidade. Ela nunca tinha visto um homem que possuísse tanto controlo, mesmo no auge do desejo. Julian tirou o resto das suas roupas e subiu na cama, pairando sobre ela. A luz da lua banhava a cena, transformando o quarto num palco íntimo para a sua união. — Você está linda, Seraphina — ele sussurrou, a sua voz carregada de uma reverência que a surpreendeu. Ele beijou-a, e o beijo desta vez foi mais lento, exploratório, como se estivesse a saborear cada momento. Ele beijou o seu pescoço, o seu ombro, a linha da sua clavícula, e Seraphina gemeu, curvando-se para o seu toque. Ela sentia que estava a arder por dentro, e Julian era o único que podia saciar essa chama. Eles passaram a noite na suíte de Julian, uma união de poder e paixão que Seraphina nunca havia conhecido. Cada toque, cada beijo, cada palavra sussurrada era uma reescrita do seu contrato, uma quebra de cada regra que ela havia estabelecido para se proteger. Quando o sol começou a espreitar por entre os arranha-céus, pintando o céu de tons de rosa e laranja, Seraphina estava aninhada nos braços de Julian, o seu corpo exausto, mas a sua mente, paradoxalmente, em paz. Ela sentia um calor no peito que não era apenas o corpo de Julian, mas algo mais profundo, algo que ela havia jurado nunca sentir novamente. Ela abriu os olhos e encontrou o olhar de Julian. Ele estava a observá-la dormir. Não havia malícia nos seus olhos, apenas uma quietude pensativa. — Bom dia, esposa — ele sussurrou, os seus lábios roçando o cabelo dela. Seraphina sentiu o sangue correr para as suas bochechas. A realidade da manhã confrontaria o que havia acontecido à noite. Como ela voltaria a ser a CEO fria e calculista, depois de se ter entregado tão completamente? Julian Kaine, sentindo a sua tensão, apertou-a mais. — Não se arrependa, Seraphina. Não há arrependimentos aqui. Apenas consequências. Ele se levantou da cama, com a mesma graça silenciosa com que se movia. — Temos um longo dia pela frente. O jogo ainda não acabou. Seraphina sentou-se na cama, embrulhando-se nos lençóis de seda. A vingança estava quase completa. Mas o verdadeiro desafio, ela percebeu, era como sobreviver ao homem que a havia ajudado a conquistá-la.
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