As Regras do Silêncio

1508 Words
Seraphina estava de volta à suíte leste no The Residences. Eram duas da manhã. O luxo não diminuía a sensação de estar em uma jaula de ouro. Ela se livrou do vestido Balmain, jogando-o sobre o sofá com desprezo. O diamante em seu dedo parecia brilhar com escárnio. O beijo de Julian Kaine na varanda havia quebrado o acordo de "nenhum toque" em privado, disfarçado de "regra da sociedade". O ato, completamente unilateral, a deixou furiosa e desorientada, sentimentos que ela não podia se dar ao luxo de ter. Ela andou descalça até a galeria que ligava as duas suítes. O contrato proibia a entrada no espaço de Julian, mas ela precisava de ar, e a visão da escultura n***a e angular que ficava no meio da galeria a acalmava. Ela era uma peça de metal frio e lógico. — Não confie nele — Seraphina murmurou para si mesma, citando sua própria regra. De repente, a porta de vidro que dava para a suíte oeste se abriu silenciosamente. Julian Kaine, vestindo apenas calças de moletom cinzas e o cabelo molhado pelo banho, estava parado ali. Ele não parecia o titã financeiro, mas sim um homem que acabara de sair de uma batalha. — Você está violando as regras do contrato — disse Julian, a voz baixa, mas firme. Seraphina se virou, a surpresa a atingindo como um choque elétrico. — Não estou em sua suíte. Estou na área comum. Você está invadindo a minha privacidade, Julian. — Você veio até a beira do meu território. É um convite. — Ele deu um passo para a galeria, a luz suave do corredor realçando o contorno de seu corpo. — E você está linda de sutiã de seda. Seraphina cruzou os braços sobre o peito, sua raiva se solidificando. — Não vim aqui para ser assediada. Vim aqui porque estou irritada por você ter violado o nosso acordo na varanda. Julian caminhou até a escultura, passando o dedo sobre o metal frio. — O acordo de "nenhum toque" é para garantir o seu conforto em casa, Seraphina. Não para sabotar nossa performance pública. Se eu não tivesse agido, a mídia teria nos taxado de parceiros de negócios frios. Marcus teria rido de nós em dois dias. — Mas você me pegou de surpresa! Você me tratou como uma propriedade! — Você é minha propriedade em público, Seraphina. Você assinou o registro de casamento, e eu sou um ator muito convincente. Além disso — ele se virou, e o olhar em seus olhos era perigoso — você reagiu. O comentário atingiu o ponto nevrálgico. Seraphina sentiu o rosto esquentar. Ela havia reagido. Não com repulsa, mas com uma faísca de algo mais perigoso. — Minha reação não foi de satisfação. Foi de choque. E de raiva por ter sido usada. — Não minta para mim — Julian disse, citando a sua própria regra. Ele deu outro passo, e a tensão entre eles era quase palpável. — Se você tivesse se sentido apenas raiva, teria me empurrado. Você hesitou. Seraphina deu um passo para trás. A proximidade era demais. Ela não era uma adolescente; era uma CEO. Mas Julian Kaine tinha uma capacidade inquietante de expor suas fraquezas. — Eu não me importo com o que você pensa que viu. A partir de agora, se você precisar me tocar em público, você me avisa. — E roubar o momento? O toque deve ser espontâneo, Seraphina. Deve surpreender você. É por isso que funciona. Ele chegou à beira do território dela, parando na linha imaginária da suíte leste. — E por que você está aqui, Julian? Não estou na sua agenda. Julian sorriu, o sorriso sumindo rapidamente. Ele segurava algo na mão. Era uma cópia impressa do relatório sobre Marcus Thorne, o mesmo que estava em seu tablet. — O conselho de administração do Égide é composto por abutres. Eles vão perguntar sobre a sua motivação. Eles vão querer saber se essa vingança é apenas rancor pessoal ou se há uma razão financeira. Você não pode parecer amadora. — Eu sou a pessoa mais inteligente na sala, Julian. Eu não preciso de lições. — Você precisa de um álibi. — Ele entregou o relatório. — Thorne não estava apenas desviando fundos; ele estava minando o Égide para fortalecer sua própria empresa, a Thorne Global. A vingança é real, mas a motivação é proteger o Égide. Entendeu? Seraphina pegou o papel. A lógica era impecável. Julian não estava apenas a protegendo; ele estava elevando sua estratégia. — Não me venha com manipulação psicológica. Você agiu para me provocar. — E funcionou? — O desafio estava em cada sílaba. Seraphina não desviou o olhar. — Funcionou como distração. Mas eu não sou uma das suas secretárias, Julian. Eu sou sua parceira de negócios. — E as parcerias de negócios devem ter confiança. Se você não confia em mim para um beijo público, como pode confiar em mim com o controlo da sua empresa? A lógica dele era frustrante, um laço de seda. — Eu não confio em si com as minhas emoções. O nosso acordo exige que elas permaneçam à margem. Julian riu, um som baixo e rouco que era profundamente perturbador. — As suas emoções? Seraphina, você não tem sido mais fria com um homem desde que vendeu a sua primeira patente. Não seja hipócrita. Não é sobre emoções. É sobre controlo. E você está chateada porque eu encontrei a única forma de o contornar. A limusine parou suavemente na garagem subterrânea da torre. O motorista permaneceu imóvel, um fantasma discreto. Eles estavam sozinhos. Seraphina sentiu uma onda de fúria se misturar com a atração que ela havia tentado enterrar. Ela esticou a mão e agarrou o tecido caro do terno de Julian, puxando-o para mais perto. Ela estava furiosa com ele, mas ainda mais furiosa consigo mesma por ter se permitido sentir. — Eu sou a única que define os termos do meu controlo, Kaine. E os meus termos são zero contacto. Julian, no entanto, não resistiu. Ele permitiu que ela o puxasse, os seus rostos a milímetros de distância. Ele exalou, e o seu hálito quente tocou a pele dela. Ela podia sentir o cheiro do Bordeaux e o perfume de sândalo que era unicamente dele. — Então defina-os. Prove-me que pode. Aquele desafio era demais. Seraphina não o queria beijar. Ela queria esmurrá-lo, humilhá-lo com a sua indiferença. Mas a sua necessidade de afirmar o domínio foi superada pela faísca que ele havia acendido. Seraphina fechou o espaço entre eles, os seus lábios colando-se aos dele. Desta vez, o beijo não era encenação; era puro confronto, um duelo de vontades. Ela o beijou com a força de meses de ressentimento, traição e atração reprimida. O beijo era tudo o que a razão de Seraphina a alertara para evitar. Era apaixonado, possessivo, mas incrivelmente recíproco. Julian pegou na nuca dela, intensificando a pressão, exigindo tudo o que ela lhe negava. A atração era uma onda poderosa, limpando a mesa de todos os acordos e cláusulas. O beijo durou até que o ar na cabine se tornou rarefeito e os seus corações batiam um ritmo frenético. Quando ela se afastou, ofegante, a sua mão ainda estava agarrada ao terno dele. Julian a olhou, os seus olhos azuis agora escuros com desejo e triunfo. — Você falhou. — A sua voz era um sussurro rouco. Seraphina soltou-o. A derrota era amarga, mas o sabor de Julian era doce, e o sabor da adrenalina era viciante. Ela havia quebrado a sua própria regra, e ele sabia disso. — O que quer que tenha sido isto, foi um erro. Foi uma demonstração de força, e você tem a sua prova de que eu não sou uma máquina. Agora, a partir de amanhã, o contrato está em vigor novamente. — O contrato está morto, Seraphina — corrigiu Julian, acenando. — O contrato de papel ainda existe, mas a nossa parceria... ela acaba de ser renegociada. Você não pode beijar-me assim e regressar à frieza do artigo 3.º. Não quando o mundo está a ver a paixão e quando nós a sentimos. Ele abriu a porta da limusine, deixando o seu lado da cabine em chamas. — Amanhã, a próxima etapa da vingança começa. E você terá que decidir se consegue manter a sua máscara de CEO fria, sabendo que eu tenho a sua atenção. Ele subiu no elevador primeiro, deixando Seraphina sozinha na garagem, tremendo ligeiramente. Ela havia procurado a vingança para se salvar. Ela havia se casado com Julian Kaine para se proteger. Mas agora, ela percebeu que a sua maior ameaça não era Marcus Thorne, mas o homem com quem ela se deitava todas as noites no mesmo penthouse. Seraphina não regressou para a suíte leste naquela noite para dormir. Ela foi para o seu escritório, precisando de mapas, números e códigos de software, qualquer coisa para distrair a mente do toque de Julian. Ela trabalhou até o amanhecer, usando a lógica fria dos negócios como escudo contra a memória quente do beijo na limusine.
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