O Desenho de um Legado

1237 Words
Após a partida de Leona Hayes, uma calma tensa instalou-se no penthouse. Seraphina estava sentada no home office, encarando o seu ecrã, mas a sua mente estava a reproduzir a cena na sala de conferências: a i********e forçada de Leona, a frieza profissional de Julian e, crucialmente, o calor da sua defesa. O ciúme que sentira era um intruso indesejado na sua vida calculista. Julian entrou na sala, tirando o seu casaco e jogando-o descuidadamente sobre o sofá. Ele parecia relaxado, como um predador após uma caçada bem-sucedida. — Por que me olha assim? — perguntou ele, a sua voz leve. — A Sra. Hayes foi neutralizada. A sua ameaça era puramente social. — Não a estou a olhar. Estou a analisar a sua performance. E a minha reação. — Seraphina admitiu, forçando a transparência que ele exigia. — Senti... ciúmes. É uma variável que não deveria existir no nosso contrato. Julian parou, a sua expressão tornando-se séria. Ele caminhou até à mesa dela e sentou-se na borda, olhando-a de cima. — O ciúme é a forma mais honesta de admitir a posse, Seraphina. E a posse é a base do nosso casamento. Você não estava com ciúmes de Leona. Você estava com ciúmes da possibilidade de eu ter uma parceria secreta que minasse a nossa. — E você estava com ciúmes da minha vulnerabilidade. — Seraphina retrucou, erguendo o queixo. — Você desmantelou-la em público porque temia que o meu ciúme pudesse desestabilizar o nosso jogo no conselho. Julian sorriu, o seu rosto iluminado por uma faísca de adoração. — Exatamente. Você é a única mulher que consegue ver a estratégia por trás do instinto. Sim, temo a sua instabilidade. Mas estou disposto a correr o risco porque você me exige a verdade. Ele deslizou o dedo pela linha do seu maxilar. — Eu sou um homem de compromissos totais. Alice tentou dividir-me. Leona tentou seduzir-me. Você é a única que me exige que eu esteja inteiro. E, em troca, eu dou-lhe a minha lealdade absoluta. Agora, essa variável emocional está resolvida. Podemos voltar aos negócios? Seraphina acenou, aceitando a sua explicação como a verdade mais próxima que ela conseguiria obter. A partir daquele dia, Seraphina e Julian operavam com uma i********e brutal e uma eficiência impecável. O home office tornou-se o coração do seu império. A convivência diária revelou ainda mais camadas. Julian não apenas trabalhava 18 horas por dia; ele era um leitor voraz, com uma biblioteca escondida atrás de uma parede falsa na suíte Oeste. Ele lia história antiga, filosofia política e tratados sobre estratégia militar. A sua ambição não era apenas financeira; era a necessidade de ser um arquiteto do mundo. Seraphina, por sua vez, começou a desarmar-se em pequenos atos. Ela começou a deixar o seu cabelo solto, em vez do coque rigoroso, e parou de lutar contra o facto de Julian a carregar para a cama todas as noites, muitas vezes no meio de uma discussão sobre o orçamento do Égide. A sua paixão era intensa e exigente, uma extensão física da sua batalha intelectual. Certa noite, Seraphina estava a rever os relatórios de performance do Égide — a empresa estava a bater recordes — quando Julian entrou no quarto, vestindo apenas calças de fato de treino. — O trabalho de Sísifo acabou — ele disse, com a sua voz grave. — O Égide está seguro. Marcus está na prisão por fraude fiscal. A nossa vingança está concluída. Agora, Seraphina, o que construímos a seguir? — O que quer dizer? — Seraphina fechou o laptop. — Você me salvou. Eu a libertei. A nossa parceria é a entidade mais poderosa que já existiu no mercado. Mas não podemos passar a vida a gerir ativos existentes. Eu me casei com você para construir um legado. Julian sentou-se na ponta da cama, a sua postura era a de um homem que estava à beira de uma nova fronteira. — Eu tenho um projeto, Seraphina. É arriscado, é ambicioso, e exige toda a nossa atenção. É a nossa verdadeira razão de ser. Ele foi até a sua secretária e trouxe uma planta dobrada, desdobrando-a sobre a cama. Não era um gráfico financeiro, mas o desenho arquitetónico de um complexo de pesquisa e desenvolvimento de ponta. — O que é isto? — É o Projeto Égide Kaine. Não é uma empresa. É uma instituição. Quero financiar a pesquisa em energias renováveis, tecnologia de transporte de próxima geração e inteligência artificial. Quero construir o futuro. Mas quero-o sob o nosso nome. Seraphina olhou para o desenho. Era vasto, utópico e impossivelmente caro. Era a ambição de Julian nua. — Isso custaria biliões de dólares, Julian. E o retorno financeiro é de longo prazo. É um risco louco. — Não é louco. É necessário. Eu tenho o dinheiro. Você tem a visão estratégica. Eu não a comprei para que gerasse lucros de 10% em ativos seguros. Eu a comprei para que ela gerasse uma revolução. Julian apontou para um dos designs no plano. — Você me falou sobre a crise de água que a exploração ilegal de terras raras causou em Angola. O que faria se tivesse recursos ilimitados para resolver esse problema? Eu estou a dar-lhe o cheque em branco. Eu quero que você use a sua mente para criar o bem que Marcus usou para criar o m*l. A proposta de Julian tocou Seraphina num nível que nenhuma aquisição de capital havia conseguido. Ele estava a convidá-la a usar o seu génio não apenas para o dinheiro, mas para a redenção. — E o que você ganha com isto? — Seraphina perguntou, desconfiada. — Imortalidade. O nosso nome na história. E o prazer de ver você a funcionar na sua capacidade máxima, sem a sombra de Marcus. Você se tornará a mãe deste futuro. E eu serei o seu patrono. Ele olhou para ela, e havia um brilho nos seus olhos que era mais poderoso do que qualquer ouro. — Eu não me casei com a CEO do Égide. Eu me casei com a mulher que pode mudar o mundo. É o nosso legado, Seraphina. O que diz? Seraphina estudou a planta por um longo momento. Era o novo campo de batalha, o novo contrato que consolidaria o seu casamento para além das cláusulas financeiras e da paixão. Era a prova de que Julian a via como uma criadora, não apenas uma conquistada. — Eu aceito — disse Seraphina, a sua voz voltando à clareza fria da decisão. — Mas a liderança do projeto Égide Kaine é minha. Totalmente. Eu farei a aquisição de terras, eu contratarei os cientistas, e eu decidirei o orçamento. Você fornecerá o capital sem interferência. Julian sorriu amplamente, o seu triunfo não era por ter ganho a sua submissão, mas por ter ativado a sua ambição. — O controlo é seu. Eu confio no seu génio. Ele beijou-a com uma intensidade que selou o novo acordo. Não era a paixão da vingança; era a paixão do propósito. Eles estavam agora ligados por um objetivo que superava a sua própria vida. A noite avançou com Seraphina e Julian debruçados sobre a planta, transformando a cama no centro de planeamento da sua nova revolução. Discutiram logísticas, riscos políticos e a ética da inteligência artificial. Seraphina sentiu-se mais viva do que nunca, a sua mente a dançar com a dele. O casamento de negócios havia terminado. O casamento de legado havia começado.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD