A vitória silenciosa em Tóquio sobre o Prometeu Desacorrentado deveria ter trazido segurança, mas em vez disso, trouxe uma desconfiança glacial ao penthouse. A análise de dados feita pelo Círculo de Ferro confirmou o que Seraphina temia: o Dédalo, o hacker líder, havia usado um vetor de código-fonte que só poderia ter sido fornecido pelo Dr. Elian Vance. O génio caótico era, na verdade, um traidor ideológico.
Seraphina não confrontou Vance imediatamente. Ela precisava de mais do que a prova do código; precisava de uma confissão ou de um erro fatal para justificar a sua eliminação sem desestabilizar o Projeto Égide Kaine, que estava prestes a finalizar a primeira geração de reatores de fusão.
O ambiente no home office tornou-se tóxico. Julian, o mestre do controlo, sentia-se pessoalmente traído. Ele havia permitido que Vance permanecesse por insistência de Seraphina.
— Você o protegeu, Seraphina — Julian acusou, a sua voz baixa, mas cortante. — O seu génio e a sua simpatia ideológica tornaram-se o nosso maior risco. Eu vou eliminá-lo. Não há lugar para ideologia anarquista nesta estrutura.
— A eliminação dele agora desmantela o projeto, Julian. Não podemos sacrificar anos de trabalho por causa de uma traição que já controlámos. Ele entregou o código, mas subestimou a nossa filha. Ele é mais útil vivo, sob vigilância, do que morto — Seraphina respondeu, a sua lógica era fria e implacável.
Seraphina traçou o seu próprio plano. Ela despromoveu Vance, silenciosa e cirurgicamente, isolando-o do acesso às redes externas e reescrevendo o seu código de fusão para incluir "vulnerabilidades de segurança" adicionais que apenas o Círculo de Ferro podia corrigir. Vance era agora uma peça de xadrez altamente especializada, mas sem mobilidade.
O confronto final, no entanto, foi inevitável. Seraphina encontrou Vance no seu laboratório, o cientista estava visivelmente desanimado com o seu isolamento.
— Você me traiu, Doutor Vance — Seraphina declarou, a sua voz era um bisturi. — Você forneceu ao Prometeu Desacorrentado o código-fonte que quase expôs as chaves de manutenção globais.
Vance olhou para ela, sem negar. A sua motivação não era o ódio, mas a crença.
— Eu não os traí. Eu traí a vossa tirania, Sra. Kaine. A energia limpa é um direito humano, não um monopólio para sustentar a vossa jaula de segurança. Eu estava a tentar libertar o meu trabalho.
— E ao tentar libertá-lo, você condenou milhões à incerteza e ao colapso do sistema. A vossa ideologia é ingénua e perigosa. Vocês confundem o controlo com a tirania — Seraphina retrucou. — Agora, você trabalhará aqui, sob vigilância, para a criação de sistemas de segurança que anulem os seus próprios pontos fracos. O seu génio será a sua penitência.
Vance compreendeu que estava preso. Ele era um prisioneiro de ouro, e a sua única vingança era a sua mente.
A Transição de Aurora e o Despertar
O tempo avançou. Os anos seguintes foram de intensa consolidação do poder. Aos treze anos, Aurora Kaine já não era uma menina prodígio, mas uma adolescente de beleza marcante, a herdeira indiscutível do império. O seu treino era contínuo; ela geria simulações de crises de mercado, dominava a criptografia e falava seis idiomas fluentemente.
No entanto, o isolamento havia se tornado uma prisão emocional. Julian, aterrorizado por qualquer contacto externo, garantiu que Aurora só interagisse com o mundo através dos ecrãs de alta segurança. Seraphina observava a sua filha a florescer intelectualmente, mas a murchar emocionalmente.
Aos treze anos, o seu mundo mudou com a chegada de um novo m****o ao Círculo de Ferro: Elias Thorne.
Elias não era um mercenário; era o filho de um antigo rival de Julian, agora falecido, e um dos melhores especialistas em segurança cibernética e hacking ético do mundo. Julian, numa jogada de poder característica, havia recrutado Elias para garantir que ele não se tornasse um inimigo.
Elias era o oposto do ambiente Kaine-Vance. Ele tinha 19 anos, era alto, moreno, e emanava uma aura de liberdade e desafio. Ele havia crescido no mundo real, nas ruas de Nova York, e o seu respeito por Julian era misturado com uma faísca de rebelião.
Julian instalou Elias numa ala remota do penthouse, encarregado de desenvolver sistemas de contra-inteligência.
Aurora, fascinada pela nova presença, começou a observá-lo através das câmaras de segurança do home office. Elias era a primeira anomalia que ela não conseguia decifrar com a lógica. Ele não era um funcionário; era um fantasma do mundo exterior.
O primeiro contacto foi um erro de Seraphina. Ela permitiu que Elias tivesse acesso temporário à rede de treino de Aurora para instalar um novo software de segurança.
Elias entrou no home office. Aurora estava sentada à sua secretária, a sua postura era de CEO, não de adolescente.
— Desculpe a interrupção. Elias Thorne — ele se apresentou, o seu sorriso era aberto e real.
— Aurora Kaine — ela respondeu, a sua voz era fria e oficial.
Elias, vendo o seu terminal, percebeu o que ela estava a fazer.
— Uau. Você está a correr um sandbox de colapso de infraestrutura? A maioria das pessoas da sua idade está no t****k.
Aurora não soube o que responder. O seu mundo nunca havia sido comparado a uma aplicação trivial.
— Não sou a maioria das pessoas — ela respondeu, voltando ao seu terminal.
Elias não se intimidou. Ele viu a prisão na sua perfeição.
— Não, não é. Mas acho que mesmo os cérebros mais poderosos precisam de uma pausa para saber como se defender de hackers que não querem dominar o mundo, mas apenas querem ser irritantes.
Ele instalou o software e saiu, deixando Aurora com uma sensação que ela não conseguia catalogar. Não era ameaça, nem lógica. Era curiosidade.
A Primeira Quebra da Estrutura
O seu treino com Elias tornou-se um refúgio secreto. Seraphina e Julian supervisionavam as suas sessões, mas Elias, um mestre em código de encobrimento, usava linguagens de programação obscuras para comunicar mensagens cifradas a Aurora enquanto eles trabalhavam.
Ele ensinou-lhe hacking por diversão, a arte de encontrar falhas não por malícia, mas por curiosidade. Ele mostrou-lhe o mundo exterior através de livestreams encobertas em darknet — música, arte, a desorganização bela da vida comum.
Aurora começou a mudar. Ela usava o seu conhecimento do sistema de segurança do penthouse não para otimizar, mas para se esconder. Ela criava loops de tempo falsos nas câmaras de segurança do seu quarto, permitindo-lhe ter 30 minutos de "tempo não monitorizado" para ler os livros proibidos que Elias lhe fornecia.
O seu intelecto inabalável encontrou a sua primeira falha emocional. Aurora Kaine, a herdeira da dinastia Kaine-Vance, estava apaixonada. O seu amor não era lógico; era a primeira e mais perigosa anomalia na sua vida perfeitamente calculada. Elias era o seu Prometeu pessoal, a única pessoa que lhe oferecia a liberdade em troca da estabilidade.
A sua vida de gatekeeper havia acabado de se tornar infinitamente mais complicada. A sua mãe havia se casado por vingança e poder. Aurora casar-se-ia por amor, e o seu amor era a primeira ameaça real ao império.