O Teatro do Noivado

1067 Words
O penthouse de Julian transformou-se num centro de logística frenético. Decoradores de eventos, floristas e chefs de catering circulavam com a precisão de um ataque militar. Seraphina e Julian estavam a planear o evento social da década, a sua festa de noivado que seria, na verdade, uma operação de eliminação de ameaças. Eles estavam na vasta sala de estar, revendo a lista de convidados. Julian estava sentado no sofá, enquanto Seraphina circulava, focada apenas na estratégia. — A lista tem que ser cirúrgica — disse Seraphina, apontando para um nome. — Todos os acionistas que votaram contra Marcus devem estar presentes. E, claro, Theodore Vance. — Ele virá. — Julian disse, sem olhar para cima. — O orgulho de Theodore não lhe permitirá faltar ao casamento da prima com um bilionário. Ele sentirá que tem direito a um quinhão da glória. — Ele não sabe que temos provas do seu envolvimento no desfalque do D'Argent. — E é por isso que ele é perigoso. Ele é um ponto fraco que Marcus pode explorar para tentar descredibilizar a sua vingança. Seraphina, esta festa não é sobre o glamour. É sobre a traição final. Seraphina parou de andar, a sua expressão endurecendo com a menção de Theodore. — Eu quero que o momento seja público. Ele tem que ser exposto na frente de toda a nossa família e dos seus clientes. — E será. — Julian levantou-se e foi até ela, parando perigosamente perto. — Mas para que o golpe funcione, a nossa performance tem que ser impecável. As pessoas têm que acreditar no conto de fadas do casamento. Ele estendeu a mão, e Seraphina hesitou. Ela ainda sentia o rescaldo do beijo na limusine. A regra tácita de "não contacto" no privado estava quebrada, mas Seraphina tentava desesperadamente não sucumbir. — Não me toque, Julian. — Você está a dar as ordens erradas — ele sussurrou, a sua voz baixa e cheia de desafio. — O mundo espera que nos toquemos. E eu não perco o foco. Ele pegou na sua mão e, calmamente, colocou o anel de noivado de volta na palma dela. Seraphina tinha-o tirado para trabalhar, uma pequena rebelião contra o seu papel. — Use-o, Seraphina. É a sua armadura. — É a sua coleira de diamante — ela retrucou, mas deslizou o anel de volta para o dedo. A frieza do metal contrastava com o calor que irradiava de Julian. — A coleira é para Marcus. Em si, é um símbolo de poder. Agora, vamos rever o plano. O Theodore será abordado durante o brinde, quando a atenção da imprensa for máxima. Julian inclinou-se sobre a mesa de centro, lado a lado com Seraphina, analisando o layout do salão de festas que eles haviam alugado no topo do Metropolitan Museum. A proximidade era torturante. O cheiro dele, a sua concentração intensa, era uma distração constante. — Se Theodore tentar fugir... — Ele não fugirá. Eu terei os seus advogados a bloquear as suas contas no momento em que a acusação for feita. Ele estará financeiramente paralisado no centro do salão. A única forma de ele sair é algemado. Seraphina sentiu uma onda de fascínio e medo. Julian Kaine era implacável. — O que você vai fazer quando a vingança acabar, Julian? Vai simplesmente cancelar o nosso acordo? — A pergunta, feita na sua voz mais fria, escondia uma vulnerabilidade surpreendente. Julian Kaine olhou para ela, e os seus olhos azuis eram escuros e profundos. — Você está a ficar emocional, Seraphina. Isso não é bom para os negócios. — É uma pergunta estratégica sobre a longevidade da nossa parceria. — A resposta é: Eu só cancelo o que não é mais valioso. E você, Seraphina Vance, está a tornar-se muito valiosa para mim. A nossa parceria é mais forte a cada vitória. O mercado não vai permitir que nos separemos agora. Ele se afastou, deixando-a com a sua resposta ambígua. Ele a queria? Ou ele apenas queria o poder que ela representava? Ela não sabia qual das opções a perturbava mais. O resto da tarde foi gasto em logística implacável: seating charts que isolavam os aliados de Marcus, e a coreografia exata de onde Seraphina deveria estar quando o brinde fosse feito. Mais tarde, naquele dia, Seraphina estava sozinha na suíte leste, tentando escolher o vestido para o evento. Ela vasculhou o seu closet, procurando por um preto discreto, uma cor de autoridade. Foi então que a sua personal stylist de Julian, Marie, bateu à porta, carregando uma caixa de veludo n***o. — Madame, o Monsieur Kaine enviou isto. Ele disse que é o uniforme para o seu novo papel. Dentro, havia um único vestido de seda vermelha, de um tom tão profundo e vibrante que parecia quase líquido. Era um Valentino, com uma f***a ousada e um decote surpreendente. Era um contraste total com o preto e cinza que ela preferia. Anexada, havia um pequeno cartão, não uma nota, mas um comando em letra cursiva elegante: "Vista a cor do fogo. Marcus não pode pensar que você está fria. O fogo a torna real. JK." Seraphina sentiu a adrenalina do desafio. O vermelho era vulnerável, passional, tudo o que ela tentava esconder. Era um convite para ser vista como algo mais do que uma mente fria. Ela ligou para Julian na linha interna. — Julian, o vestido é inadequado. É demasiado... dramático. — É perfeito — respondeu ele, a voz calma e firme. — A sua frieza é a sua força. Mas, para a sociedade, o calor é a sua prova. Você tem que provar que é a mulher que me levou à loucura. E que eu a levei à paixão. Vista o vestido. — É um erro estratégico. — É um golpe de mestre. Não perca a fé na minha estratégia, Seraphina. O fogo a torna inesquecível. Ele desligou. Seraphina olhou para o vestido. Ela sabia que deveria rejeitá-lo. Ela deveria vestir um dos seus designers neutros para manter o controlo. Mas o desafio dele era irresistível. Ela pegou no vestido vermelho. Ela estava a entrar na armadilha dele, mas ela faria o papel melhor do que ele jamais poderia imaginar. Ela sabia que a festa de noivado não seria apenas a queda de Theodore. Seria a aceitação pública de Seraphina de seu novo papel: a Rainha de Fogo de Julian Kaine, pronta para arder em vingança... e talvez em algo mais.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD