Capítulo 1
- Vai, vai, vai!!! Mão na cabeça... você está sendo preso! - abri meus olhos assustada, me perguntando oque estava acontecendo, quando vi todos aqueles policiais na minha casa, prendendo o meu pai. Eu levantei correndo e abracei-o dizendo para os policiais não levarem ele. Minha mãe me pegou no colo e chorando disse para eu ficar calma que o meu papai logo voltaria para casa. Eu vi meu irmão chorando muito sentado no sofá, enquanto aqueles policiais diziam "Ae Deto, a casa caiu" e riam daquela situação. Eu não sabia o que estava acontecendo, eu tinha apenas 10 anos de idade ...
Minha rotina mudou depois que meu pai tinha sido preso. Eu e meu irmão tivemos que mudar de escola, mudar de casa, mudar nossos hábitos. Todo sábado nós íamos na cadeia visitar meu papai, eu e minha mãe, tinha que ficar nuas, e ficar abaixando e levantando em frente as policiais femininas, elas falam que são normas para que não entre drogas e nem armas na cadeia. Aquilo tinha virado rotina para mim. Mas meu irmão Thiago detestava aquela situação, ele já era bem mais velho que eu, já tinha uns 17/18 anos. E eu via como ele falava com o papai, ele dizia como estava o morro, que estava tomando conta de tudo, minha mãe nem se intrometia quando os dois estava conversando...
Foram-se passando os anos, e eu comecei entender que meu pai foi preso porque ele era um dos maiores traficantes do Rio e de São Paulo, ele comandava um dos maiores morro que existia no Brasil. Eu sabia o quão perigoso era o meu pai, e o meu irmão também, estava no lugar do meu pai, comandando tudo. Eu cresci naquilo, tive que mudar várias vezes de casa, mudei tanto de escola que nem eu lembro por quantas escola passei. Meu irmão foi se tornando o braço direito do meu pai em absolutamente tudo. Ele tinha aliados por toda parte, até mesmo na polícia. Minha mãe era maravilhosa né ? Amava fazer as unhas, cabelos, andava sempre bem arrumada e eu erdei isso dela com certeza. Mas tudo mudou quando eu tinha 18 anos... minha mãe me acordou chorando e me abraçando: - que foi mãe ?
-Filha !!! Seu pai ... - e ela chorava muito, me abraçando.
- Fala mãe, oque aconteceu com o meu pai ? - assustada eu a abracei também.
- ele ...
- fala mãe?
- morreu...
Naquele momento eu chorei tanto, eu gritei dizendo que não, que não poderia ser, e perguntava o tempo todo o porquê. E minha mãe:
- Calma filha, vai ficar tudo bem. O pessoal já resolveu, já acharam quem matou seu pai, eles já pagaram. Foi tudo muito rápido. Mas acabou... - ela passou a mão no meu rosto, levantou chorando, e saiu do meu quarto.
Eu não entendi o que havia acontecido, mas quando eu peguei meu celular, tinha tanta mensagem dizendo "meus pêsames" e perguntas tipo "como aconteceu?", "como ele morreu". Eu ainda não estava entendendo nada. Eu comecei chorar desesperadamente, meu irmão entrou no meu quarto e disse: irmã, agora somos só nós três. - ele sentou do meu lado e me abraçou forte - eu vou cuidar de você, eu prometi pro Pai, vamos ser fortes por ele, tá bom ? Eu te amo.
- Mas o que houve com ele ? Como assim o papai morreu Thiago ? Como ? Eu não consigo entender...
- Entraram na sela dele, ontem de noite por volta das 23h, ele estava dormindo, jogaram água quente no ouvido dele, e depois amarraram ele de cabeça pra baixo com um corte no pescoço. Relaxa irmã, os culpados já foram executados. - ele chorando me falando.
- aaah, não !!! não, não, não!!! não quero acreditar que o meu pai se foi. Thi, por favor, me promete que não vai se envolver com essas coisas erradas que o papai se envolvia, promete que você não vai fazer o que ele fazia ? - ele ficou quieto, e me abraçou, disse baixinho: - eu já estou mais que envolvido minha irmãzinha...
anos se passaram ...
-Acorda Thi!!! Vamos lá organizar minha festa, não é todos os dias que faço 20 anos em...
- p***a Gabi, eu tava no sono mó bom e você vem me acorda assim. - ele resmungou e virou pro lado querendo voltar dormi.
- Ei ... você me prometeu que iria fecha a rua principal do morro pra fazer um bailão , tá todo mundo esperando em ... Levanta vai, acorda - sentei do lado dele e fiquei balançando.
Ele levantou, olhou pra mim e foi tomar banho.
Sai do quarto dele, peguei meu celular e fui responder os comentários na minha foto no face e as mensagens me parabenizando no whats. Minha mãe já estava preparando o bolo, nunca deixou passar um ano se quer sem canta parabéns para eu e o Thiago.
- Gabi ? Vai compra as velas e uns três refrigerante. Jajá as meninas chegam pra nós cantar parabéns para você. - minha mãe dizia.
- Ah tá, eu já vou já.
- vai logo filha.
- eu já vou mãe. - levantei e fui indo no mercadinho. Cumprimentei os meninos que estavam cuidando da boca, fui no mercadinho do seu João. E todos sempre me receberam muito bem, me deram parabéns, afinal eu sempre fui muito bem educada, sempre cumprimentei todo mundo, mas tinha um muleque que era braço direito do meu irmão Thiago, eu sempre fui apaixonada por ele, eu tinha até vergonha de falar com ele.
- Parabéns Gabi, tudo de bom pra você linda - Natan falou comigo.
- Obrigada Natan. - eu sorri toda sem graça, o menino que eu era apaixonada me deu parabéns e ainda me chamou de linda, embora eu já tenha namorado antes, eu nunca me sentia bem e sempre terminava com meus namorados, mas ele era diferente, nunca tinha beijado, nunca tinha transado com ele, e mesmo assim eu era apaixonada naquele moreno, dos olhos pretos, com aquele boné virado pra trás, me arrancava suspiros.
- O Thiagão vai fazer um baile pra comemorar seu aniversário né ?
- Vai... vai sim. Você vai né ?
- Mas é claro, você acha que eu vou perder a festa da mulher mais linda do morro ? - ele sorriu e que sorriso canalha daquele menino.
- Ah bom, agora deu ... até parece que eu sou linda desse jeito...- e comecei andar, e ouvi meu irmão da um grito:
- Ae Natan vacilão... sai fora de perto da minha irmã seu fdp.
E eles começaram a zuar um com o outro e da risada. Eu segui até o mercadinho, cheguei lá, cumprimentei a dona Clotilde e o Seu João, peguei oq eu tinha que pega e paguei, dei tchau e na volta para casa, vi um cara falando no celular atrás do poste, eu voltei no mercado e fiquei olhando pra ele. Eu nunca tinha visto ele na minha vida, eu estava quase certa que era algum policial desfarçado. E eu conversando com o seu João, minha mãe entrou no mercado, dizendo porque eu estava demorando tanto, e que foi compra um leite. E eu me conversando com eles acabei me desperçando do moço.
Eu saí do mercadinho com a minha mãe e ouvi dois disparos em nossa direção. Eu me assustei e eu vi muita gente correndo. Quando eu olhei pro lado, minha mãe estava no chão. Aconteceu tudo muito rápido...
- Meu Deus !!! - comecei gritar - me ajudem ... minha mãe, minha mãe !!! Mãe me responde, mãe.
Tinha muito sangue, eu larguei as sacolas no chão e comecei gritar por socorro. Não demorou muito para várias pessoas vim socorrer ela. E meu irmão apareceu, ficou desesperado me perguntando oq tinha acontecido, eu olhei pro lado e o moço que estava falando no celular, tinha desaparecido. Eu disse que não sabia, que do nada ouvi dois disparos e quando olhei tinha acertado minha mãe.
Fomos com ela para o hospital. Os médicos disseram que um dos tiros perfurou o pulmão e o outro tinha acertado a coxa esquerda dela. Eu não queria sair de lá nem por um segundo. Só queria saber se minha mãe iria sair dessa. Mas as horas foram se passando e nada de boas notícias. Os médicos diziam que o caso dela era grave, e que ela poderia falecer a qualquer momento. O Thiago estava louco, queria saber a qualquer custo quem tinha atirado em nossa mãe, e eu falei desse homem suspeito. Ele já avisou no morro todo pra ficar esperto. Mas naquela altura, era impossível descobrir quem era o moço, ele tinha desaparecido. O Thiago foi atrás de quem era, viu as poucas câmeras que tinham La na favela. E nada foi encontrado... o desespero em mim só aumentava. Já passava das 22hrs, não tínhamos notícias de quem atirou e nem de como seria, se minha mãe iria melhorar ou não.
- Gabriela Amorim? - o médico me chamou.
- Sim, sou eu. - eu respondi já tremendo.
- me siga por favor.
- cadê minha mãe ? ela está bem Doutor ?
entramos em uma sala, e ele sentou na cadeira, dizendo para eu sentar e me acalma. Eu já estava esperando o pior...
- infelizmente, a notícia que eu tenho não é boa. Fizemos de tudo, a cirurgia foi concedida com sucesso, porém sua mãe não resistiu, logo depois da cirurgia, ela teve duas paradas cardiorrespiratória e veio a falecer.
Naquele momento eu paralisei, eu fiquei em choque. Há 2 anos e meio tinha perdido meu pai, e bem no dia do meu aniversário perdi minha mãe. Eu comecei chorar tanto, eu liguei pro Thiago: - Thi ... - e o choro tomava minhas palavras.
- Que foi Gabi? Fala, pelo amor de Deus responde...
- A mãe... - chorando muito
- Não precisa termina. Estou indo aí.
E então passou-se alguns minutos e o Thiago chegou, ele me abraçou e o tempo todo pareceu está forte. Ele olhou para mim e disse: irmã? eu vou cuidar de você, pode ficar tranquila.
Passou-se as horas, fizemos o velório e o enterro de nossa mãe, a favela toda estava lá, e eu estava despedaçada, minhas amigas estavam lá também, me dando a maior força, meu irmão estava arrasado. Perdemos nosso bem mais precioso...