Capítulo 1 – O Novo Chefe
PRISCILA VALLE
Antes mesmo do despertador tocar, já estou de pé. Mais um dia de trabalho me espera. Olho para o relógio: 5h da manhã. Com um suspiro resignado, saio do quarto e sigo direto para a cozinha, onde preparo o café da manhã para mim e para o meu irmão.
Tudo pronto. Volto para o quarto, tomo um banho rápido e me arrumo com minha melhor roupa de trabalho. Sou secretária do senhor Tomás Velásquez, dono da Velásquez Imóveis.
Hoje será um dia importante.
O senhor Tomás vai se aposentar e entregar seu império ao filho, Thiago Velásquez. Dizem que ele é arrogante, prepotente… Mas também dizem que é de uma beleza estonteante. O tipo que faz mulher tropeçar só de olhar.
Antes de sair, passo no quarto do meu irmão, Brian. Ele ainda dorme, como sempre enrolado no lençol.
— Vamos, preguiçoso! Acorda aí, já tá na hora de irmos. — digo, puxando a coberta dele.
— Ah, sai, Pri… Me deixa dormir mais cinco minutinhos. Cheguei tarde ontem. — resmunga, escondendo o rosto no travesseiro.
— Nem um minuto a mais! Quem mandou passar a noite na farra?
Ele revira os olhos e levanta, resmungando.
Depois do café, Brian me deixa na empresa e segue para a faculdade. Respiro fundo ao pisar no saguão da Velásquez Imóveis.
— Aqui vamos nós… conhecer o novo chefe. — murmuro enquanto entro no elevador.
Sentada à minha mesa, penso em como será daqui para frente. O senhor Tomás sempre foi um chefe admirável — educado, gentil, generoso. Será que o filho dele será ao menos parecido?
Meus devaneios se interrompem quando percebo todos de pé. Olho para o lado e vejo o senhor Tomás chegando com um homem alto ao seu lado.
— Como todos sabem, estou me aposentando por questões de saúde. Quem vai conduzir esta nova fase da empresa é meu filho, Thiago Velásquez. Espero que o recebam e o apoiem como fizeram comigo. Obrigado por tudo! — disse, sempre simpático.
Thiago, no entanto, m*l fez questão de sorrir.
— Espero que todos façam seu trabalho. — disse, seco, antes de seguir com passos firmes até sua sala.
É impossível não reparar nele.
Olhos castanhos intensos, cabelo escuro perfeitamente alinhado, barba impecável. Alto, corpo definido, e aquele terno azul-escuro moldando cada centímetro da sua perfeição.
Mas eu preciso focar. Trabalho é trabalho. E, querendo ou não, agora sou secretária dele.
O telefone da minha mesa toca.
— Por favor, venha à minha sala agora. — diz uma voz rouca e autoritária do outro lado da linha.
Quase tropeçando nos próprios saltos, corro até a sala dele e bato na porta.
— Pode entrar. — ele diz, sem desviar o olhar do computador.
— Com licença. — digo.
— Quero que me deixe a par de tudo que meu pai estava fazendo.
— Certo, senhor Velásquez. Mais alguma coisa?
— Um café. Forte, com pouco açúcar. E pode se retirar.
A frieza dele é como uma parede de gelo. Tão jovem… tão lindo… e tão insuportável. Minha vida não vai ser nada fácil.
Entrego o café, passo todas as informações detalhadas da empresa e volto para minha mesa, afundando nos afazeres até perceber que o dia já passou.
— Pri, minha querida, bora sair mais tarde pra um barzinho qualquer? — pergunta Luna, minha melhor amiga.
Nos conhecemos quando comecei a trabalhar aqui. Ela é divertida, leal e minha parceira de confidências.
— Não posso, Lu. Tenho coisa demais pra fazer em casa.
— Sei, sei… vou deixar você escapar hoje. Mas se continuar assim, vai acabar solteira pra sempre! — brinca.
Dou um sorrisinho e aceno enquanto ela vai embora.
— Até amanhã, Lu.
Estava prestes a pegar minha bolsa quando a porta da sala do chefe se abre.
— Venha até minha sala. — ordena, sem emoção.
Largo tudo e o sigo.
— Pois não, senhor? O que deseja?
— Refazer todos esses relatórios. Preciso deles na minha mesa amanhã, sem falta.
— Desculpe, mas o que tem de errado neles? Já está na minha hora de sair.
— Tem tudo de errado. E você é paga para trabalhar até quando eu mandar. Agora vá e faça o que pedi.
Saio da sala com a raiva borbulhando no peito. Os relatórios estavam perfeitos, revisados e entregues com clareza. Mas ele quer provar poder, e eu… bem, eu preciso desse emprego.
De volta à minha mesa, respiro fundo, coloco os documentos sobre a mesa e recomeço tudo do zero.
Se pudesse, desenhava pra ele entender.
Minha barriga ronca. Ignoro. Vai ter que esperar.
Passa das seis da tarde. Vejo chamadas perdidas do Brian. Ele deve estar furioso. Pego o celular para retornar quando vejo o senhor Velásquez sair da sala, indo para o elevador.
Antes de entrar, ele se vira e diz:
— Pode ir. Mas amanhã, quero tudo pronto na minha mesa.
Engulo em seco.
— Sim, senhor.
Mas uma coisa é certa: esse homem lindo e arrogante ainda vai ter que engolir muito da minha paciência… ou quem sabe, da minha língua também — se as coisas saírem do controle.