Capítulo 1
Ally Menson
Aquela mulher está atrás de mim de novo... Diz que eu baguncei tudo, mas eu não fiz nada. Tento me esconder no quarto, encolhida, mas ela sempre me acha. A mulher alta, velha, com aqueles olhos cruéis, segura um pedaço de arame farpado na mão. Ela me puxa pelo braço e me joga na cama. Eu já sabia: iria apanhar outra vez ou sofreria coisas terríveis, como sempre acontecia.
Mas dessa vez foi diferente. Sem querer, ela bate o arame na minha mão. O corte é profundo e começa a sangrar muito. O mundo ao meu redor se desfaz e, de repente, sinto que me afogo no meu próprio sangue...
Acordo sem ar, o corpo todo suado. Mais uma vez os pesadelos voltam. Sempre ela... a mulher nojenta do orfanato, que não só me fazia m*l, mas também torturava as outras crianças. Um verdadeiro monstro.
Olho para o relógio: 5h da manhã. Está muito frio, mas me levanto mesmo assim. Tomo banho, visto um vestido cinza formal, passo uma maquiagem leve que realça meus olhos azuis e calço meu scarpin preto. Pego a bolsa, a maleta e saio do meu pequeno apartamento onde moro sozinha. Entro no meu Honda Civic preto e sigo para o trabalho.
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Jamie Raphael
O despertador toca às 4h. Levanto sem reclamar, tomo banho, preparo meu café e saio de casa com a mochila nas costas. A chuva fina molha o asfalto. Coloco os fones de ouvido e começo minha corrida diária. Hoje quero ir até a delegacia – são quase 10 km de distância. Sempre gostei do ar livre, de sentir o corpo em movimento.
Meus pensamentos logo se perdem no caso da gangue Canis. Há dois anos investigo essa organização e, quanto mais descubro, mais me intriga.
Estou tão distraído que quase sou atropelado. Uma freada brusca, o barulho de pneus no asfalto molhado. Olho e vejo um Honda Civic preto parado bem na minha frente. De dentro dele, desce uma mulher loira, olhos azuis intensos.
Mulher: – Ei, você não olha o sinal quando atravessa? – ela reclama, o tom revoltado. – Tô falando com você!
Tiro o capuz e ela vê melhor meu rosto.
Jamie: – Me desculpe, estava mesmo desligado.
Mulher: – Huum... E você está bem?
Jamie: – Sim. Consegui desviar, não me aconteceu nada.
Mulher: – Que bom... – ela olha para o relógio no pulso. – Preciso ir, estou atrasada.
Jamie: – Tudo bem... eu também tenho que ir.
Ela volta para o carro e parte. Fico parado por um instante, observando. Que mulher impressionante... Será que vou vê-la outra vez? Não sei. Espero que sim.
Chego à delegacia ainda pensando nela. No meu escritório, tomo outro banho, visto uma camisa social azul-claro, terno cinza (sem gravata), calça jeans preta e sapatos sociais. Arrumo o cabelo castanho no espelho e sento à mesa. Espalho os papéis da investigação sobre a gangue Canis. O mesmo nome de sempre aparece: Donny.
Ele é quem paga, recruta, negocia. Não temos fotos, apenas descrições: alto, muito forte, careca, cheio de tatuagens, sempre de óculos escuros. Ao que tudo indica, um ex-policial. Um fantasma que há anos nos provoca.
Às 8h, meu assistente chega. Kenny, 23 anos, alto, magro, cabelos pretos ondulados caindo na testa. Inteligente, mas às vezes desligado demais.
Kenny: – Senhor, aqui está o relatório. Quer que eu mande comprar as coisas agora?
Jamie: – Não. Deixa que eu mesmo vou.
Kenny: – Certo, senhor.
Saio com os documentos. Meu carro já está na porta – Kenny buscou para mim. No endereço indicado, enfrento trânsito, dificuldade para estacionar e uma fila enorme. Aquela empresa era mesmo movimentada. Consigo o que preciso e ainda marco uma reunião de renovação de contrato. Infelizmente, terei que ir pessoalmente. Nunca gostei de reuniões.
De volta à delegacia, sigo nas investigações. O tempo passa rápido. Quando percebo, já são 20h. Pego o terno pendurado na cadeira e me preparo para sair. Então Kenny entra apressado:
Kenny: – Senhor... a Canis está atacando o Banco Central!
Jamie: – Onde?
Kenny: – No centro.
Jamie: – Aquele que dizem ser o mais seguro... Essa gangue está pior a cada dia. Parece que faz questão de debochar da nossa cara.
Kenny: – Da nossa cara?
Jamie: – Sim, Kenny. Da cara das autoridades.
Kenny: – Ah...
Não consigo evitar um sorriso. Às vezes ele é realmente engraçado. Pegamos a viatura e seguimos até o banco. Ao chegar, nada parece errado. Fachada silenciosa, portas fechadas. Estranhamente calmo.
Me aproximo de um policial no local.
Jamie: – Como souberam do assalto?
Policial: – Uma senhora ia entrar. Pelo vidro, viu todos quietos, sentados no chão. Voltou correndo e nos ligou.
Jamie: – Entendi... Já tem negociadores?
Policial: – Ainda não.
Jamie: – Eles exigiram alguma coisa?
Policial: – Também não. Estão... apenas quietos, senhor.
Um silêncio estranho paira no ar, e sinto que algo muito errado está prestes a acontecer.