De noite a casa estava vazia, o que era raro. O silêncio soava quase estranho, como se o ar tivesse esquecido o barulho constante da voz da minha mãe, dos estalos do isqueiro, do som da TV gritando nas madrugadas. Pela primeira vez em dias, o espaço parecia respirável, já que ela tinha sumido desde ontem. Prendi o cabelo de novo, sentindo o calor grudando na nuca. Tirei o arroz da prateleira, a sardinha da lata e quebrei dois ovos num prato fundo. O som da casca batendo no vidro encheu o cômodo, e aquele barulho simples me deu uma sensação estranha de normalidade. Enquanto a panela esquentava, lavei um pouco de arroz, a água escorrendo branca pelos dedos. Tentei não pensar em nada, nem na minha mãe, nem no caveira, nem no que viria depois. Só queria sentir o cheiro do alho dourando, o ól

