As semanas passaram como se cada dia tivesse o peso de um mês inteiro. O tempo parecia se arrastar, não porque o mundo parava, mas porque eu tinha que continuar, mesmo sem ter forças. Mesmo sem ter escolha. Eu acordava cedo, todo dia. Antes mesmo do sol rasgar o céu, eu já estava na rua, com o saco de nylon no ombro, caminhando de cabeça baixa pelas vielas. O corpo doía, as costas começavam a pesar com o crescimento da barriga, mas eu não parava. O barraco continuava o mesmo: pequeno, abafado, o cheiro de cigarro e álcool impregnado em tudo. Minha mãe ia e vinha, quase sempre drogada demais pra perceber qualquer coisa além do próprio vício. Quando estava em casa, ficava jogada no sofá, falando sozinha, com o olhar perdido. Às vezes dormia por dois dias seguidos, outras vezes sumia na rua

