Entrei em casa com Caique apertado contra o peito, os bracinhos encolhidos e o cheirinho doce de bebê recém-banheirado grudado na minha blusa. A porta rangeu como sempre, e o bafo quente de mofo e cigarro me atingiu como um soco no peito. A luz fraca da sala piscava, e o som de risada arrastada veio primeiro, antes mesmo do cheiro. A visão veio logo em seguida. Minha mãe. Deitada no sofá. A saia arregaçada até a cintura, as pernas abertas, um cara em cima dela, um desses trastes que vêm, gozam e vão embora sem nem lembrar o nome da rua. Ela gemia alto, a cabeça tombada pra trás, um cigarro apagado no canto da boca e uma garrafa de cachaça quase vazia equilibrada no chão. Dois segundos de paralisação. Dois segundos que pareceram uma eternidade. — Que p***a é essa... — murmurei pra mim m

