47. Mariana

1133 Words

Começou sem que eu percebesse, como viram hábito as coisas que salvam a gente por dentro: dia sim, dia não, eu pegava o primeiro ônibus depois das sete e seguia até o hospital. Era uma conta silenciosa que eu fazia com o calendário, riscando na cabeça as manhãs em que eu podia ir, as manhãs em que eu precisava ficar. No fundo, eu sabia que era loucura, grávida de quase trinta e oito semanas, barriga baixa, o quadril latejando, mas era a única forma de eu respirar direito. Eu também aprendi a mentir melhor. Não com palavras grandes, mas com aquelas mentirinhas compactas que cabem no bolso. Às vezes eu deixava o celular carregando em casa, bem visível na cômoda, para ele "me ver" ali enquanto eu estava longe. Outras, ia com o aparelho no silencioso, sem dados, só para cronometrar o tempo

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