Nos dias seguintes ao jantar, a rotina na loja voltou ao normal — ou quase. O que mudou foi a maneira como o Anselmo começou a aparecer lá com uma frequência que assustava até os seguranças. Antes, ele vinha uma vez por mês, assinava uns papéis, dava ordens e sumia. Agora, aparecia quase todo dia. Sempre sorridente, sempre cheio de assunto, e invariavelmente, sempre me chamando de “meu rapaz”. — Bom dia, meu rapaz! Já tomou café? — perguntava ele, abrindo a porta da copa com a energia de quem tá prestes a inaugurar um circo. — Tomei, seu Anselmo. — Nada de “seu”! Já falei, é Anselmo. A Leila, que tava digitando alguma coisa no computador, levantava o olhar na hora. — Pai, pelo amor de Deus, o senhor não mora aqui. — Moro no coração do povo — ele dizia, batendo no peito. — E, princ

