Eu sempre achei que recomeçar tinha barulho: fogos, plaquinhas luminosas, anúncios dramáticos no céu. Na prática, descobri que recomeço é quase sempre silêncio. É uma sequência de pequenos gestos, um depois do outro, tão simples que a gente nem percebe que está construindo um caminho novo.
Minhas manhãs voltaram a ser rotineiras — e, curiosamente, foi isso que me salvou. Eu acordava antes do despertador, mais pelo cheiro do café da vó do que pelo hábito. A chaleira apitava baixinho, o rádio tocava modão antigo, e ela cantarolava junto, fora do tom, com a maior convicção do mundo.
— Dormiu bem, menino? — perguntava, colocando a xícara na mesa, do meu lado, sempre com um pedaço de bolo de fubá ao lado como se fosse parte do ritual.
— Dormi — eu respondia, e era verdade. O corpo descansava
